terça-feira, 30 de dezembro de 2008

24 Horas, Primeira Temporada

O primeiro dia mais longo na vida de Jack Bauer

Tenho por mim que cada pessoa interpreta um espetáculo artístico da sua maneira, até ai, óbvia constatação. Mas acrescento que a idade também faz a opinião mudar. Eu era novo demais quando assisti a primeira temporada de 24 Horas. Em uma época pré-download, sagradamente eu ligava minha tv com imagem analógica no canal Fox.

Acompanhei a série em tempo real, com seus intervalos comerciais, variações de humor do espectador e eventuais impaciências de quem não quer esperar até 22 horas da noite por um novo episódio.

Aos meus dezessete anos eu já podia afirmar a qualidade da série como excelente série de ação, por isso, nada mais certo, e obrigatório, do que rever a série, mais velho e também em formato digital.

A primeira temporada envelheceu muito bem, em uma grandiosa história de ação. Os núcleos desenvolvidos são muito bem dosados e até mesmo o núcleo que os fãs amam reclamar, o da gracinha sem graça Kim, funciona nesse primeiro ano.

Jack Bauer também é mais humano, não uma máquina de extermínio como se viu nas últimas temporadas. O que é justificado pela sequência de acontecimentos em cada temporada. Mas nesse primeiro longo dia de sua vida, Jack almoça, chora (quatro vezes, ou seja, muito mais do que vários marmanjos já choraram em toda vida) mas, desde já, não dá sinais de chegar nem perto do banheiro.

A premissa da série, para aquele que ainda não conhece e não viveu nesse mundo nos últimos sete anos, é sobre um grupo terrorista que tem planos de assassinar um senador negro que concorre a presidência no dia das primárias americanas. É quando entra em ação Jack, o até então chefe da CTU, Unidade Contra o Terrorismo.

Além da inovação de trabalhar em tempo real, fazendo que um sinal de transito seja ameaçador pelos segundos que se gastam, a série é também responsável por renovar o fôlego das séries americanas que saíram de um grande marasmo e começaram a produzir material de muito boa qualidade.

Ainda que anualmente o fluxo de séries produzidas seja grande, hoje é possível encontrar não só uma gama de séries sobre diversos assuntos mas também uma qualidade elevada em grade parte delas. Que o digam House M.D, Prison Break, Nip / Tuck e afins.

Não render-se a segunda temporada da série, após rever a primeira, é quase uma missão impossível. Mas darei espaço para outras séries por enquanto, para em breve comprar a caixa sonho de consumo com todas as seis temporadas. Mesmo sabendo que as edição não serão as belas edições lançadas em digipack inicialmente, ainda assim é uma bela caixa para quaquer coleção de dvds.




sábado, 27 de dezembro de 2008

Novembro em livros

A lista dos livros lidos em novembro, inaugurando a cotação de 0 a 5 em pilulas de Vicondin.


Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez

Não é preciso ser entendido de Letras para saber que esse livro é um marco, do que, não é nem necessário saber (Mas sabendo, da literatura latino-americana). Ao iniciar a leitura da deliciosa história fictícia da cidade de Macondo e das desventuras da família Buendia, o realismo fantástico de Marquez pouco a pouco narra e dilacera cada geração da família, deixando o leitor com uma impressão amarga dessa cidade que parece atemporal. Um livro denso que já considero um dos melhores na minha lista de livros.





Hamlet - William Shakespeare

Ainda não encontro palavras que possam definir a obra máxima do bardo inglês. Motivado pela encenação da peça com Wagner Moura no papel principal, depois de mais de um ano com a edição pocket com tradução de Millor Fernandes na estante de meus livros, resolvi ler a obra máxima da dramaturgia ou, como diria Harold Bloom, o poema ilimitado Hamlet.

A fluidez do texto e da narrativa com todos seus conflitos entre o jovem Hamlet revoltado com a morte do pai pelas mãos do tio é uma história sublime. Ainda me lembro da sensação de desconforto que tive ao ver a peça e, em seguida, ao ler o texto. Os monólogos do jovem Hamlet são reflexões brilhantes e a metalinguagem criada pelo grande bardo só comprova a maestria com a qual ele escrevia seus textos. Incrível.

"Mostra-me o homem liberto das paixões que o guardarei aqui em meu coração", Hamlet para Horácio.





Bellini e os Espíritos - Tony Belloto

Terceiro livro do personagem Remo Bellini e quarto livro do escritor, guitarrista e marido da Malu Mader, Tony Belloto. Fã do gênero policial, Belloto criou um detetive particular interessante, com as velhas e boas características de qualquer detetive decadente. Porém, suas tramas ainda precisam de mais articulação. Nesse terceiro livro, Bellini investiga a morte de um corredor da São Silvestre que sofreu um aparente ataque no meio da corrida, daí para os desdobramentos comuns - que sempre acho interessantíssimos - das obras policiais. Há cenas com grande clima, mas outras um tanto exageradas acabam por desequilibrar uma trama que poderia ser melhor conduzida como um todo.





O Amor Esquece de Começar - Fabrício Carpinejar

Conheço mais Fabrício Carpinejar pelo nome do que pela obra. De suas poesias li muito pouco e de sua prosa apenas esse livro. O Amor Esquece de Começar não é de todo o mal, são crônicas afetivas que abordam diversos temas inerentes a um relacionamento. Desde as dúvidas de um início de namoro até as separações e brigas. O problema é que as crônicas são muitas e antes mesmo do meio do livro a repetição, não só temática como narrativa, começa a surgir. O livro está mais para acompanhar uma cômoda feminina, lendo uma crônica a cada dia, do que um criado mudo masculino. Mas no final o livro ganha fôlego novamente, as crônicas que fecham o livro, "O que um homem quer?" e "O que uma mulher quer?" são dois belíssimos textos em opostos .





Os Desafios da Terapia - Irvin D Yalom

O psicólogo e escritor Irvin D Yalom é conhecido por seu romance best seller Quando Nietzche Chorou. Nesse livro, o autor deixa a ficção de lado para contar em curtos tópicos diversos casos que já aconteceram em sua longa jornada como terapeuta, bem como apresentar formas de compreender melhor a função de um terapeuta e de um paciente e apresenta os desafios da profissão. O livro, como diz o próprio autor, não tende a ser um livro técnico. É um livro possível de ser lido por um público amplo que esteja interessado no assunto. Como sou curioso a respeito de psicologia o livro caiu muito bem. Simples, bem escrito e todo apuro técnico bem detalhado pelo psicólogo escritor.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sete Coisas

Das listas bobas e divertidas que recebemos, diretamente d`O Jardim Dos Gatos Teimosos.

1) Sete coisas que eu faço bem

- escrever
- cornetar
- tocar violão
- vagabundear
- fotografar
- fazer montagens nos programas de edição
- humilhar as pessoas com palavras


2) Sete coisas que eu não faço e não sei fazer

- cozinhar
- castelo de cartas
- coisas com delicadeza
- Equilibrar coisas
- Fazer malabares com mais de dois objetos
- dançar moonwalker
- arrotar

3) Sete quatro coisas que me atraem no sexo oposto

- inteligência
- beleza
- senso de humor
- sorriso

Já fazem uma mulher incrível.

4) Sete coisas que me irritam no sexo oposto

- burrice
- burrice
- burrice
- burrice
- frescura demais
- chatisse demais


5) Sete coisas que eu digo com frequência

- todo mundo mente!
- isso é idiota!
- e ai, seu gay?
- e tal
- tipo assim
- puxa meu dedo!
- Sim Sim / Não Não


6) sete atores/atrizes que eu gosto

- George Clooney
- Rodrigo Santoro
- Wagner Moura
- Edward Norton
- Selton Mello
- Johnny Depp

7) sete atores/atrizes que eu odeio

- Cameron Diaz
- Nicolas Cage (nos últimos filmes em que ele esqueceu o que é ser ator)

Não consigo pensar em mais


8) sete filmes que eu gosto

- Forrest Gump
- Beleza Americana
- Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
- Os Infiltrados
- Edward, Mãos de Tesoura
- Casablanca
- O Rei Leão


9) sete filmes que eu odiei

(ando vendo muitos filmes ruins)

- Fim Dos Tempos
- A Dama da Agua
- Missão Babilônia
- Alma Negra
- Almas Nuas (com a Pamela Anderson, uma piada)
- Motoqueiro Fantasma
- Perigo em Bangkcok


10) Sete livros favoritos

- O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
- Alta Fidelidade, Nick Hornby
- O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald
- Lolita, Vladmir Nabokov
- A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera
- Pergunto ao Pó e Sonhos do Bunker Hill, John Fante
- Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Marquez


11) Sete coisas legais dos últimos sete dias

- Ter lido o livro "Post Mortem" de Patrícia Cornwell e, assim, descobrir uma nova autora policial incrível.
- Meu queridos patacas Vinício do Santos e Leandro Durazzo serem bem sucedidos em suas provas de mestrado
- Já ter entrado em clima de férias, mas repito, estou de férias faz tempo.
- Ter recebido meu box da quarta temporada do House que veio com uma caneta, caderno e porta remédio personalizado. (sintam inveja fãs nerds)
- O Guns´n Roses terem lançado após muito tempo o cd Chinese Democracy, mesmo que o mesmo seja uma pretensão completa, foi uma coisa legal.
- A terapia em grupo em uma madrugada a dentro com Vinício, Natália e eu.
- Minha terapia individual que sempre me desvenda um pouco mais.


12) Sete constatações inúteis

- Eu gosto do Pato Fu!
- Metade das lojas de Araraquara tem Coara no nome ou as palavras "morada" ou "sol".
- Somos Quatro Patacas mais somos cinco.
- Existe muito mais entre o céu e a terra do que sonha nossa filosofia.
- Eu tenho problemas com pessoas novas no meu circulo, meus amigos sabem.
- Nunca é lupus.
- O céu é azul lá de cima.
- Podia, hein!
- Tchau, to indo, já fui!

domingo, 30 de novembro de 2008

Recesso

Meu amigos vão dizer calúnias sobre mim quando eu disser que as férias estão quase chegando. A verdade é que estou nelas há um certo tempo. Mas oficialmente, pelas notas do calendário elas batem na porta.

E nas férias sempre tendemos a produzir mais. Ficar mais no ócio, ver mais filmes, mais séries, ler mais. E para não deixar meu blog fora disso, resolvi incluir nele uma versão de férias, que estréia nos próximos dias e irá até o final das férias no ano que vem.

A idéia é acompanhar o blog do meu amigo Vinício que faz críticas breves sobre os filmes que assistiu, comenta livros e etc. O que não deixa de ser um exercício gostoso para escrever e mais uma maneira de dar pitacos.

Como no blog dele, assim como no do Arthur, as cotações são todas exclusivas, aqui a cotação que vai de 0 a 5, são dadas por Vicodin, o remédio que viciou o Dr. House.

Para abrir a sessão férias do blog, eu respondo um questionario cretino que o Vinício me enviou. Daqueles coisas que gosto ou não de fazer e por aí.

Férias então, mais sombra e água fresca. O que há de mal nisso?


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pés n´agua.

É hora de corta-me ao meio e entrar dentro de mim. Tantas falas escritas a esse personagem que não sei mais aonde está meu começo, meio ou fim. Revendo minhas palavras não encontro quase nada que não textos usando o papel como apoio para lágrimas.

Sempre escrevi com cortes nas mãos e cordas no pescoço. Sempre aprofundei minhas palavras quando doia-me o coração. A partir disso virei também criador de histórias. Mas sempre permanece uma pergunta que não se cala: como transformar todas essas palavras em um livro, o primeiro de muitos que espero vir.

Temas iguais, histórias com possíveis histórias. Tudo isso requer tempo, paciência, escolha. Observar o que fiz, reescrever e melhorar, para, por fim, prosseguir. Texto a texto até um bom conteúdo final.

Que eu tenha coragem, então, de ir até o fim. Ponta a ponta, mar a mar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Fiz O Que Fiz

Tenho dormido quando o sol acorda, acordado quando a fome vem. Almoçando nas horas mais impróprias, primeiros as sobremesas, depois o prato principal.

Esqueci a televisão, ela me esqueceu também. Deixei de falar com as palavras, que, por venderem quando dão, fugiram. Mas aqui estou, insistindo em compor, compondo nasce canção, penso.

Aposentei a academia real, era inútil. Não saio de meu aposentos, é meu templo. Leio os heróis em seus feitos maravilhosos, são meus nobres sonhos infantis. Tenho fome, meus desejos, tenho sonhos, rezo para morfeus, tenho amor, um metro e sessenta de puro amor.

Estou com as unhas roidas, as carnes massacradas, os olhos mareados, a barriga espandida, gordo, começando a rasgar os tecidos das roupas rotas que compro. Esquecendo de fazer a barba e aparar os pêlos.

Tenho a fúria que devo acalmar, queria fumar cigarro para parecer blasé mas meu vício pelo café já me agoniza pela gastrite. Meus nervos amolecem e relaxam, fazem efeito os narcóticos que me sedam, aos poucos. Quero café da manhã, sol, e sonho somprando-me suas areias.

Meus pés estão no chão, sinto-me mareado, mostra-me o homem liberto das paixões que o guardarei aqui em meu coração, príncipe. Tudo sufoca e se liberta, lágrimas que secam antes de escorrer, meu pânico guardado em mim.

Fiz assim. Não importa.

Tenho andado errado, puxando da direita, estou sentido-me vil. Vi um homem sentado na rua e quis rir sem parar. O ar prende minhas narinas e machuca minha cabeça. Tenho dores de cabeça como quem gosta de celebrar conquistas. Viro doses e doses do remédio na esperança que ele possa vence-la.

Certo, dois e dois são cinco. Me acostumei. Durmo em cama sem lençois, não sei chegar aonde mora meu amor, falta-me dinheiro para as margaridas, sobram-me os restos de meu monólogo.

Já perdi o prazo das contas, o prazo da vida, a hora de rezar os terços. Deixo o dia amanhacer, assim.

Fiz o que fiz.

domingo, 7 de setembro de 2008

No alvorecer do novo dia, sai,
de cinco passos rumo ao infinito
e imagine que um dia tenha fim

Caminhe nos recônditos absurdos
force o raiar do dia com sua luz
trazendo para perto de ti a força armada

No chegar da tempestade
chore pelas gotas que virão
e anseio o renascer sereno do tempo

assim seja seu espírito
uma unção, grande quanto mundo
quanto sua sutileza

Terno, como o carinho das mães
Sereno, como palavras paternas
Doce, como os lábios da filha procurando proteção
Seu, com a vontade maior em sua conquista.

22 de Abril de 2006

* Eu me lembro de compor esse poema em meio a uma festa, onde rasguei uma página velha de uma agenda de minha mãe e comecei a escrever sem parar. Para a transcrição fiz apenas duas ou três modificações que achei válidas, que o tempo melhor ensinou na matéria da poesia. Porém é um poema um tanto quanto romântico, também com a influência do sempre mestre Manuel Bandeira. Ele foi encontrado nesse final de semana em meio à bagunça das gavetas. Por isso, faço um registro nesse espaço, caso eu perca o pequeno papel em que ele foi composto.

domingo, 17 de agosto de 2008

Experimentação

Não gosto do título que eu mesmo criei, devo confessar. Mas últimamente a palavra que pode definir melhor meus textos é a palavra experimentação. Estou procurando inserir novos elementos, a cultura literária que leio, os autores que me influenciaram e vejo que isso tem dado bons textos e me deixado satisfeito com aquilo que produzo.

Percebo que, aos poucos, estou inserindo a narrativa bela e grotesca do gênero policial que tanto gosto e acho tão rico de significados. A linguagem direta que usa a metáfora como um jogo direto de significados.

Tenho permeado também os cenários marginais, as personagens de alguma forma alejadas pela vida. Seja um filho que teve sua vida maltrada por um pai que morreu pelos negócios, um homem que não sabe mostrar seu amor ou personificado em uma personagem que, se virar ficção, tem tudo para ser uma boa personagem.

Com isso sinto-me feliz por dizer que sim, voltei a ter prazer em escrever linhas de ficção, de me divertir escrevendo histórias estranhas, profundas. Entrando em breves lacunas de sentimentos de minhas personagens, vivendo em curtos períodos aquelas vidas criadas por mim mas que já não mais me pertecem.

Ao poucos consigo de novo me nivelar, trazendo de novo a tona meu lado mais turbulento, meu eu criativo louco, lúcido e esquizofrênico. Então, escrevamos.

Bauru, Domingo, 17 de Agosto de 2008.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Só Não Vai Quem Já Morreu

ou vinte e três anos de sonho e de sangue.

Fomos bons e jovens. Sem o rancor ressecado nos lábios envelhecido sob a pele. Tínhamos a juventude como fruto proibido a ser devorado, éramos fortes.

Sentado em roda no chão, rindo da ironia da vida e da benção da união, amigos de mãos juntas como um rio que fluí, esqueço-me até de quantos éramos.

Hoje temos o retrato envelhecido da família na mesa da sala, a marca nos dedos dos anéis que nos enforcaram. Celebramos eternos aniversários a sós. O garfo lavado no dia seguinte, a única fatia solitária de bolo não representa mais celebração. Éramos ingênuos.

Hoje ao deitarmos em nossa solitude, esquecemos de apreciar carinhos e conquistas. Estamos mais fracos, mais velhos, nos enferrujamos. As frases que dizíamos não se encontram mais na boca do povo.

Não éramos reis nem príncipes, mas havia ouro em nossas mãos. Algo que deixamos escorrer como rosas que brotam fora da estação e morrem em dias. Fomos vencidos antes mesmo de estarmos mortos. Agora é tarde demais.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Olhos de Amor e Ódio

Quero apenas estar de mãos dadas, sentindo seu calor. Sabendo que na ausência de seu corpo, os vincos formando minhas mãos são apenas lembretes de que não estas aqui. Quero ser a forma saciável de seus desejos, manancial de mel e sal, do apetite insaciável que tens de me querer como a cobiça deseja o ouro.

Em meu peito sinto o inexplicável, uma fonte mutável e intocada que faz canção a cada segundo. Traz sorriso e me leva as lágrimas a melodia de seus olhos de amor e ódio, pois homem e mulher não vivem apenas de amar e nós, assim também, não viveríamos.

Te quero hoje quanto amanhã. Paciente dia a dia em saber que nessa noite, quando deita o sol, se não te tenho em meus braços, amanhã eles serão sua morada. Pois se nasci, sei que nasci para você minha amada, desejo de amor, ódio e ardor. Vivo para ser seus desejos, emaranhado ao amor como escravo e mestre, atado a minha sede de desejo por ti que não possui rédeas nem escolhas.

Te quero com paciência, vendo as ondas de um solitário mar que há muito naveguei, admirando a fragilidade da espuma que se quebra na praia, habitat que só podemos viver juntos, pois sem amor não somos nada.

Desperto achando que és sonho, mas me acalmo quando ao abrir os olhos observo seu descanso sereno. Tocando lhe a face, fazendo de meus sussurros declarações de amor escondidas pelo seu sono, por sua calmaria.

É onde desejo estar. Dentro de sua calma sem nunca dizer lhe não. Queria ser só de ti, menos meu, mas dentro de mim também grita a vontade de me ser, vivo de carne, osso e sangue. Ser o espírito e a carne, desafiar deuses, ser o filho que desejo ser e o homem de teu seio amado, trezentos em apenas um.

Quero seu bem e seu mal, seu ósculo, seu veneno, quero tudo digerir em meu espírito. Seja bela, seja feia, louca, lúcida, pois também serei a tessitura mais doce e amarga de sua vida. Mas não me dê espinhos, meu amor, que a vida é caminho repleto de castigos, e as dores que já temos no peito são o bastante para sermos infelizes.

Perdoa minha insegurança, medo infantil de perder o ser amado. Perdoa a imprudência de meu amor, por ser ti meu amor primeiro. Perdoa as rugas e cicatrizes.

Eis a matéria de que sou composto, apenas corpo, coração e um amor dilacerado para doar. Aceita meus flancos imperfeitos, meu amor, as dobras de minha carne que já se corroeram, as lágrimas que choro todos as noites quando preciso estar sozinho.

Não me consuma, meu amor, me habite. Me ame com a ternura de uma mãe, a paixão dos amantes, o amor dos velhos enamorados.

Seja minha, pois sou todo seu enquanto desejar.

Araraquara, 30 de Abril de 2008.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Mudando de Planos

A cada dia que passa sinto menos vontade de fazer literatura, e mais vontade de ser apenas um leitor comum.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Via Crucis Literária

Se eu dissesse ser fato às vezes citado, eu mentiria. A verdade é que tenho muito apreço por descrever o que entendo como literatura. Primeiro porque é mais seguro ter seu próprio manual, mostrar aos leitores seu ponto de vista sobre a produção literária. Segundo que também é mais fácil, já que assim sua teoria da composição corrobora com sua literatura.

O fato é que minha inspiração ainda é limitada. Tenho arroubos de idéias geniais e chego a executá-las de modo razoável, mas muito do que escrevo é também uma versão fictícia da minha vida, ou uma versão literária de um acontecimento banal que presenciei.

Às vezes lendo os escritores famosos me pergunto da onde surgiu motivo para tamanha inspiração. Contos fantásticos, contos urbanos partindo de um ponto simples de um homem comum em meio à metrópole. Rara às vezes sou assim.

Estou cansado de escrever como um todo. O ato diário de ser perceptivo ao mundo que nos cerca, mesmo que automaticamente, e prever uma história, também gera um desgaste. Por isso quero deixar as prosas de lado, apenas escrevendo pelo exercício.

Também tenho refletido a respeito disso, de um diário com minhas memórias e meus pensamentos. Tenho um amigo que mantém um diário há anos mas chego a me questionar, até que ponto devemos confiar nossas idéias a uma junção de narrativas pessoais? Nossas palavras não ficam com o tempo íntimas demais para serem catalogadas em um diário? Não há também certo medo de que algumas daquelas linhas possam ser lidas, sem querer, por alguém além do próprio autor?

Nunca gostei de exposição, embora nesses textos autorais, tudo que faço é simplificar ainda mais minha própria alma. Eu e meu eu lírico literário e seus desdobramentos. Nesse contexto questiono porque tamanha exposição? Qual é a valia de expor seus próprios pensamentos ao mundo, porque não fazer isso de forma reclusa em um diário oculto escrito a mão?

A vontade febril de um escritor em ser lido acaba por distorcer uma imagem reclusa. O que me lembra, por bobagens, a idéia do fuzilamento como sentença de morte. Normalmente quando há mais de um atirador, um deles usa - ou ao menos deveria - uma bala de festim. Possibilitando assim a dúvida em saber quem foi o autor dos tiros que matou a vítima. Esse benefício da dúvida é o que também me faz escrever em um lugar amplo.

Sei que minhas palavras são para ninguém, que prego em uma rua vazia de leitores. Mas a possibilidade de alguém, acidentalmente, talvez, ler minhas palavras me faz continuar a escrevê-las aqui. Assim, de alguma forma, sou também um homem dentro de uma caixa de vidro no centro da cidade, convidando quem quiser a assistir meu espetáculo comum de viver.

A poeta Hilda Hilst, que tenho conhecimento recente e grande apreço, disse em uma entrevista que não considera a profissão de escritor um ofício comum. O questionamento literário é sempre constante e concordando com a afirmação da poeta, não é curioso se perguntar que benefícios teriam minhas palavras em um mundo iletrado? Quantas pessoas não escrevem preciosidades expostas em paredes de concreto onde ninguém passará perto para lê-las?

O que mantém vários escritores de minha geração - creio que a maioria dos escritores em geral - é a gana de querer ser lido. Deixar sua mensagem em um livro que será devorado por quem queira, sem se tornar mais um livro em uma livraria cujos preços são exorbitantes. Mas nos tempos atuais não se diferencia mais o ato de escrever como forma literária do ato banal de apenas escrever, gerando anomalias bizarras como prostitutas que escrevem livros com a nítida idéia de ser literatura.

Hoje eu já desconfio de minha profissão, mas, vejam a ironia, é o único ofício que sei fazer. Não sei carpir, construir prédios, muito menos tirar xerox na esquina, e também não tenho desejos de aprender. Quero apenas prosseguir com o que sou capaz, e a literatura me satisfaz muitas vezes.

Assim prossigo com a via crucis literária, aguardando também novas idéias, produzindo exercícios aos poucos, um pouco distanciado de qualquer grande ou pequeno público. O exercício é também um grande material para novas idéias, novas formas de produzir sua literatura singular.

O que move um escritor como eu, é saber que a estabilidade da minha escrita nos tempos de hoje, pode ser a base de um futuro realmente sólido. Por isso continuo a escrever.

Bauru, Sábado, 5 de Janeiro de 2008.