quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Professora Sem Classe

(Bad Teacher, 2011)
Diretor: Jake Kasdar
Elenco: Cameron Diaz, Eric Stonestreet, Jason Segel, Lucy Punch, Justin Timberlake, Thomas Lennon, Molly Shannon.

A fama de Cameron Diaz surgiu quando seu belo rosto dividiu cena com Jim Carey, em O Maskara. A partir de então sua carreira oscilou entre uma atriz bibelô e poucos momentos em que a atriz marcava presença nas produções que estrelava.

Sem muita popularidade após As Panteras - Detonando, a atriz participou de algumas poucas produções e parece tentar se reafirmar em Hollywood. Estrelou Encontro Explosivo, ao lado de Tom Cruise e participou de Besouro Verde, outra produção pipoca.

Professora Sem Classe é possivelmente um filme formatado como teste de seu carisma. Na trama, Diaz é Elisabeth Halsey, professora frívola que decide se aposentar para casar com um milionário. Como o casamento não dá certo, ela retorna suas atividades de professora com um forte objetivo: aumentar o tamanho dos seios com silicone, acreditando que assim terá mais sucesso para fisgar um bom partido.

A história inicialmente parece uma comédia de costumes, com uma professora de moral duvidosa e casca grossa. Em poucos minutos, a trama envereda para o humor grosseiro e apelativo e não decola pela superficialidade da motivação da personagem.

Segue-se piadas sem nenhum timming, doses exageradas de sexualidade, Cameron Diaz limpando carros semi nua, para manter sua fama de sexy, e uma dantesca cena em que ela e outro professor da escola fazem sexo vestido da cabeça aos pés. Elemento tão grotesco que só faria sentido em um filme de Will Farrell.

Como toda comédia possui um fundo moralizante, após a grosseria surge espaço para o sentimentalismo com direito e um exagerado final feliz. Cameron Diaz pode ainda ser atraente, ter certo talento para algumas produções mas, sem dúvida, como afirma o título em português do filme, realizou uma produção sem nenhuma classe.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Homem Que Mudou o Jogo

(Moneyball, 2011)
Diretor: Bennet Miller
Elenco: Brad Pitt, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright, Jonah Hill.

Uma das características comuns de um filme esportivo é a edificação de sua história. Apresentada como única, com elementos distintos, normalmente baseados em fatos reais, resultando em uma mensagem em seu desfecho.

O Homem Que Mudou o Jogo apresenta Billy Beane. Um ex-jogador, gerente do time de baseball Oakland Athletics que se encontra nas últimas colocações do campeonato. Ao conhecer o economista Peter Brand, que lhe apresenta um programa de estatística sobre eficiência em jogos e jogadores, Beane descobre ser possível montar um time vencedor com a pouca verba que possui. Mesmo contrariando dirigentes, resolve arriscar no projeto.

A produção mostra tentativa, erro e acerto do gerente em gerir um time utilizando este novo parâmetro que, até então, era inédito. Para um público brasileiro que não conhece nada de baseball, torna-se mais difícil ter empatia por uma história que peca pela falta de emoção.

A história é centrada em excesso em Beane e seus dilemas. Perdendo o escopo motivacional dos diversos jogadores que produziram as vitórias para o time. Sem o contato emocional com a trama, ela torna-se apenas bem estrurada, mas fria.

Brad Pitt, indicado ao Oscar de melhor ator, representa bem seu papel. Porém, outros personagens de sua carreira foram melhores compostos. Deixando uma dúvida a respeito da indicação por uma interpretação apenas dentro dos padrões.

As seis indicações ao Oscar obtidas pela produção foi o motivo pelo qual o filme, que sairia direto para home vídeo, tivesse lançamento cinematográfico no país. Para os iniciados no esporte, a produção pode ter um brilho a mais e ser funcional. No aspecto cinematográfico, também nas indicações, não há nada que mereça de fato destaque.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Filha do Mal

(The Devil Inside, 2012)
Diretor: William Brent Bell
Elenco: Fernanda Andrade, Simon Quarterman, Evan Helmuth, Ionut Grama.

A produção de 1973 de William Friedkin, O Exorcista, ainda hoje causa-me espanto. Mais pela boa composição do suspense do que pelas explícitas cenas de exorcismo. É primorosa a sutil construção da atmosfera, crescendo a cada cena. Não seria exagero afirmar que volto a respirar somente no desfecho da trama.

Quando a religião torna-se a base de um filme de terror, parece-me necessário mais nuances do que na composição de uma trama envolvendo um serial killer. Afinal, qual é a essência aterrorizante de uma história envolvendo crenças? Uma força superior desconhecida? A percepção de um elemento maldito incontrolável? O próprio ato em si?

Filha do Mal é composto de maneira documental, seguindo o estilo que há doze anos A Bruxa de Blair tornou famoso. Transformando o limitado baixo orçamento em uma história que aproxima-se de um efeito realístico.

A história acompanha Isabela Rossi na investigação do paradeiro de sua mãe que há mais de vinte anos foi institucionalizada em Roma por assassinar três pessoas durante um ritual de exorcismo. Caminhando inicialmente por depoimentos de autoridade a respeito da ciencia, misticismo, religião e exorcismo que produzem a simulação da realidade, o longa aos poucos cede seu suspiro criativo para a tradicional história de exorcismo.

Ao lado de dois padres que executam exorcismos mesmo sem a autorização da igreja, não há nada que outras histórias não apresentou anteriormente. Ainda mais quando parece explícito que a composição do choque da ação é mais centralizada do que a composição da atmosfera que a envolve.O resultado são as vitimas retorcidas, com falas em línguas mortas, palavrões e a cartilha tradicional de sempre. Comumente sem graça.

Uma produção ligeira que inicia a lista dos piores filmes do ano.

Tudo Pelo Poder

(Idles Of March, 2011)
Diretor: George Clooney
Elenco: George Clooney, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Jeffrey Wright.


Quarto filme dirigido por George Clooney, Tudo Pelo Poder é mais uma das produções que prezam pelo bom argumento e a potência dos diálogos. Estrelado pelo próprio diretor e por Ryan Gosling, a trama situa-se na pré-corrida a presidência, quando os partidos realizam eleições internas para escolher o candidato a eleição.

É a percepção política de Stephen Myers, um jovem idealista responsável pela campanha do governador Mike Morris, que observamos transformar-se durante a narrativa. A produção desenvolve um choque entre a visão pública de um político em contra partida com a conhecida por sua equipe. Bem como a constatação de que para a construção de uma figura pública sem amarras negativas, há um mar de lama anterior que foi ignorado.

O contraste entre o governador e o assessor - sintetizado no belíssimo cartaz - surge durante a construção da trama. Dialogando intimamente sobre a política, fica evidente que nem mesmo os mais próximos dos candidatos tem real conhecimento sobre ele.

A história baseia-se na peça “Farragut North” de Beau Willimon, sucesso da Broadway. Para o diretor Clooney, a política era um cenário essencial para gerar a discussão sobre lealdade, integridade e o embate sobre até que ponto o idealismo político é manchado por elementos obscuros.

Novamente como em suas produções anteriores, o diretor mesmo em um papel na trama não é a figura central. Sendo apenas apoio para a personagem de Gosling. Além dos atores, a trama conta ainda com Phillip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Rachel Evan Wood e Marisa Tomei. Resultando em um elenco dos sonhos muito bem composto sobre os meandros da corrupção política.

O filme ainda ganhou uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Roteiro Adaptado.

Os Outros Caras

(The Other Guys, 2010)
Diretor: Adam McKay
Elenco: Will Ferrell, Mark Walhberg, Eva Mendes, Dwayne Johnson, Samuel L. Jackson, Steve Coogan, Michael Keaton.

Will Ferrell é sempre Will Ferrell. Comediante que se consagrou por um estilo de humor jocoso e exagerado que definiu seu estilo. Elemento natural na carreira de qualquer humorista que sedimenta uma maneira de fazer rir e se realiza a partir dela.

Os Outros Caras transforma o exageiro normalmente centrado na figura de Farrell – que também produz o longa – para diversas camadas da produção. Realizando um filme estridente, repleto do humor non sense característico do comediante.

Do diretor responsável por Quase Irmãos e O Âncora, Adam McKay repete a boa parceria com o humorista. Na trama, Ferrell é Adam Gamble, um homem pacato que trabalha com prazer na contabilidade da polícia, diferentemente de seu parceiro, Terry Holtz que, após atirar acidentalmente em um jogador, é rebaixado ao escritório. Sendo motivo de riso pelo resto da corporação decidem demonstrar seu valor após a morte acidental dos dois ídolos policiais da cidade, participação de Samuel L. Jackson e Dwayne “The Rock” Johnson.

A dupla central da trama é bem equilibrada. Enquanto Ferrell repete seu personagem tradicional, normalmente calmo com momentos explosivos, Whalberg repete seu característico policial durão dessa vez a favor do riso. Dialogos absurdos são composto de maneira natural, produzindo o cômico pelo espanto.

A história exagerada em todos os aspectos não teve aceitação do público, algo compreensível. O humor de Will Ferrell segue uma fórmula estabelecida. Dentro de seu nicho é hilário. Fora dele divide opiniões. A história, motivada por cenas de ação, ainda faz com que erroneamente muitos acreditem que a trama teria mais seriedade.

Will Farell será sempre Will Ferrell. É isso que torna seus filmes interessante a quem gosta. A sensação de que o grandalhão sempre será capaz de subverter situações a sua maneira estapafúrdia e exagerada. Um ator que faz quase sempre o mesmo papel mas realiza-o bem.

A pouca bilheteria não tira o mérito da produção que exagera no humor mas também faz sátira dos blockbusters de ação. Provavelmente ganhando uma segunda chance quando estiver no circuito televisivo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cada Um Tem a Gêmea Que Merece

(Jack and Jill, 2011)
Diretor: Dennis Dugan
Elenco: Adam Sandler, Al Pacino, Katie Holmes.

Durante sua carreira no humor, Adam Sandler persegue o mesmo estilo cômico. Em histórias diferentes, apresenta as mesmas personagens desconcertantes e não abre mão do fundo moralizante que fecha a trama.

Em Cada Um Tem a Gêmea que Merece o escárnio jocoso é mais explícito e transforma Sandler no comediante da vez que se travestirá para um papel feminino, como aconteceu com Eddie Murphy e Martin Lawrence.

A produção inicia-se de maneira documental, com depoimentos de irmãos gêmeos a respeito da relação normalmente harmoniosa que um mantém com o outro. A intenção do momento é boa, mas é desintegrada no instante que surge a história do filme.

Jack não suporta sua irmã gêmea Jill, que se encontra com a família apenas nos feriados de final de ano. Desnecessariamente sincera, vivendo com um papagaio e mais masculina que o irmão, a personagem da vazão a todo humor ácido que Sandler produz como costume. Porém, sem quase nenhuma graça.

Ao contrário do que se pode imaginar, que a duplicidade do ator geraria duas vezes mais humor, somente Jill, pelo estilo exagerado, intenta o riso. Jack torna-se um pálido personagem aborrecido pela convivência com a irmã, preocupado em perder um cliente na companhia de publicidade em que trabalha caso não convença Al Pacino a estrelar um novo comercial de café.

As estranhezas secundárias e naturais de um filme do ator também estão lá. Um sem teto amigo da família, uma filha que se veste como suas bonecas, um indiano adotado que gosta de utilizar fita adesiva colocando objetos no próprio corpo. Mas todo o arsenal de estranhamento parece deslocado, sem a integração natural de filmes anteriores do ator, muitos dos quais dirigido também por Dennis Dugan.

Al Pacino interpreta uma versão exagerada de si mesma. Um ator consagrado, já cansado, que vê em Jill a possível personagem para apoiar seu novo papel no teatro. Em parte, Pacino tem bom humor em rir de sua própria carreira descendente. Porém, a caracterização soa tão verdadeira que entristece a constatação de que o astro de O Poderoso Chefão, Scarface, Perfume de Mulher seja sombra do que foi outrora e ainda estrele filme tão questionável.

Eleito um dos piores filmes do ano passado, concorrente forte em futuras indicações do Framboesa de Ouro deste ano, a história possuí leves momentos de humor, sem dúvida. Mas não superam o constrangimento de uma história situada na falta de graça. E ainda conta com Katie Holmes, como esposa de Jack, habitualmente sem destaque nenhum.

O Artista

(The Artist, 2011)
Diretor: Michel Hazanavicius
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Beth Grant, Ed Lauter, Joel Murray, Bitsie Tulloch, Ken Davitian, Malcolm McDowell.


Explorando um momento revolucionário do cinema, a inclusão de sonoridade direta em uma arte até então muda, o prestígio alcançado por O Artista suscita uma delicada dúvida. A produção merece créditos por qualidades intrínsecas ou deve a boa recepção para a homenagem nostálgica aos filmes mudos?

A história remete-se a um conceito explorado anteriormente como no clássico Cantando na Chuva: A mudança entre o cinema mudo ao falado e de como seus atores famosos tornaram-se obsoleto para um estilo novo que necessitava de um tipo de interpretação distinta. Ambientado em um dos períodos mais negros da economia americana, a quebra da bolsa em 1929.

A produção cinematográfica americana dava seus primeiro passos. O glamour de Hollywoodland tornava-se parte do ideário americano. A frustração na terra dos sonhos, onde tudo parecia possível, ainda era inédita.

A trama apresenta-nos George Valentin, uma das estrelas máximas do cinema mudo que perde a popularidade com a invenção do cinema falado. Sendo esquecido aos poucos pelo público que o amava.

O filme presta homenagem ao cinema mudo sendo ele próprio uma produção no estilo. Traz para um público novo a sensação de se deslocar aos primórdios da sétima arte. Para admirar uma época em que somente a imagem era responsável pela narrativa. Com falas inseridas na tela somente em momentos chave e música orquestrada que nem sempre acompanhava as ações vistas.

A produção dialoga com o próprio cinema para reverenciá-lo. A resposta para a questão incitada no início situa-se em uma via de mão dupla. Sem o recurso do cinema mudo a história não teria a mesma potencia. Além dela, a história do carismático Valentin ainda é forte por retratar o quão efêmero são as celebridades.

Pela escolha em realizar um filme mudo contemporâneo, a produção tem maior foco para iniciados, cinéfilos que admiram o cinema como um todo, do que aqueles que assistem filmes de maneira ocasional.

De qualquer maneira, é uma bela história sobre o próprio cinema, composta de maneira amorosa pelo francês Michel Hazanavicius, que ilumina os motivos pelo qual o cinema americano tornou-se diversão mundial e altamente popular.

Millennium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

(The Girl With a Dragon Tattoo, 2011)
Diretor: David Fincher
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård, Robin Wright, Goran Visnjic, Embeth Davidtz, Joely Richardson, Joel Kinnaman, Elodie Yung, Julian Sands.

Ainda que acolha filmes estrangeiros, a indústria hollywoodiana é favorável em produzir sua própria versão de histórias. Muitas vezes motivado para explicitar a hegemonia do cinema americano perante outros.

A inserção da identidade americana em material estrangeiro costuma ser falho. Geram comparações inevitáveis que tendem a louvar a obra primordial e desprezar a regravação. O aterrorizante espanhol [Rec] perdeu impacto em Quarentena; a urgência de Nove Rainhas tornou-se comum em 171; a ambientação que ampliava o choque de Deixa Ela Entrar ficou sem nuances em Deixe-me Entrar. Três exemplos que sintetizam regravações e também qualidade inferior.

Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres baseia-se na primeira parte homônima da trilogia do escritor sueco Stieg Larsson. História que originou primariamente a produção sueca e, devido ao sucesso, foi lavrada a uma produção americana.

Partindo do mesmo material primordial, a produção americana é mais competente em aproveitar-se da ambientação fria da Suécia como elemento narrativo. A fotografia de Jeff Cronenweth (que trabalhou com o diretor em Clube da Luta e Rede Social) amplifica o isolamento do local, assolado pelo inverno. Diferentemente da adaptação sueca que, ainda competentíssima, é mais tradicionalista.

A melhor estrutura técnica americana pode ser afirmada pela tradição no mercado de produção cinematográfica. Em detrimento a outros países que, mesmo conhecedor das mesmas técnicas, podem não ter acessibilidade fácil aos mesmos elementos que Hollywood possui em um piscar de olhos.

A direção fica por conta de David Fincher. Tem-se a sensação de que o diretor foi convidado para o cargo em vez de ter escolhido o projeto. Por conta de um vigoroso histórico em narrar histórias brutais com sensibilidade e sem moralismo, Fincher, mercadologicamente ou não, torna-se uma boa escolha.

A história centra-se em um desaparecimento que há mais de quarenta anos aflige Henrik Vanger, um velho empresário de uma das mais tradicionais companhias suecas. Agora aposentado, o empresário contrata o jornalista investigativo Mikael Blomkvist, cuja carreira foi arruinada por uma reportagem sem fundamento, para investigar informalmente o caso.

A versão americana organiza melhor a história orquestrada por Larsson. Equipara acontecimentos, sincronizando-os. Demonstrando mais capacidade de inserir elementos da narrativa sem a necessidade de novas cenas, inferindo-os dentro da própria história.

Poucas liberdades em relação ao enredo do livro são tomadas. A maneira simultânea com que se realiza os pólos narrativos entre Mikael e Lisbeth Salender é eficaz. Não demora na construção da tensão como o original sueco, seguindo a risca o argumento.

O domínio maior na construção do roteiro abrange melhor a totalidade do livro e, como o sueco, apresenta um breve elemento que liga-se com a história do segundo livro, A Menina Que Brincava com Fogo.

Se David Fincher manter-se na direção por toda a trilogia, produzirá uma boa trama que não perderá as bases visuais e o estilo criado por sua produção inicial. Ainda que nada supere a dupla singular de seus primeiros filmes, Se7en – Os Sete Crimes Capitais e Clube da Luta.

A trilogia Millenium foi lançada no país em versão tradicional e econômica pela Companhia das Letras. O filme sueco, que merece também ser assistido, está disponível em DVD e Blu-Ray pela Imagem Filmes.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Na Multidão, Luiz Alfredo Garcia-Roza

"Com uma das mãos, a mulher pressionava a bolsa contra o peito enquanto com a outra segurava um pedaço de papel que consultava repetidamente. O painel luminoso localizado acima dos guichês da agência da Caixa Econômica indicava dois números: um correspondia à senha e outro indicava o guichê de atendimento. Fazia mais de uma hora que ela estava sentada em meio a dezenas de outros aposentados e pensionistas esperando ser atendida. Sabia que se deixasse passar seu número teria que retirar nova senha (acontecera no mês anterior, quando se ausentara para ir ao banheiro). "


Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza
Editora: Cia Das Letras
184 pag.



O nascimento do Delegado Espinosa data de 1996. Ano de lançamento de O Silêncio da Chuva, do psicanalista Luiz Alfredo Garcia-Roza. Mesmo recente no panteão de personagens da literatura brasileira, seu nome já figurou em listas que apontavam nossas melhores personagens.

A inclusão do delegado nessa lista não causa espanto. O detetive de Garcia–Roza foi desenvolvido com cuidado genuíno. Além de bem caracterizado no esteriótipo de um policial, há uma indefectível originalidade brasileira. Um homem pacato com a mesma rotina semanal, sem arroubos de criatividade, incomodado se precisar pegar em uma arma, cujo poderio principal é a mentalidade.

Publicado em 2007, Na Multidão é o sétimo livro a apresentar o delegado como sua personagem central. Em relação aos romances anteriores é a trama mais enxuta. Enredo apresentado de maneira simples, direta ao caso, sem rodeios. Diferenciado-se do estilo tradicional do suspense que desenvolve amplamente a ambientação em primeira estância, depois os crimes.

Mais que ser a personagem central, é a própria lembrança de Espinosa que é posta em xeque. A trama desenvolve-se entre um crime atual que pode ter ligações com o passado memorial do detetive. Um reencontro com as lembranças de infância situadas em um limbo.

A narrativa é a que mais se aproxima da formação inicial do autor. A infância do delegado tem laços em comum com um suspeito, aproximando-os como um reflexo oposto no espelho. Não só essa característica envereda pela análise psicológica como uma cena entre as personagens simula o trabalho terapeutico do diálogo em busca de um significado.

A ação da trama fica em segundo plano para que se compreenda as motivações, em destaque para a importancia do caso para o próprio delegado. Para isso, a inteligencia investigativa de Espinosa trabalha dentro de si. Resultando no livro mais íntimo para a personagem.

Diante de um cenário policial brasileiro um tanto desolado – ou composto por narrativas que corropem a base do gênero, perpetuados por Rubem Fonseca – Luiz Alfredo Garcia–Roza é uma voz que trabalha com a tradição e dela traz sua originalidade.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Os Descendentes

(The Descendants, 2012)
Diretor: Alexander Payne
Elenco: George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause.

Não por acaso, a história de Os Descendentes se passa no Havaí. Desconstruindo o imaginário universal do ambiente sempre alegra e festeiro. Não para Matt King. O acidente que deixa sua esposa em coma é o início da desconstrução de sua vida. Torna-se papel central em uma família com duas filhas que não respeitam sua autoridade. Além de descobrir que sua esposa era infiel.

A composição da trama é desoladora do início ao fim. Aborda a relação familiar e sua destruição pela perda de um alicerce.Caminha com segurança entre gerações e suas heranças. Revela que até as relações mais sagradas esconde um segredo. Fios narrativos que atravessam a forte personagem delineada de maneira magnífica por George Clooney.

Sua interpretação transita em profundidade o labirinto sentimental de um homem maduro. Destruído por dentro mas necessitando força por ser a nova base familiar. Contído, Clooney apresenta a devastação da personagem pela calmaria. Não há espaço para dramas superficiais. A narrativa devasta o espectador aos poucos. Conduz a história sem moralismo prévio, produz catarse no ponto sensível de cada expectador. Reflete por seu vazio.

Na dualidade da arte que imita a vida e seu reverso, a crítica não estaria completa se não quebrasse a barreira entre a análise e palavras mais pessoais que necessitam também uma inserção no texto.

Após a sessão de cinema, retornando para casa, encontrei um conhecido que me contou sobre um acidente que sofreu no transito por conta de um casal, em outro veículo, que não obedeceu um sinal fechado. No dia seguinte, o colega recebeu um telefonema da mulher envolvida na batida pedindo-lhe que realizasse um acordo informal como resolução do problema. O homem e a mulher no carro eram amantes e a esposa dele não poderia ter conhecimento do acidente.

Não posso deixar de mencionar o abismo que se ampliou em mim, deixando-me ainda mais deslocado com a história de Matt King. De repente, a vida, como a arte, urgiu, sem pedir licença ou perdão.

Sexo Sem Compromisso

(No Strings Attached, 2011)
Diretor: Ivan Reitman
Elenco: Natalie Portman, Ashton Kutcher.


Adam e Emma se conheceram no início da adolescência, em um acampamento de verão. Se reencontraram por acidente diversas vezes e, somente após anos, decidem trocar contatos. Um dia ao ficar bêbado pelo término de seu relacionamento Adam liga para Emma e, finalmente, iniciam uma amizade.

Sexo Sem Compromisso reúne uma dupla carismática para desenvolver o enredo habitual de uma comédia romântica. Assim como Amizade Colorida, a história dialoga com as relações contemporâneas mas resulta em um argumento fraco por desejar ser mais do que realmente é.

Diferentemente da trama com Mila Kunis e Justin Timberlake, as personagens possuem um desejo latente que culmina rapidamente em sexo. Porém, distanciada do desejo amoroso, Adam torna-se o objeto sexual de Emma.

Desencadeando seqüência sexuais nos ambientes mais diversos, a história perde seu breve apelo cômico quando toca no ponto mais sensível. Ao mesmo tempo que de maneira veloz as personagens iniciam suas relações, a trama intensifica o drama sem nenhuma estrutura.

Natalie Portman que no mesmo ano atuou em Cisne Negro parece carregada demais de um pesar que não se encaixa na história. E Ashton Kutcher, que sempre repete seu papel de Ashton Kutcher, também não sustenta o idílio.

Para tentar segurar seu enredo de situações a trama tem um pano de fundo em que Adam deseja ser um roteirista de um série em que trabalha como assistente de direção e Emma prosseguir sua carreira na medicina, o que retrocede ainda mais o pouco humor do início.

Os Smurfs

(The Smurfs, 2011)
Diretor: Raja Gosnell
Elenco: Hank Azaria, Neil Patrick Harris, Jayma Mays, Sofia Vergara.


Necessita-se cuidado em dobro quando a escolha é adaptar uma história incorporando-a a novos elementos. deslocá-la de sua tradição pode gerar um resultado ruim e propiciar a rejeição do público.

Há mais de cinqüenta anos, Os Smurfs, criação do belga Peyo, tornou-se um estrondoso sucesso. As pequenas entidades azuis que cantarolam e prezam pela felicidade são reconhecidas por adultos e crianças em escala mundial. Sua recente popularidade em baixa incentivou os estúdios a promover uma produção que apresentasse as personagens a uma nova geração.

Parte da perda da popularidade dos Smurfs relaciona-se com a diferenciação entre personagens infantis antigas e as contemporâneas. Hoje desenhos são mais carregados de um humor mais agressivo. Deixando de lado o conteúdo inocente para outro que versa pela ironia.

A história do filme introduz as personagens na cidade de Nova York, destino acidental de um plano realizado por Gargamel. A cidade que nunca dorme é um bom pano de fundo para contrastar a pureza dos azuis com a frieza do mundo real. É na nossa realidade que, acidentalmente, o publicitário Patrick os encontra dentro de seus pertences. Duas histórias se entrelaçam, o publicitário que precisa fazer uma nova campanha para não perder o emprego e a eterna luta de Gargamel em destrui-los.

A nova aventura dos Smurfs dosa com cuidado a história moralista envolvendo as personagens de carne e osso e o conflito de realidades entre as personagens e o mundo real. Sem perder a própria tradição a trama consegue ser irônica quanto a própria fofura dos pequeninos.

A interpretação de Hank Azaria, caracterizado perfeitamente como o vilão, é cômica na medida certa. Produz riso pela sua malvadeza anacrônica, vinda de épocas em que vilões achavam-se magnânimos em exagero. São hilárias as cenas em que, pausando a ação, a personagem se sente feliz por atravessar a fumaça, como um efeito especial.

A incursão temporária das personagens clássicas resulta em um fôlego novo sem perder a tradição adquirida. Compondo o tradicional filme familiar para adultos e crianças.

Além do filme disponível pela Sony em DVD e em duas edições em Blu Ray, a tradicional e a em terceira dimensão – que dessa vez poupei os leitores da reclamação habitual – a L&PM Editores lançou, em razão da produção, dois álbuns com as histórias em quadrinhos da criação máxima de Peyo, disponíveis tanto no formato tradicional, quanto em pocket.