
Texto: Jorge Amado
Adaptação: Pedro Vasconcelos e Marcelo Faria
Direção: Pedro Vasconcelos
É com extrema felicidade que posso contar que, certa vez, conversei com o magnífico ator Paulo Autran e pude entrevista-lo para uma revista que publicava na faculdade. Embora a frase a seguir fosse cortada da edição final da entrevista, era algo sempre pronunciado pelo ator: “Digo sempre que atores são do teatro, cinema é dos diretores e a televisão é a arte do anunciante”.
A frase do mestre Autran voltou a minha memória quando, sentado na primeira fila do Teatro Municipal de Araraquara, vi uma das personagens icônicas da literatura brasileira, Vadinho, caminhar até a beira do palco, sentando-se nas escadarias do mesmo – quebrando, assim, a famosa quarta parede teatral – e declamar seu amor por Dona Flor.
Quando se observa um ator em plena ação no palco é que nota-se seu domínio. A intencidade cênica do ator em contraste com o texto escrito. Pontos vitais que fazem atores, como o público, saudarem a arte única do teatro.
Dona Flor e Seus Dois Maridos, peça homônima da obra de Jorge Amado – o baiano que o cânone brasileiro insiste em deixar de lado – estreou em 15 de fevereiro de 2008, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea. A apresentação do dia 2 de junho de 2009, marcava-se como uma das últimas em que Carol Castro interpretava a personagem principal da história, substituída agora por Fernanda Paes Leme.
Nesse curto espaço de um ano, a peça não só esgotou nas casas por onde passou, fez turnê por cidades do interior e foi elogiada pela crítica. Ganhando, com mérito, 3 prêmios Qualidade Brasil (Melhor Espetáculo, Melhor diretor, Melhor Ator de Comédia – Marcelo Faria) e recebendo duas indicações ao prêmio Shell de Teatro. (Melhor Diretor e Melhor Ator – Marcelo Faria).
A produção merece destaque e aplausos do começo ao fim. Com cenários ricos, remetendo-se ao Pelourinho, não faltam cores e adereços detalhados. As canções são de Caymmi, dando um apetite a mais para a obra. Também a imersão do público durante diversas cenas, em que personagens saem do palco, mantém a peça dinâmica e fazem-na fluir muito bem.
A sintonia do elenco central é perfeita. Carol Castro – que me perdoem, é belíssima ao vivo – se desenvolve bem como Dona Flor, a personagem mais complexa do triangulo amoroso. Mostra-se confortável nas cenas dramáticas e carisma nas cenas apimentadas com Vadinho. Como tudo muda com a entrada de outra atriz, fica minha curiosidade em saber se Fernanda Paes Leme manterá a qualidade de Castro.
Duda Ribeiro, que surge apenas no meio do espetáculo, é excepcional em cena, como o marido repleto de escrúpulos e educação de Dona Flor. Tem um timing cômico muito eficiente e contrapõe-se a altura a desenvoltura desejada pela personagem de Vadinho que, de longe, é o grande destaque.
Até mesmo na obra original é significativo a intensidade e o carisma da personagem malandra de Vadinho. Despir-se literalmente para encarar um personagem e, ainda assim, manter-se bem no papel, não deve ser tarefa fácil. Marcelo Faria está incrível como o assanhado primeiro marido de Flor. Debochado e satírico na medida certa, é um dos grandes papéis do ator, provando sua maturidade – afinal, muitos lembram-se do ator apenas como o Ralado da novela Quatro Por Quatro da Rede Globo.
Embora sem a leitura do livro, após a peça procurei-o na estante e constatei que a peça é bem fiel. Muitas vezes mantendo-se original até mesmo nos diálogos arretados de Jorge Amado.
Sua obra, inclusive, precisa ser revisitada. O relançamento pela Cia Das Letras, em belas edições, é uma excelente pedida. Ainda hoje Amado, por possuir obras que oscilam entre o riso e a sacanagem, não é tido como um grande escritor como um todo.
Evidente que é pura bobagem e preconceito de um grupo de críticos que não enxergam na comédia apimentada do baiano uma história profunda e irônica sobre os homens. Basta aprofundar os olhos sobre a peça.
A figura de Vadinho, retrato fiel do povo brasileiro malandro que encontra sua maneira de realizar as maiores façanhas, até mesmo desafiar a morte por um par de pernas. E o que dizer da duplicidade de Flor com seus dois maridos? Há o que refletir em uma personagem que se contenta com o duplo, ainda que Flor busque em Vadinho apenas seu fogo. Estaríamos, também, descontentes a procura de algo a mais? O nobre e o sátiro, água e fogo, a malandragem e a polidez. A espera de nossos Vadinhos e de nossas Flores.

A frase do mestre Autran voltou a minha memória quando, sentado na primeira fila do Teatro Municipal de Araraquara, vi uma das personagens icônicas da literatura brasileira, Vadinho, caminhar até a beira do palco, sentando-se nas escadarias do mesmo – quebrando, assim, a famosa quarta parede teatral – e declamar seu amor por Dona Flor.
Quando se observa um ator em plena ação no palco é que nota-se seu domínio. A intencidade cênica do ator em contraste com o texto escrito. Pontos vitais que fazem atores, como o público, saudarem a arte única do teatro.

Nesse curto espaço de um ano, a peça não só esgotou nas casas por onde passou, fez turnê por cidades do interior e foi elogiada pela crítica. Ganhando, com mérito, 3 prêmios Qualidade Brasil (Melhor Espetáculo, Melhor diretor, Melhor Ator de Comédia – Marcelo Faria) e recebendo duas indicações ao prêmio Shell de Teatro. (Melhor Diretor e Melhor Ator – Marcelo Faria).
A produção merece destaque e aplausos do começo ao fim. Com cenários ricos, remetendo-se ao Pelourinho, não faltam cores e adereços detalhados. As canções são de Caymmi, dando um apetite a mais para a obra. Também a imersão do público durante diversas cenas, em que personagens saem do palco, mantém a peça dinâmica e fazem-na fluir muito bem.
A sintonia do elenco central é perfeita. Carol Castro – que me perdoem, é belíssima ao vivo – se desenvolve bem como Dona Flor, a personagem mais complexa do triangulo amoroso. Mostra-se confortável nas cenas dramáticas e carisma nas cenas apimentadas com Vadinho. Como tudo muda com a entrada de outra atriz, fica minha curiosidade em saber se Fernanda Paes Leme manterá a qualidade de Castro.
Duda Ribeiro, que surge apenas no meio do espetáculo, é excepcional em cena, como o marido repleto de escrúpulos e educação de Dona Flor. Tem um timing cômico muito eficiente e contrapõe-se a altura a desenvoltura desejada pela personagem de Vadinho que, de longe, é o grande destaque.

Embora sem a leitura do livro, após a peça procurei-o na estante e constatei que a peça é bem fiel. Muitas vezes mantendo-se original até mesmo nos diálogos arretados de Jorge Amado.
Sua obra, inclusive, precisa ser revisitada. O relançamento pela Cia Das Letras, em belas edições, é uma excelente pedida. Ainda hoje Amado, por possuir obras que oscilam entre o riso e a sacanagem, não é tido como um grande escritor como um todo.
Evidente que é pura bobagem e preconceito de um grupo de críticos que não enxergam na comédia apimentada do baiano uma história profunda e irônica sobre os homens. Basta aprofundar os olhos sobre a peça.
A figura de Vadinho, retrato fiel do povo brasileiro malandro que encontra sua maneira de realizar as maiores façanhas, até mesmo desafiar a morte por um par de pernas. E o que dizer da duplicidade de Flor com seus dois maridos? Há o que refletir em uma personagem que se contenta com o duplo, ainda que Flor busque em Vadinho apenas seu fogo. Estaríamos, também, descontentes a procura de algo a mais? O nobre e o sátiro, água e fogo, a malandragem e a polidez. A espera de nossos Vadinhos e de nossas Flores.

Eu achava que ninguém mais lembrava do Ralado!
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