quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dexter, Terceira Temporada

ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO ANALISADAS NO TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO, PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO DA TEMPORADA, PARE DE LER O TEXTO IMEDIATAMENTE. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTO-A, POR FAVOR.


Desde o lançamento de Dexter, acompanho-a simultaneamente com a emissora americana. Pelo atraso que a produção chegou oficialmente no país, maior ainda nos lançamentos dos boxes em DVD, é provável que boa parcela do público da série tenha conhecido-a pela rede.

O episódio piloto da série marca o ponto de partida de Dexter Morgan. Durante esses três anos, o especialista forense transformou-se de um frio e calculista assassino para um homem mais complexo. Na primeira temporada Dexter disputa uma batalha silenciosa com um outro serial killer. Jornada que o faz conhecer melhor seu passado.

Em seu segundo ano, a personagem ganha parcelas de humanidade e, ao descobrir que a policia achou seu lugar de desova de corpos, tornando-o o mais novo serial killer procurado, luta contra si mesmo a procura de uma identidade.

Há um consenso quase unânime sobre a terceira temporada. A constatação que é a mais fraca desde então e depois. Na época, acompanhando a temporada, um episódio a cada semana, não identifiquei nenhum elemento que a desnivelasse. Até então era a série que tinha nota máxima em todas as temporadas.

Porém, em uma segunda exibição, em DVD, assistindo os episódios em seqüência com poucos dias de distanciamento, que me permitiu buscar elementos que justificassem a irregularidade da temporada.

A terceira temporada foi a primeira que não apresentou um vilão. Não há um serial killer ativo, como nas anteriores. Têm-se os casos do esfolador, história que se desenrola como trama paralela. Evidenciando que Miami é uma cidade violenta, com uma gama de suspeitos, mas não transformando tais elementos em carro chefe da história.

A família Prado que se torna o destaque e o motivo pejorativo para a perda de qualidade. Após o conhecimento do passado e de si, Dexter tornou-se um ser mais sociável. Aquilo que afirma ser sua máscara recebe contornos de humanidade. O relacionamento com Rita prospera, em breve terão um filho, e o acumulo de tais experiências o fazem um homem em construção.

O promotor Miguel Prado, ao tornar-se amigo de Dexter, contribui para a construção de um círculo de amizade. Embora sendo amigável com os parceiros do trabalho, o especialista evitava qualquer contato íntimo.

A relação com Miguel remete-se a relação primordial com o pai. Porém, enquanto Harry se afasta, ao descobrir que criou um monstro, Miguel se aproxima de Dexter, fascinado pelo homem que pode fazer mais do que a justiça. Com o tempo as atitudes de Miguel vão alem das desejadas por Dexter, que segue o código de Harry, á risca. E os amigos íntimos tornam-se inimigos.

A tensão da trama se constrói em nível psicológico. A pressão pelo casamento com Rita, a relação com Miguel em constante mudança, resultando em um psicopata aturdido por tantas novas informações.

Há coragem em apresentar esse tipo de elemento narrativo. Em parte, é bastante funcional. A construção da personagem e a interpretação de Michael C. Hall conseguem deixar críveis tais sentimentos. Faltou carisma para Miguel Prado, uma personagem antipática e interpretada de maneira canastrona por Jimmy Smits. Tornando-se impossível que o público goste do promotor ou consiga lhe dar credibilidade por ser um enganador, sempre um passo a frente de Dexter.

O excesso do relacionamento de Prado com LaGuerta também produz uma ladainha não interessante para a série. Seus personagens secundários são carismáticos. Mas a história de um par que foi um casal no passado é insossa. Como um remendo entre as histórias.

Não bastando a personagem fraca, a relação de Prado com o Esfolador é inexplicável. Sem dúvida, a cena em que Dex e o promotor discutem no telhado possui impacto. Ainda mais quando se faz a descoberta de que Miguel usará o esfolador para matar Dexter. Mas a explicação dessa conexão não existe. Prado conheceria o esfolador desde o início? Propôs oferecer Freebo e, assim, entraram em contato?

Quando Dexter descobre que Prado quebra o código de Harry, que seguiu por toda a vida, sua morte é inevitável. Morte que se mantém nos parâmetros ritualísticos mas é carregada de um sentimento profundo para Dexter. Uma traição dentre diversas traições de Miguel. A morte de Prado, feita com um garrote no pescoço é certeira. Enquanto o promotor agoniza, o assassino afunda ainda mais a corda, violentamente. O código prevalece.

É notável o crescimento de Debra Morgan como personagem. Se revela uma boa policial, com seus insights nas investigações e mantem sua autenticidade com um vocabulário repleto de palavrões. Debra manifesta a emoção que Dexter retém. Não a toa se apaixona pelos homens que aparecem em sua vida.

A finalização da trama secundaria com o esfolador não decepciona. Dexter preso em uma mesa, lutando por sua vida, no mesmo dia em que irá casar com Rita. A ação se resolve rápida e nosso conhecido assassino sai incólume apenas com um braço quebrado.

A narrativa, principalmente os monólogos de Dexter, são um dos elementos primordiais para a excelência da série. Mais uma vez cenas se completam com suas reflexões sobre a própria vida. Sem dúvida, a personagem atingiu outro patamar, cresceu, tornou-se mais completa. Mas não deixa de ser o que é, produzindo a belíssima cena da gota de sangue que escorre de sua mão para o vestido imaculado de Rita. Dexter Morgan tornou-se um pai de família nada ortodoxo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

11-11-11


(11-11-11, 2011)
Diretor: Darren Lynn Bousman
Elenco: Timothy Gibbs, Michael Landes, Denis Rafter, Wendy Glenn.

Na internet, circulam textos e imagens cômicas em referência às diversas profecias contemporâneas de fim do mundo. Ironizando que ilesos passamos pelos últimos prenúncios e, ansiosos, aguardados os próximo. Apoiados na astrologia, em profetas vivos ou mortos, sinais recebidos por reverendos, a destruição do mundo tem sido assunto constante.

11-11-11 é o filme da vez, evidentemente realizado as pressas, com o intuito de aproveitar a data de um suposto extermínio. Apresentando com muito oportunismo e pouco conteúdo uma história de terror dirigida e roteirizada pelo diretor de Jogos Mortais 2, 3 e 4.


Na trama, um escritor, cujo filho e esposa foram mortos tragicamente, volta à Espanha em que foi criado para rever o irmão e aguardar a morte do pai. Atormentado pelo passado, torna-se obcecado pelo número onze e tem a revelação que a data que se aproxima marca o fim dos tempos.

O arremedo de argumento coloca a personagem em uma investigação íntima sobre os sinais que tem recebido a respeito, que, supostamente, seriam os elementos assustadores da trama. Vultos diabólicos que aparecem de relance em janelas, sonhos de seus parentes mortos, alucinações e moribundos avisando-o que algo mudará.

A explicação do apocalipse procura apoio em elementos religiosos, contrapõe o escritor ateu com o irmão pároco. Rendendo a batida discussão sobre fé e ateísmo e fieis loucos impedindo profecias.

Acostumado com a direção engessada de Jogos Mortais e seu roteiro rocambolesco de reviravoltas, o que poderia ser apenas um filme sem graça produz um riso involuntário quando, há cinco minutos de seu fim, uma revelação intenta mudar o que foi apresentado até agora. Com direito a repetição de cenas anteriores, no estilo da saga de Jigsaw.

Além do roteiro fraco, a trama exagera nas continuidades falhas. Em sua volta a Espanha, o escritor afirma não saber a língua local. O que torna espantoso sua afirmação de que viveu no país por toda a infância. O Exemplo e outros elementos semelhantes confirmam a execução rápida de roteiro e filme. A procura de alguns trocados em cima de uma data que encanta pela repetição numérica de digitos e bobagens apocalípticas.

domingo, 13 de novembro de 2011

Pearl Jam, PJ20, 04 de Novembro, Morumbi - São Paulo

Por Karina Audi

01 – Go
02 – Do The Evolution
03 – Severed Hand
04 – Hail Hail
05 – Got Some
06 – Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
07 – Given To Fly
08 – Gonna See My Friend
09 – Wishlist
10 – Amongst Waves
11 – Setting Forth (Eddie Vedder)
12 – Not For You
13 – Modern Girl
14 – Even Flow
15 – Unthougt Unknown
16 – The Fixer
17 – Once
18 – Black
(Bis)
19 – Just Breathe
20 – Inside Job
21 – State Of Love And Trust
22 – Olé
23 – Why Go
24 – Jeremy
Bis)
25 – Last Kiss (Cover de Wayne Cochran)
26 – Better Man
27 – Spin the Black Circle
28 – Alive
29 – Baba O’Riley (Cover do The Who)
30 – Yellow Ledbetter


(Foto de Eddie Vedder por M Rossi (com logo da turnê inserido pelo blog) e Foto da banda por Ronaldo Chavenco)

Lá na década de 90, quando o Youtube e o Grooveshark eram coisas tão impensáveis quanto guardar músicas em formato mp3 em pequenos dispositivos de memória do tamanho de uma embalagem de Halls, o momento mais feliz do mundo era sintonizar a MTV naquela TV de 20 polegadas da sala da casa dos seus pais, torcendo para ter a sorte de pegar algum clipe bom da banda do momento. Naqueles anos, o canal inspirava-se de ótimas bandas do sub-gênero do rock em voga naquele atual momento: o grunge, que atingiu popularidade comercial principalmente com o lançamento do Nevermind do Nirvana. Até então, a forma de produção e divulgação das bandas influenciadas pelo punk rock, rock clássico dos anos 70 e particularmente pelo Melvins, em razão da “sujeira” das guitarras e experimentalismo exacerbado, dependia da boa vontade dos próprios músicos que faziam o que podiam para sobreviver longe da influência (e patrocínio orçamentário) das major labels.

O Pearl Jam foi uma dessas bandas que, com o impacto do sucesso, não se adaptou tão bem à escalada (natural, pois bem) do mainstream. O Vitalogy, terceiro álbum de estúdio da banda, quase não pode ser lançado em razão de brigas internas e discussões com a gravadora Epic e a Ticketmaster, que resultaram em boicotes à shows e a recusa em produzir videoclipes, cuja pressão de fazê-los partia da gravadora. Tempos difíceis que foram superados com a união e amizade dos músicos preparados para uma carreira promissora, mas que passaram anos e anos negando seu próprio sucesso.

Para a sorte de nós, fãs, a banda continuou na estrada e nos presenteou no dia 4 de novembro com um belíssimo show da turnê PJ20, pela comemoração de seus 20 anos. A apresentação no Estádio do Morumbi, que foi a segunda de uma série de cinco em terras brasileiras, foi marcada pela energia e vitalidade, elementos em falta em bandas jovens atuais, e que encantaram o lotado estádio com mais de 60 mil pagantes.

O quinteto formado por Eddie Vedder, Stone Gossard, Mike McCready, Jeff Ament, e Matt Cameron subiu ao palco às 21h15 com Go, essa que, apesar do frio daquela noite, nem na metade da música fez seu vocalista tirar a jaqueta que vestia, seguida da energizante Do the Evolution, que fez o estádio inteiro pular – e sem exageros. Ouvir aquela música, para mim, foi lavar a alma, já adiantando o que o show traria pela frente. Depois dela foram Severed Hand, Hail Hail, Got Some e Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town, bela música cujo refrão formou um coro cantado por todos os lados. A agitada Gonna See My Friend fez uma ponte entre as calmas Given to Fly, tocada anteriormente, e Wishlist, cuja letra esperançosa ganhou destaque na voz marcante de Vedder e na intensidade das guitarras de Gossard e McCready ao vivo.

Depois de Amongst the Waves, Vedder deu um pequeno gostinho de seu disco com a trilha sonora do filme Into the Wild (Na Natureza Selvagem) com Setting Forth. Logo, Not For You, a música mais classic rock do Vitalogy, e uma pequena homenagem ao Sleather Kinney, banda de punk rock feminino dos anos 90, com Modern Girl são tocadas para abrir passagem a outro sucesso da banda: Even Flow, do disco Ten, canção gritada pelo público com vigor. Unthought Known e The Fixer, ambas do Backspacer de 2009 são seguidas por Once (Ten), que levou o público novamente aos pulos, gritos e clamor.

Não tenho palavras para explicar a sensação de ouvir o hino grunge Black, também do Ten e o “tchu rurururu” cantado pelo público por vários minutos em uníssono, e Vedder e sua turma voltando ao palco para atender aos pedidos do bis. São aqueles momentos em que as coisas bonitas da vida aparecem de imediato...

Vedder elogia o público brasileiro, agradecendo e até arriscando um português esforçado, dizendo que prefere falar em inglês: “porque o meu português é uma m....”. Tudo bem, pela sua energia no palco, simpatia, e sua voz grave e perfeita a gente perdoa. O show segue com Just Breathe, e Inside Job (essa que teve uma parte composta no show da turnê realizado no Brasil em 2006). Aí em diante, um show de canções conhecidas: State of Love and Trust, Why Go, e a clássica, como não poderia deixar de faltar: Jeremy – que não teve vez no primeiro show da turnê no Brasil, no dia anterior. Last Kiss entra com o segundo bis, com direito a palminhas e tudo, seguida da boa e esperada do disco Vitalogy, Better Man – essa com homenagem ao Ramones com Vedder emendando no final um I Wanna be your boyfriend -, e a gritada Spin the Black Circle do mesmo disco. Confirmamos o talento de seu baterista, Cameron, rápido e preciso, feitos demonstrados em todo o show e destacado nessa música.

Para encerrar o show, Alive mostrando a que veio, e novamente a esperada cover, que ao contrário do show do dia anterior não foi Rockin in the Free World do Neil Young, mas sim Baba O’Riley do The Who. Boa troca? Não sei... mas que a música ficou sensacional, ficou. Encerrando, a belíssima Yellow Ledbetter, escolha feita também no show do dia anterior e que acompanha a turnê.

Posso concluir com toda a certeza a superioridade e competência do Pearl Jam demonstradas nas duas horas e quinze minutos de apresentação. A banda sustentou seu talento, apesar de suas recusas anteriores em se firmar como uma banda de rock de sucesso. Mas não precisamos procurar muito para saber que essa é uma consequencia de um empenho e esforço em produzir som de qualidade, com energia e vigor há 20 anos – nitidamente vistos na noite fria do dia 4 de novembro.


sábado, 12 de novembro de 2011

Alta Fidelidade: João Gilberto Está Triste






Conhecido como um dos criadores do Novo Jornalismo – em resumo, um misto de narrativa jornalística e literária – Gay Talese, em um perfil sobre Frank Sinatra, cunhou uma expressão característica utilizada até hoje: o resfriado.

Na composição do artigo, Talese não teve acesso ao cantor. Aproveitou-se de amigos e conhecidos ao redor para produzir uma narrativa sem igual sobre o mito de olhos azuis. Frank Sinatra Está Resfriado tornou-se uma referência do novo estilo. De uma comum infecção no trato respiratório surgia uma narrativa inovadora sobre o astro. O resfriado tornou-se sinônimo daqueles que não querem conceder uma entrevista ou são reclusos por escolha. Expressão ainda funcional. Quando um artista prefere manter-se em silêncio, está resfriado.

Há uma semana noticiou-se que João Gilberto estava resfriado, motivo que adiou a turnê de shows em comemoração aos oitenta anos do criador da Bossa Nova. Uma frase que seria simples produz contornos diversos tratando-se do baiano. João gripado é mais do que uma congestão nasal.

Considerado um músico impar que além do talento nato possui apuro pela perfeição, João está inserido em um código antigo, representando um artista com estilo extinto. A figura brilhante, mas envolta em hábitos peculiares. Fundindo realidade e boatos em uma nebulosa que faz parte de sua fama: entra em um palco somente quando suas normas foram rigorosamente seguidas. Não se sente confortável com a recepção de palmas, gritos ou vozes que o acompanham nas canções. Se incomodado, retira-se do concerto sem nenhum problema.

O distanciamento vertical entre público e artista, visto como superior por sua arte e assim louvado, era regência natural na época em que a indústria fonográfica estava em alta. Músicos não só eram populares como representavam símbolos de gerações.

Hoje, estão entre seu público, a procura de dialogo, tentando salvar – ou construir - carreiras que, as vezes iluminadas pela indústria, ruiram com a queda das gravadoras. Espantoso seria se João se adequasse a tal postura. A um homem com seu talento é permitido tais extravagância, sem mencionar o fato de que suas excentricidades são conhecidas dos fãs.

A gripe de João Gilberto também se tornou destaque ao mencionar que o cantor estaria entristecido com o encalhe de ingressos para sua turnê comemorativa. A exceção do Rio de Janeiro, com ingressos esgotados, há lugares disponíveis em todos os shows. Os preços foram motivo de reclamação do público, contrariado em pagar de quinhentos a mil e quatrocentos reais por uma entrada.

As apresentações para um público ainda nanico, quando se esperavam ingressos esgotados, não se justifica apenas pelos preços altos. Se em um dado momento a Bossa Nova e a Música Popular Brasileira representaram o gosto de boa parte do Brasil, hoje é popular apenas na nomenclatura. Fosse o show de uma cantora de axé com bebida e foliões, estaria esgotado no primeiro dia de vendas.

O incômodo de João é justificável. Seu ritmo modificou a música brasileira em grande escala. A alcunha de gigante não é exagero, mas mérito de quem, a partir do samba, produziu um novo ritmo que ao lado do futebol, das mulatas e da caipirinha faz parte do imaginário mundial sobre o Brasil.


João ansiava que sua volta aos palcos fosse celebração estrondosa. Como não foi, gripou-se. Esqueceu de refletir que tal calor do público poderia ser visto com maus olhares a quem sempre foi recluso. A ausência de seu público é tão espantosa quanto sua vontade de vê-los.

As reclamações dos altos preços devem a produção de shows internacionais realizados no país nos últimos anos. Calcula-se de maneira relativa que se artistas estrangeiros fizeram shows acessíveis, os brasileiros deveriam, no mínimo, manter a margem de preços. Sem levar em consideração que tais shows são apresentados em estádios para grande público, ao contrário dos brasileiros sempre em casas menores.

Destaca-se a crença infeliz de que a música produzida no exterior tem mais qualidade do que a nossa apenas por não ser daqui. E tal idéia não se afirma apenas na música, basta observar que o mercado editorial de livros mais pública traduções do que obras originais em nossa língua.

A tabulação dos preços, sem dúvida, transforma a comemoração dos oitenta anos de João Gilberto em um espetáculo direcionado somente a um público específico e com poder aquisitivo evidente. Mas parece razoável a idéia de que, provavelmente, boa parte do seu público tenha verba suficiente para tal.

Incomodo maior do que a quantia para o ingresso é refletir o quanto se leva mais em conta a cultura exportada do que a produzida made in brazil. Ainda mais quando é possível contemplar ao vivo um artista do porte de João Gilberto.

Com sua voz contida, quase a meio fio, e um violão cuja harmonia é perfeita, os shows em sua celebração estão programados para dezembro e, de acordo com informações até agora, gerarão dois registros em DVD.

João Gilberto pode ter gripado, mas volta para tocar seu baião.


Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre literatura, cinema, música e afins.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Breaking Bad, Primeira Temporada


Walter White é uma pessoa comum. Mora em Albuquerque, Novo México, com a esposa Skyler e o filho com paralisia cerebral. Tem cinqüenta anos, recém completados. Leciona química no colégio. Trabalha como caixa em um lava rápido para complementar a renda. Seu estilo pacato e correto exemplificam o conceito de um homem modelo. Até descobrir um câncer no pulmão.

Exibida nos Estados Unidos pelo canal AMC, o mesmo de Mad Men, com produção de Vince Gilligan, responsável pelas últimas temporadas de Arquivo – X, Breaking Bad parte de uma premissa simples. Um homem que, com a iminente morte pelo câncer, decide romper com o conceito correto em que viveu sua vida até então.

A previsão de deixar sua família sem sustento no futuro o faz convidar um ex-aluno, Jesse Pinkman, a produzirem metanfetamina de qualidade, visando lucro capaz de gerar boa renda futura. Profissional em química, torna-se fácil para Walter produzir a melhor droga do local. Com inteligência operacional observa as ações com visão de mercado. Analisa margem de lucros, despesas, desejoso em transformar sua droga na mais consumida da cidade.

Coube a Bryan Cranston o papel principal da série. Se em Malcolm In The Midlle, como pai da personagem central, demonstrava seu talento cômico, em Breaking Bad vem à tona sua veia dramática. Apresentando um Mr. White carismático e bem equilibrado entre o homem comum e aquele que chega ao limite do vazio existencial.

No decorrer da temporada, Walter se despe dos conceitos que defendia outra se transformando em um homem mais impositor. A relação da personagem com o público é ainda mais próxima quando compreende-se que seus feitos prezam algo maior.

Walter é, sem dúvida, um anti-herói. Seguindo a linhagem atual das narrativas seriadas que encontram em personagens de moral dúbia um elemento cativador do público como o Dr. Gregory House, o assassino Dexter Morgan ou a enfermeira Jackie Peyton. Refletindo nos expectadores a idéia da transgressão.

A primeira temporada da série teve apenas sete episódios devido à greve de roteiristas em 2007. Dessa maneira, possui um final cuja trama se encerra, em definitivo, no ano seguinte, no segundo episódio da temporada, intitulado Grilled.

Tanto a primeira temporada, como a segunda, estão disponíveis em DVDs no país. Com previsão de se encerrar no próximo ano, Breaking Bad tem tudo para ser a série atual cuja qualidade total esteja perto da excelência.


domingo, 30 de outubro de 2011

Os Paralamas do Sucesso, Brasil Afora, 27 de Outubro, São Carlos - São Paulo

01 - Sem Mais Adeus
02 - Dos Margueritas
03 - Óculos
04 - Ela Disse Adeus
05 - O Beco
06 - Cuide Bem do Seu Amor
07 - Tendo a Lua
08 - Bora Bora
09 - Perplexo
10 - Melô do Marinheiro
11 - Você / Gostava Tanto de Você
12 - A Lhe Esperar
13 - O Calibre
14 - Meu Erro
15 - Lanterna dos Afogados
16 - Caleidoscópio
17 - Uns Dias
18 - La Bella Luna
19 - A Novidade
20 - Loirinha Bombril
21 - Alagados
22 - Uma Brasileira
(bis)
23 - Sonífera Ilha
24 - Ska
25 - Vital e Sua Moto

Fotos de Ivan Moreira

Basta João Barone, Bi Ribeiro e Herbert Vianna – acrescidos da banda de apoio – subirem ao palco para a certeza de um bom show. Tanto no apuro técnico quanto em harmonia e energia com o público.

Na ativa há 28 anos, a banda é uma das mais coesas do cenário pop e rock brasileiro. Mesmo tendo passado por baixas em certos períodos, foi a que mais produziu bons discos, coerentes e com garantia de hits radiofônicos.

Celebrando o aniversário de São Carlos e o dia dos comerciários, com organização do Sesc e da prefeitura da cidade, Os Paralamas do Sucesso subiram ao palco, logo após as oito da noite, para o show da Turnê Brasil Afora, último álbum de estúdio lançado pelo grupo.

No palco, o grupo apresenta uma invejável sintonia. Ao lado da banda de apoio, formada por um naipe de metais e o tecladista João Fera, produzem uma musicalidade rica de sonoridades distintas. Sozinhos no palco evidenciam sua competência como um Power trio. Trinca composta de baixista, guitarrista e baterista que, de tão talentosos, parecem duplicar-se no palco.

Fazendo parte da turnê Brasil Afora – que possui um registro ao vivo, disponível em cd e DVD – apenas duas canções do álbum estão presentes no repertório. Dupla modesta em comparação com os poderosos hits que a banda produziu desde sua fundação.

A escolha pelo arsenal pesado não poderia ser mais feliz. Ainda que uma parcela do público contemple as novas canções, são a maioria, que conhecem apenas os grandes sucessos, que esgotam ingressos ou, no caso de um show gratuito, causam lotação. Optar por introduzir o último álbum, como um aperitivo, pode conquistar novos fãs e agradar os antigos.

Com dezenove discos na careira, sendo doze de estúdio, a banda possui longo repertório. Capaz de realizar um show de boa duração, com vinte e cinco canções e ainda deixar de fora medalhões como Mensagem de Amor, Selvagem e Trac-Trac.

O rock brasileiro hoje apresenta um envelhecimento geral de suas banda antigas. Muitas delas já sem fôlego, com álbuns inexpressivos, salvando-se, ainda, em shows ao vivo. É nesse contexto que Os Paralamas mantem-se como a banda que, ainda hoje, produz álbuns de estúdio com qualidade e apresentam um show primoroso, conquistador de público.

A apresentação em questão foi o terceiro show que assisti da banda e, como evidência do talento do trio nesse longo caminho até aqui, o resultado foi mais uma noite inesquecível de boa música.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Eric Clapton, Eric Clapton World Tour, 12 de Outubro, Morumbi - São Paulo

Por Victor Caparica



1- Key To The Highway
2- Tell The Truth
3- Hoochie Coochie Man
4- Old Love
5- Tearing Us Upart
6- Driftin’ Blues
7- Nobody Knows You When You’re Down And Out
8- Lay Down Sally
9- When Somebody Thinks You’re Wonderful
10- Layla
11- Badge
12- Wonderful Tonight
13- Before You Accuse Me
14- Little Queen Of Spades
15- Cocaine
(Bis)
16- Crossroads



Gary Clark Jr. nasceu em 1984 no Texas de Stevie Ray Vaughan, e muito jovem aprendeu a extrair arte das cordas da guitarra. Aos 15 anos, já era profissional e reconhecido, aos 18 já fazia grandes concertos e aos 25 já havia tocado no Crossroads Festival, que definitivamente não é pouca coisa. Seu estilo musical é arrojado, agressivo, deslizando sempre pela linha que separa a distorção da poluição musical. Seus riffs são contagiantes, cheios daquele swing Texano tão característico do Z. Z. Top. Enfim, Gary Clark Jr. É um prodígio, uma revelação e uma promessa bastante crível para uma renovação criativa do blues negro do Sul dos EUA.

No último dia 12 de Outubro, Gary Clark Jr. Recebeu o privilégio de abrir para Eric Clapton no estádio do Morumbi em São Paulo. Torci o nariz logo de cara. Paguei para ouvir o Clapton, não para ouvir esse tal de sei-lá-eu-quem-Clark. Me enforquei na própria língua. Com acordes poderosos e um R&B que faz tempo que não se ouvia, o jovem Clark Jr. Arrebatou aplausos eufóricos de toda a platéia, que como eu ficou impressionadíssima com a habilidade do rapaz.

Trinta minutos depois, Eric Clapton entrou no palco. Cinco minutos depois, Gary Clark Jr. tornou-se pequeno.

É difícil descrever com objetividade o show de Eric Clapton em São Paulo, apresentação que encerrou sua passagem pelo Brasil em 2011. Pontualidade foi só a primeira característica do show exemplar: Mr. Clapton entrou no palco às nove em ponto, para um espetáculo de quase duas horas. A entrada já deu o tom da noite, com Key to the Highway de Charles Segar, o primeiro de vários covers primorosos do blues.

Os clássicos continuaram com Tell the Truth (do Derek and the Dominos), esquentando os reatores para Hoochie-Coochie Man, do mestre Muddy Waters, o inventor da eletricidade. Feitas as primeiras homenagens, Clapton adentrou seu próprio repertório com Old Love, em uma versão maravilhosamente repleta de solos inacreditáveis, uma verdadeira aula de virtuosismo e uma demonstração única daquele “mojo” indefinível que constitui o verdadeiro bluesman. Mais dois covers, agora de Johnny Moore e Jimmy Cox, respectivamente com Drifting Blues e Nobody Knows You When You’re Down and Out. A essa altura do show, posso dizer que meus conceitos de guitarra no blues já estavam sendo reformulados. Claro, ouvi Eric Clapton desde a adolescência, mas o efeito catarse transmitido pela apresentação ao vivo é algo que vai além do limite do playback e separa grandes instrumentistas de verdadeiros demônios do blues como Eric Clapton.

A noite continuou com Lay Down Sally, música mais animada que fez todo mundo cantar no refrão. Para mim, no entanto, a surpresa mais agradável da noite foi a versão acústica e ainda mais lenta de Layla, um dos maiores clássicos do mestre Clapton, seguida por Badge e pela balada Wonderful Tonight.

A reta final ficou por conta de Before You Accuse Me, do inesquecível Bo Didley, Little Queen of Spades de Robert Johnson e é claro, Eric Clapton não sairia vivo do Morumbi se não fechasse com o estádio inteiro em uníssono gritando a plenos pulmões o refrão de Cocaine.

O bis foi curto, talvez minha única crítica honesta ao show. Podia ter colocado mais duas músicas depois de tocar Crossroads, também de Robert Johnson. Mesmo assim foi muito bom, e nessa saideira com o blues da encruzilhada, Gary Clark Jr. Voltou ao palco para tocar com Slowhanded Clapton. Na totalidade, o show foi um dos pontos altos da cena brasileira de shows internacionais em 2011, e deixou muitas lembranças muito boas.


sábado, 13 de agosto de 2011

Alta Fidelidade: 24 Horas e o ápice da ação





São raras produções que utilizam, na progressão de sua narrativa, a estética do tempo real. Desencadear cenas sem espaçamentos temporais é um processo que, se não bem realizado, dificulta a ação e não obtém sucesso.

Em 1995, Johnny Depp e Christopher Walken estrelaram um longa que utilizava tal estética. Tempo Esgotado apresenta Depp como um homem comum que, para salvar sua filha seqüestrada, precisa executar a governadora da Califórnia em um curto prazo de tempo. A ação, boa parte realizada em um shopping, mantém a tensão devido a personagem contra o relógio.

O tempo como um dos pilares que movimentam a trama esteve presente também em 88 Minutos, filme de Jon Avnet, com Al Pacino como um professor universitário que ganha o prazo do título para resolver um crime que pode envolvê-lo.

Ainda que não inédito, o conceito de tempo real sempre foi explorado de maneira isolada. Até 2001, precisamente em dezembro, quando a Fox americana exibiu o primeiro episódio da série que se consagraria como um marco no recurso e tornaria-se uma grandiosa história de ação.

24 Horas, desde o título, demonstra a urgência de sua narrativa. Enquanto um enredo tradicional de uma temporada desenvolve-se em vinte e quatro episódios que costumam abranger um ano das personagens, aqui a aventura concentra-se em um dia completo.

Situações limites, impostas sempre em seu início. Ação, drama tenso e reviravoltas tornaram-se elementos comuns no roteiro que fundamentou a estrutura da série. Apresentando diversos planos diferentes de ações na mesma hora, delineando a sensação da realidade e do simultâneo.

Ainda que estruturalmente seu roteiro mantenha-se igual nos oito anos de produção, sua figura central, Jack Bauer, sofre grandes transformações. De um renomado agente contra terrorismo, Bauer galga-se como herói de grande representação. Cada dia fatídico vivido por sua persona aprofunda o abismo de sua personalidade. Contornos humanos perdem dimensão, tornando-o um homem quase impenetrável, cujo suporte maior é reger-se apenas pela lei. Sendo capaz de, por ela, sobreviver as mais terríveis agonias e voltar, como todo herói, intacto, mais centrado e agressivo.

A ação projetada na tela nada deve a uma produção cinematográfica. Composta de maneira cuidadosa tanto no roteiro, na concepção de personagens e em detalhes que podem passar despecebidos pelo público. Como a continuidade cuidadosa que convence que a história gravada em oito meses parece, de fato, estar centrada em um único dia.

A série apresenta uma narrativa crua e violenta, não vista na televisão desde Nova York Contra o Crime. Centrada a partir da CTU, Unidade Contra o Terrorismo, não se poupam cenas de tortura, morte e agentes treinados para usar qualquer elemento a procura de culpados.

A violência exibida na série foi alvo dos direitos humanos, gerando pronunciamento de diversos órgãos contra as cenas violentas, nos quais alegaram que a realidade fora amplificada exageradamente. Uma evidente subestimação da observação pública perante notícias de guerra diária em jornais.

A temporalidade fiel, elementos próximos da realidade conhecida, acrescidas a um personagem heróico – que abdica de seu próprio bem para um bem maior – formularam o sucesso da série.

Seu primeiro ano, envolvendo Jack Bauer em uma conspiração para matar o canditado David Palmer, foi o primeiro passo para apresentar um enredo inovador que, ao mesmo tempo, executa de maneira exemplar a cartilha dos bons clichês do gênero.

Embora cada vez mais imprecisa temporada a temporada, a sensação de tempo real registra pontos altos de tensão pelas pausas e desencadeamento de reações e reviravoltas que mudam o enredo.

Infelizmente, em alguns anos, a previsão de produtores e roteiristas ao estruturar os episódios falhou miseravelmente. Fazendo com que a grande ação central finalizasse horas antes do fechamento do dia. Evidenciando uma sub história trazida às pressas para cobrir as horas restantes.

Mesmo que as oito crises diárias apresentem oscilações, Jack Bauer tornou-se um inegável marco. Sua personagem expandiu-se além série, transformou-se em um ícone heróico. Símbolo que reflete a maneira contemporânea de se conceber um herói: aquele que luta pelo bem maior, acima de tudo. Não importando quais meios o levem a isso.

A série está disponível de maneira completa em DVD, no Brasil. Tanto temporada por temporada quanto na bela caixa que ilustra esse texto e que engloba todas as temporadas mais o filme A Redenção que se passa entre a sexta e sétima temporada.



Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que, hoje, apresentou a primeira análise de três sobre séries americanas. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana e nas próximas, séries em geral e três seriados atuais que já são um marco: 24 Horas, Lost e House M.D.

sábado, 6 de agosto de 2011

Alta Fidelidade: A Supremacia dos Seriados


Quem acompanha este espaço crítico, cuja ênfase maior é o cinema e as séries televisivas, perceberá que durante as análises intento estabelecer uma linha de raciocínio. Baseada em uma observação própria além das tendências lançadas nos últimos anos.

Não é necessário procurar com minúcias para notar que cinema e séries orientam-se, atualmente, em movimentos distintos. Ainda que possuam intersecções, encontram-se em um percurso diferente nos últimos dez anos.

Por trás do glamour cinematográfico, característica primordial que nos vem a mente ao pensarmos no cinema americano, há uma indústria da sétima arte. Que, com urgência, precisa de polimento e reforma nas engrenagens.

Apontar a pirataria e a expansão da internet como motivo de queda no faturamento de ingressos, recepção média do público, é um artifício fácil. A situação é mais intrincada ao analisar o interior de sua construção arcaica, descobrindo quais as conseqüências que levaram a este momento, considerado decadente.

A indústria não foi capaz de trabalhar com as formúlas que estabeleceu. Na incerteza, atores de grande porte perderam espaço para outros menores e com baixo talento, migrando de produções gigantescas do cinema-pipoca para obras menores. Quando não mudaram de carreira, tornando-se produtores, diretores e encontrando nas séries de televisão, espaço sem tanta força, um fôlego e recomeço.

O escopo para realização de uma obra seriada é infinitamente mais amplo que a produção cinematográfica. O custo é mais econômico, sendo possível fazer dois episódios, ou mais, com a verba de um filme. Apresentando-se uma vez por semana tem um termômetro mais certeiro. Se perde audiência, é cancelada. Se o público sente-se incomodado com alguma situação, ela é revertida em poucos episódios e mantém a audiência.

Em média, a cada temporada, há uma longa história diluída em aproximadamente 20 partes. Sendo possível trabalhar e construir melhor tramas e personagens. Espaço que permitiu que atores talentosos mas não tão conhecidos do público, mostrassem a potência de seu trabalho.

De maneira discreta, produtores começaram a apostar e investir em seriados. Primordialmente pelo potencial de seu enredo, não regidos por uma lei presente no cinema: um ator famoso é resultado de um filme bom e com bilheteria.

Um movimento que parecia arriscado anos atrás, desenvolver uma idéia apenas pela força de sua história, tornou-se um seguro caminho. Comprovando que mesmo que o público deseje ver seus atores preferidos em tela, um bom enredo é bem recebido.

Canais abertos e pagos da televisão americana começaram a produzir, anualmente, diversas séries que visavam conquistar o público mantendo a qualidade.

Por um lado, a indústria da sétima arte apresentava-se morna, sem muitos filmes excelentes nos anos que passavam. Espaço que fez parte do público voltar seus olhos para a televisão, fazendo com que um campo tão desolado na década de noventa, caísse no gosto do público.

Hoje somam-se dez anos de um caminho novo na produção de seriados americanos que supera por quantidade e qualidade o cinema. Recordes de audiência que comoveram multidões, ganharam fãs que deram início ao movimento serimaníaco que, em escala global, acompanham as temporadas semanalmente, em sincronia com os americanos.

A indústria seriada cresceu gigantescamente nos últimos anos. Desenvolveu, com precisão, começo, meio e fim de diversas histórias que não só envolveram o público como tornam-se um marco contemporâneo.

A totalidade de produções, nos últimos dez anos, é abrangente. Assim, foi necessário selecionar três grandes séries que serão analisadas individualmente. Escolhidas por, desde já, se tornarem referência, muita vezes inédita em seu lançamento.

24 Horas tornou-se pioneira do conceito de ação real, provando que a supremacia da ação não só pertence ao cinema. Lost fez o mundo parar a cada episódio com sua intrincada teoria conspiratória. E House M.D. que trouxe a tona a empatia do público, identificado no pesado anti-heroi, aquebrantado, mas brilhante.

Três histórias distintas que simbolizam parte do melhor que se produziu desde a retomada, em qualidade e também audiência. Conquistando espaço nas séries cativas do público.


Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que, hoje, apresentou um panorama das séries americanas. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana e nas próximas, séries em geral e três seriados atuais que já são um marco: 24 Horas, Lost e House M.D.

Apresentação

Na vasta rede de informações da internet brasileira, há em grande proporção sites e blogs voltados para a cultura. Tanto bons, quanto ruins, trazem um público cativo e destacam-se por alguma especialidade. Notícias, imagens, downloads, informações detalhadas e completas.

O intuito desse blog não é fornecer notícias, imagens ou downloads que podem ser encontrados em outros sites, maiores e melhores do que esse blog. Endereços acessados e lidos diariamente pelo autor.

Nosso desejo é construir um espaço em que filmes, séries, livros, discos e quadrinhos sejam bem analisados. Utilizando-se do prazer da arte sem esquecer de bons critérios para definir a obra. Escrever de maneira racional sobre as mais emocionais formas de arte, como disse o crítico Mauro Ferreira.

Produzir um endereço de conteúdo crítico sem a intenção agressiva de ser definitivo e único. Apresentando uma possibilidade, uma leitura dentre tantas que enriquece a multiplicidade da arte.

Se destacar pelo que se escreve, não pela pirotecnia. Pelo que se apresenta, de maneira coesa e coerente em cada análise, em cada crítica, não importando sobre o que seja.

É com essa idéia que após oito meses retomo este blog. Estreando um novo nome, em que endereço e título são iguais. Mas mantendo a afeição com Dr. House e seu mantra mais amplo e icônico: Todo Mundo Mente.

A paixão é um dos elementos que move esse blog. O brilho ofuscante, quase inumano, gerado pela arte. E a tentativa, sempre falha, de tentar em palavras reproduzir a potencia de seus arrebatamentos.

Sejam Bem Vindos,
Thiago Augusto Corrêa

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Battlestar Galáctica, Terceira Temporada

A Procura de Um Lar Chamado Terra

Foi apenas um sopro a esperança para os sobreviventes das colônias que buscavam em Nova Cáprica uma moradia, após a invasão cilônia que destruiu seus lares. Breves momentos até o retorno das máquinas e total rendição dos humanos, liderados pelo presidente Gaius Baltar.

Há um profundo senso dramático na terceira temporada de Battlestar Galáctica. Debruçada sobre o cerne humano e a gama emotiva dele, a narrativa dá maior enfoque as personagens do que a evolução como um todo.

O julgo cilônio contra a raça humana é feroz. Manifestam um discurso de paz e união entre as raças, mas usam a força para provar que estão à altura daqueles que os criou. Humanos que não desejam a harmonia com as máquinas, lutando em desvantagem contra elas.

A selvageria em Nova Cáprica é a lama criada pelos próprios antepassados. A dor e tortura que aflige Tigh na prisão, o cárcere amoroso de Starbuck, a covardia de Gaius Baltar são ecos do príncipio da história. De humanos que criaram robôs que se rebelaram.

A fé é um dos caminhos que mais se ilumina na terceira temporada. Sem exceção, personagens buscam se acolher em algo invisível e maior para ter esperança. Serem resgatados da opressão cilônica. Serem os lideres que acreditam ser. Encontrarem, finalmente, um planeta em que possam chamar de lar.

Há uma segmentação na ação dessa temporada, apresentando tanto a movimentação cilônia quanto em Battlestar Galáctica. Entre as dúvidas e amplitudes da fé, personagens procuram reencontrar seu caminho interno e aquilo que os guiará para a terra prometida. Anunciada até mesmo em escrituras.

A essências desesperada e inferior que nos faz humanos é capturada de maneira precisa em Gaius Baltar, que transita de presidente, a conselheiro dos cilônio a preso político por traição.
Sua sobrevivência vale-se de qualquer artifício para valer sua covardia de não assumir seus erros, agindo como um rato sempre a se preservar. Sua personagem dúbia entre loucura e uma espécie de divindade, apresenta um dos melhores momentos do ano quando é torturado por William Adama, em cena cujo talento de James Callis salta aos olhos.


O desenvolvimento da narrativa urge pelas questões apresentadas nas temporadas passadas. Finalizando um ato final que apresenta os últimos cinco cilônios e o julgamento de Gaius, visto como o grande traidor da humanidade.

Seu julgamento levanta um interessante ponto da trama. Vivendo em tempos agressivos, muitos atos realizados estão longe de serem louváveis. Culpar apenas uma pessoa por todos os males que causaram a destruição de uma massa humana serve como calmaria a um grupo de pessoas, mas se torna uma decisão contrária a tudo aquilo que a presidente Laura Roslin desejou. O perdão a Gaius reafirma a humanidade a uma massa que intenta sobreviver pela lei da força.

O desenlace final é uma grande espera do público e apresenta quatro personagens presentes na série que são reveladas como cilônios programados. O choque é a grande força que finaliza o penúltimo ano da série, produzindo uma sensação angustiante de que, desde o início, o inimigo esteve presente.

Porém, em um ambiente onde há tante hostilidade entre os próprios humanos, se torna difícil compreender, no final, quem estará ao lado de quem.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Semana em Filmes (26 a 31 de Dezembro de 2010)



Street Fighter - A Última Batalha (Street Fighter)


Dir. Steven E. de Souza



Anterior a massiva tentativa de filmes oriundos de jogos de vídeo game, uma ou outra produção conseguia ser lançada para deleite do público. Obras que adaptavam clássicos como Double Dragon, Mario Bros e Street Fighter que resultaram em estranhas adaptações, com sensação de perda de tempo e histórias que fugiam do contexto de seus jogos.
Em 1994, meu conhecimento sobre a sétima arte era limitadíssimo. O astro que eu iria admirar por seu estilo kitsch de ação, Jean Claude Van Damme, não era uma figura importante para mim, embora a produção que estrelava fosse aguardada de maneira ansiosa.
Assisti Street Fighter – A Última Batalha em um cinema lotado, ávido por conhecer como as personagens do jogo foram configuradas para a tela. Em uma sala cheia, foram gritos, urros e aplausos de uma massa de fanáticos que, provavelmente, muito tempo depois chegaram a conclusão que a produção além de um argumento nada original, modificava muito o conceito do jogo.
Com enfoque extremo para Van Damme, então um astro de marca maior, sua personagem, o Coronel Guile, se torna o centro da ação. Liderando um grupo de militares que luta contra o General M. Bison. As personagens do jogo se apresentam de maneira esporádica na história. O lutador de sumo Honda, vira o câmera man de Chun Li que além de lutar para salvar o mundo é uma repórter do canal GNT. O lutador indiano Dhalsim se transformou em um cientista obrigado a trabalhar para Bison, criando um soldado perfeito – curiosamente, amigo de Guile – Blanka.
A produção dessa adaptação insossa foi calcada em diversos problemas. No inicio das filmagens não havia roteiro pronto, obrigando atores a rodar as cenas disponíveis e improvisar sempre que possível. Chegou-se em um ponto que desistir parecia possível mas, após tanto dinheiro investido, finalizaram aquilo que se chamava de roteiro para que fosse possível terminar as gravações.
Com o distanciamento do lançamento da produção, relançada em uma edição de luxo por causa do segundo filme da série – edição que não tem nenhum material excelente para ter esse nome – a produção vale a pena pela sua construção esdrúxula, beirando o kitsch.
Algumas cenas ainda trazem boas memórias por causa de sua referência a Street Fighter 2, como os golpes de Ryo, Ken e Guile, a boa caracterização de Vega e as acrobacias anti gravidade de Mr. Bison, um personagem difícil de ser vencido.
Além da soma de defeitos, o filme é o último de Raul Julia, o ponto mais alto do enredo. Embora já abatido por sua doença, apresenta um clássico vilão de filme B, que intenta dominar o mundo a qualquer custo.
Em comparação com outra produção antiga adaptada de um videogame, Mortal Kombat, Street Fighter – O Último Combate é diversão mais genuína. E se torna impossível não rir do final que frisa a imagem dos heróis com o logo do jogo sobrepondo-os.





O Terminal (The Terminal)

Dir. Steven Spielberg



Steven Spielberg, a parte seu grande apelo populista como um dos maiores diretores de Hollywood, é um homem de grande talento. Desde sua estréia na direção alterna estilos diferentes de produções e, raramente, falha na execução das mesmas. Acostumado apresentar histórias sérias ou divertimento pipoca, suas últimas produções conseguiram um interessante equilíbrio entre tais pólos. A.I. – Inteligência Artificial retoma uma história de Stanley Kubrick que, embora estragada pelo senso moral do diretor, tem certo brilho. Minority Report – A Nova Lei mergulha em uma crueza narrativa de ficção científica sem nenhum maneirismo amenizador. Prenda-me Se For Capaz é uma deliciosa história de um falsário que demonstra a boa forma do diretor e de Leonardo de Caprio e Tom Cruise .
O Terminal é a última produção dessa seqüência de boas histórias, apresentando a medida certa de humor e drama sem sair de linha. Tom Hanks novamente volta a trabalhar com Spielberg na inusitada e sensível história de Viktor Navorski, um cidadão oriental que quando chega a Nova York descobre que seu país está em guerra, o que impede que ele adentre os Estados Unidos, ficando preso em um dos maiores aeroportos do mundo.
Aproveitando-se de seu abundante talento, Hanks apresenta uma personagem carismática que, perdido em um mundo que não conhece, é obrigado a se adaptar aos poucos até que consiga resolver seu imbróglio contra a imigração.
Preso a um terminal restrito, sem ter como voltar para sua casa, sua vida se torna o terminal, onde milhares de passageiros atravessaram diariamente. É nesse cenário restrito que Viktor aprende a língua inglesa, encontra amigos que trabalham no local e até mesmo se interessa por uma aeromoça que a cada quinze dias faz escala na cidade.
A história ressalta o elemento maravilhoso devido a sua leveza. Seus contornos mais profundos estão no simbolismo de seu sentido, na compreensão de uma sociedade em que muitos perder a idéia do que é um lar, em oposição a um homem que possui um lugar que ama mas não pode voltar a ele. Contrapõe as rédeas de aço do sistema contra alguém que deseja apenas cumprir uma promessa ao pai. Um tipo de história leve e sensível cujo espaço tem sido reduzido entre os fraco cinemas pipocas apresentados nos últimos anos.





O Âncora (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy)

Dir. Adam McKay


Will Ferell é um comediante particularmente estranho. Algumas de suas piadas são as mais tradicionais do gênero, vistas em milhares de outros filmes, outras são genuínas de seu estilo sempre exagerado. A somatória dessa afetação resultam em personagens impossíveis de não serem engraçados.
Sempre personificando tipos que estimam-se como os melhores, no que fazem, no estilo de sedução, na voz, ou em qualquer característica excêntrica, Ferell é Ron Bungundy. Um âncora que, na década de 70, era considerado o melhor em São Diego. Seu carisma nos jornais é proporcional a sua imaturidade e estupidez, um charme para um papel que necessita de um ator que passa credibilidade nas situações mais estaparfúdias.
Ao lado de seus amigos do canal, sua popularidade vai bem. Até que a emissora central decide contratar uma mulher como co-âncora e a situação transforma a vida de Bungundy em uma guerra.
É a vasta seleção de piadas que mantém o bom tom da produção. Ferell e sua trupe, que apresentam Paul Rudy e Steve Carell – até então não queridinho do público – vão desde piadas referenciais, humor negro e cenas envolvendo ereções em um piscar de olhos. Tratando-as como elementos naturais da trama, a mistura se torna envolvente, sendo impossível não agradar em algum momento o público.
Evidente que o resultado é uma conseqüência sem igual sem sentido nenhum, se levarmos em conta a lei natural das coisas. Mas esse é uma das grandes qualidades do humor. Explorar situações normais em suportes absurdos e deles criar um particular plano de narrativa.







Furia de Titãs (Clash of the Titans)

Dir. Louis Leterrier

Produções com enfoque épico ganham ou tratamento de respeito na mão de bons diretores, como a excelente trilogia do Senhores dos Anéis ou transformam-se em produto de marketing para atrair público que constantemente se interessa por assuntos que envolvem mitologias.
Regravação de filme do mesmo nome, feito com efeitos em stop motion, Fúria de Titãs intencionava ser uma grande produção pipoca envolvendo a mitologia e a exploração do recurso em terceira dimensão.
Com direção do bem mediano Louis Leterrier, e um enfoque altamente comercial, havia poucas chances de que a produção se tornasse algo significativo. Além disso, devido a grande demanda de conversão de blockbusters em terceira dimensão e poucas empresas para realizar tal feito, dizem que a versão em terceira dimensão do longa metragem é uma das piores já produzidas. Fazendo com que alguns filmes antigos não pareçam tão ruins.
A trama da produção foca-se em Perseu, um semideus que precisava salvar os humanos da ira de Hades que cansado de suportar as falhas humanas, ameaça destruí-los convocando o Kraken, um monstro marinho. Com a ajuda de seu pai, o deus Hades, Perseu se aventura para encontrar uma maneira de deter tal monstro.
A caracterização das personagens não poderia ser mais tradicional. São clichês elementares, sem uma tentativa de idealizar os deuses sem uma idéia imaginária já vista e revista. Zeus, interpretado por Liam Neelson – que aceitou o papel por suas filhas gostarem de mitologia – possui uma armadura brilhante, vivendo em um Olimpo cheio de nuvens e outros elementos claros. Enquanto Hades, um Ralph Fienes empurrando com a barriga sua personagem, apresenta-se pálido, com a voz rouca, como é costume imaginar o rei do mundo dos mortos.
A exibição de Fúria de Titãs foi a primeira que assisti em um novo sistema de imagem e som desenvolvido nos últimos anos, o BluRay. Os filmes para o formato possuem 1024 linha de resolução, garantindo uma perfeição que salta os olhos nas imagens, quando colocada em uma televisão que também apresenta esse sistema, e um som normalmente em 5.1 ou superior. Mesmo que a produção falhe na tentativa de consagrar-se como um blockbuster, é inegável que as imagens são bem produzidas e, exibidas em alta definição acrescidas de um som com alta fidelidade, dão uma nova concepção do sentido de assistir um filme em casa.
A edição em Bluray do filme acompanha a versão original. Porém, algumas locadoras estão locando somente o filme novo, mesmo que na capa avise que ambos estão disponíveis. Portanto, exijam as duas produções sem acréscimo de preço.