terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Batman: Ano Um

(Batman: Year One, 2011)
Diretor: Sam Liu, Lauren Montgomery
Elenco: Bryan Cranston, Ben McKenzie, Eliza Dushku, Jon Polito, Alex Rocco

A DC Animated Universe tem realizado um bom trabalho em animações direcionadas para o home vídeo. Realizam com consciência as adaptações de suas tramas e sempre optam por histórias fechadas que funcionem de maneira a entregar um bom filme sem que o espectador tenha que ser leitor das revistas em quadrinhos.

Recentemente, a editora tem investido em histórias clássicas, definidoras dentro do universo da personagem. A ideia é positiva, porém um tanto perigosa. Conhecemos tais histórias clássicas pela composição de narrativa e desenho. Uma adaptação pode ser um risco se muda os traços da história ou tenta amenizar o texto original.

Em Batman: Ano Um os traços de David Mazzucchelli e cores de Richmond Lewis são emulados para que a adaptação tenha semelhanças com a versão original. A composição escura e um tanto assustadora se perde por causa da formatação. Há cenas retiradas com perfeição do gibi, outras estilizadas em exagero, resultando em um pequeno desequilíbrio.

Mesmo com a pouca metragem, o ritmo não é tão frenético quanto no original, que abrange um longo espaço de tempo em cenas curtas, apresentando a evolução de Batman em sua jornada inicial de herói e Gordon reconhecendo a corrupção de Gotham. A tentativa de não perder o formato criado por Frank Miller retira a pouca liberdade que a animação poderia ter, escondendo tanto o herói que a história mais parece apenas o ano um de Gordon, e não o ínicio da longeva parceria dos amigos.

A transposição da história para as telas, como aconteceu com o também clássico O Cavaleiro das Trevas, tira parte de sua identidade e não consegue uma nova à altura. Os desenhos bem compostos, com estilo cinematográfico, são bonitos por si, mas parecem destoar do elemento original e não apresentar uma das melhores histórias do morcego à altura.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Atração Perigosa

(publicado originalmente no blog Vortex Cultural)

(The Town, 2010)
Diretor: Ben Affleck
Elenco: Blake Lively, Ben Affleck, Jeremy Renner, Jon Hamm, Rebecca Hall, Brian Scannell, Jeff Martineau

Depois de surpreender o público com uma boa direção em Medo da Verdade, Ben Affleck dá sequência a sua nova carreira sem se desapegar de uma história policial. Atração Perigosa comprova que Affleck não teve sorte de principiante e, ao contrário de sua naufragada carreira como ator, apresenta domínio ao narrar uma história.

Baseada no romance Prince Of Thieves, de Chuck Hogan, a trama se passa em Boston, no bairro de Charlestown — alardeado no início do filme como um local conhecido pelo alto índice de assaltos a banco, um ambiente em que pais passam seus ensinamentos aos filhos como uma tradição.

Doug MacRay (Affleck) é o mentor de um grupo de ladrões que, mesmo em um assalto bem sucedido, decide levar uma refém como segurança. Encarregado de resolver a situação, Doug se aproxima da moça à procura de um novo rumo para sua vida.

A tensão se produz tanto dentro do próprio grupo, com MacRay desconfortável ao executar um novo golpe que colocaria o grupo em desnecessário destaque em investigações policiais, como na relação que estabelece com a vítima Claire, que acreditar viver um relacionamento saudável.

Além da direção bem executada também nas cenas de ação, a fotografia de Robert Elswit destaca a crueza do ambiente de uma cidade que não parece encontrar espaços para a ternura e para novas oportunidades de mudança de vida. Porém, a temática de ladrão arrependido que busca mudar de vida não é nova.

Com a receptividade positiva do filme, Affleck reconquistou parte do carisma perante ao seu público e planeja realizar uma continuação desta trama que, mesmo com algumas qualidades evidentes, me deixa com a sensação de que poderia ser melhor. Ainda que não consiga explicar a razão.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Irmãos de Sangue

(Leaves of Grass, 2010)
Diretor: Tim Blake Nelson
Elenco: Edward Norton, Melanie Lynskey, Susan Sarandon, Keri Russell, Richard Dreyfuss, Tim Blake Nelson

No período entre 1996 e 2006, Edward Norton realizou uma sequência de bons filmes cujas interpretações eram sempre apuradas. Ao observar que nesta produção o ator se encarregaria de dois papéis, é inevitável não se lembrar de As Duas Faces de Um Crime que também exigiu do ator duas interpretações distintas.

Depois de uma década repleta de sucessos, Norton aparentemente optou por filmes menores, além do destaque em O Incrível Hulk que, mediano em todos os aspectos, não chamou atenção por sua atuação que foi substituída no filme seguinte da Marvel por Mark Ruffalo.

Irmãos de Sangue narra a histórias de dois gêmeos que, como segue a tradição, são completamente opostos. Bill Kincaid é um professor de literatura latina que há anos não vê seu irmão, o irresponsável vendedor de maconha artesanal Brady. Ao receber uma ligação da morte do irmão, Bill vai até a cidade que nasceu em reencontro a família para descobrir que a situação fora apenas um embuste do irmão que deseja, usando a figura dupla dos irmãos, criar um álibi perfeito.

O filme é classificado simultaneamente como drama, comédia e humor negro. As diferentes classificações em sites especializados provam que não há um consenso a respeito do estilo da história. É uma dessas narrativas agridoces que funcionam se vistas por um humor que ri do bizarro da situação de uma família com uma mãe meio maluca e filhos obsecados por sucesso ou por colher a droga perfeita.

O título original evoca um livro famoso do poeta Walt Whitman mas, exceto em uma cena que ele é comentado, não tem nenhum sentido aparente com a trama ou passou desapercebido por mim. Mesmo que se leve em conta o talento de Norton em realizar dois papeis, a história não produz nenhuma empatia. Não a toa o filme não teve quase nenhum destaque.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jogos Mortais 2

(Saw II, 2005)
Diretor: Darren Lynn Bousman
Elenco: Tobin Bell, Shawnee Smith, Donnie Wahlberg, Erik Knudsen, Franky G, Glenn Plummer, Emmanuelle Vaugier, Beverley Mitchell

Sem receio nenhum de perder a qualidade, Jogos Mortais 2 deixa o equilíbrio da primeira produção para se dedicar a uma trama mais violenta, atendendo ao desejo do público. Seguindo a tradicional regras de continuações, tudo é amplificado e mais violento. O banheiro abandonado com duas personagens cede espaço para um grupo maior, preso a uma casa, dentro do jogo de Jigsaw em que nada é o que parece ser.

Nos bastidores, esta segunda produção marca uma característica importante na franquia: a rapidez em executar as gravações e produção. Filmado em apenas 25 dias com uma janela de três a quatro meses para seu lançamento nos cinemas. Um produto feito com a maior velocidade possível.

Como no anterior a trama tenta explicar o passado dos jogadores por meio de flashbacks. Pontuando o público para compreender as motivações que levaram o vilão a encarcerá-los. A parte policial perde o elemento investigativo, que não é o foco da história, deixando-a em segundo plano. Embora haja um embate direto entre Jigsaw, debilitado pelo câncer, e a polícia.

A inteligência é o maior destaque do vilão. Embora suas armadilhas se tornem, com o tempo, elaboradas e exageradas  sua coerência macabra é o que sustenta a personalidade que o transformou em um vilão pop da década passada.

A trama da franquia Jogos Mortais se desenvolve em curto período de tempo, sempre expandido a cada nova produção com histórias paralelas e novos personagens que se tornam importantes para a trama. Sendo o primeiro destes, Amanda Young, apresentada aqui.

Mantendo o estilo de desfecho do filme anterior, há uma reviravolta no ato final. A primeira, de muitas, que poderia ser esquecida por nada acrescentar. Ainda que inferior a primeira trama, mantém um bom ritmo sem se entregar totalmente ao sadismo que seria exagerado na sequência seguinte.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Trekkies 2

(Trekkies 2, 2004)
Direção: Roger Nygard
Elenco: Denise Crosby

Em 1997, a atriz Denise Crosby que interpretou a tenenta Natasha Yar de Jornada nas Estrelas – A Nova Geração estrelava e produzia o documentário Trekkies dedicado a compreender a adoração à série Jornada nas Estrelas. Sete anos depois, Crosby mergulha neste universo tentando, mais uma vez, demonstrar as origens do fanatismo e a paixão universal pela serie.

Trekkies 2 acredita na potência de suas próprias histórias e imagens. Sem um embasamento crítico que explique a composição de uma adoração ou fanatismo, a produtora acompanha diversos eventos globais dedicados a série, conhecendo desde aqueles que assistiram todas as versões da série como quem só usa roupas da federação e se dedicaram a compor filmes e ambientar o próprio apartamento como uma das naves de comando.

Se o fanatismo exagerado sempre produz algum incômodo, é interessante ouvir a opinião pelo outro lado. Pessoas dedicadas que se sentem deslocadas pelo seu gosto e encontram nesses círculos de amizade uma maneira de se manter fiel a si. Trazendo a tona de que o senso comum sempre tem medo daquilo que parece anormal.

Durante a apresentação de diversos tipo de fãs encontramos os mais extremado que justificam a importância da série em sua vida. Há figuras ilustres como uma senhora que foi júri de um julgamento trajando as roupas da federação e, embora tal fato não tenha alterado em nada a questão judicial, a transformou na figura mais popular da cidade.

Por ter trabalhado na série, a produtora não julga nenhum dos fãs, embora não procure nenhum especialista para explicar a origem do fanatismo. Mas dá o espaço necessário para que todos se pronuncie, além de alguns atores do seriado.

O ponto mais alto do documentário é o retorno de um garoto que participou de cenas do primeiro. Alguém que sofreu por ter se apresentado como um excêntrico extremista. Agora mais velho, o rapaz ri de seu próprio fanatismo e daqueles que fizeram piadas a seu respeito chamando-o de fracassado devido ao gosto pela série. É a prerrogativa para que outros e parte do elenco da série exponham suas opiniões sobre o fanatismo, definindo que, sem incomodar ninguém, os devotos estão certos em expor seu amor pela série.



terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Romeu Tem Que Morrer

(Romeo Must Die, 2000)
Diretor: Andrzej Bartkowiak
Elenco: Jet Li, Aaliyah, Anthony Anderson, Edoardo Ballerini, Jon Kit Lee, Isaiah Washington, Russell Wong, Delroy Lindo, D.B. Woodside

O sul coreano Jet Li aceitou ser o vilão em Máquina Mortífera 4 com a condição de estrelar outra produção em que fosse um herói. Romeu Tem Que Morrer marca o primeiro filme solo de Li nos Estados Unidos e testa sua força como personagem de ação central em uma história.

Dialogando com a trágica historia de Romeu e Julieta, Han Sing vem ao Estados Unidos investigar a morte de seu irmão, mas conhece Trish uma garota da gangue rival. Embora tenham tido um pequeno contato, é o suficiente para que o jovem se apaixone pela garota enquanto investiga o que ocorreu com o irmão.

Produzido por Joel Silver que, na época, colhia o excelente sucesso de Matrix, o filme coloca Li no mesmo estilo de coreografia que se tornaria dominante na época. Repleto de acrobacias impossíveis que brincam com a gravidade em meio a golpes realistas de arte marcial.

Grande destaque da trama se deve por conta dessas lutas e de um efeito especial que acompanhava a profusão dos golpes dentro do corpo da vítima, apresentando uma explicação explícita de como este ou aquele golpe era sentido dentro da batalha.

Durante a composição de vingança e tensão que permeia as duas gangues, o romance surge de maneira forçada, como pausa para a violência apresentada. Surge neste ponto a inferência com a tragédia shakesperiana, de dois jovens rivais que não poderiam ficar juntos.

Muito mais pela qualidade das cenas de luta, estilo que contaminaria por ano produções desde estilo, do que por sua trama, Romeu Tem Que Morrer é até hoje lembrado por muitos embora não seja um filme espetacular. Funcionou positivamente para Jet Li como porta de entrada para o cinema americano.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Olhos de Dragão

(Dragon Eyes, 2012)
Diretor: John Hyams
Elenco:Jean-Claude Van Damme, Peter Weller, Cung Le, Luis da Silva Jr., Monica Acosta

Ser o vilão central em Os Mercenários 2 deu um pouco de gás a carreira decadente de Jean-Claude Van Damme. Mesmo sem o prestígio anterior, o astro ainda estrelava produções diretas para home video, provando que mesmo velho ainda tinha um pequeno público cativo. Assisti Olhos de Dragão por ser fã do belga, mesmo sabendo desde o incio que este filme utilizaria de sua fama para dar um pouco de brilho a uma história comum, destacando-o nas imagens, mesmo não sendo a personagem central.

Desenvolvido em dois momentos temporais, a história apresenta Hong, um novo morador de um bairro dominado por duas gangues e sua tentativa de pacificar o local. Com diversas cenas sobre seu passado, descobrimos que a personagem foi aprendiz de Tiano, papel do mestre Van Damme.

As cenas de ação utilizam o recurso da câmera lenta, saturado pela década anterior. Mesmo sendo um recurso repetido, as cenas são bem dirigidas por John Hyams, tanto nas lutas físicas como nos tiroteios coreografados. A grande problemática são os espaços entre cada cena de ação. Não há um roteiro que, ao menos, explique a função das personagens e suas motivações em cena. Dando-nos a impressão de serem pequenos episódios de ação colocados de maneira aleatória pela edição.

A tentativa de realizar um roteiro com mais substância falha completamente, deixando o público por mais de uma hora perdido até descobrir a intenção da personagem central. Mas após uma hora sem rédeas, não haveria reviravolta ou argumento que salvasse a produção de se destacar apenas pela ação. Melhor seria se fosse uma história simples e que divertisse mais.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Anônimo


(Anonymous, 2011)
Diretor: Roland Emmerich
Elenco: Rhys Ifans, Vanessa Redgrave, Sebastian Armesto, Rafe Spall, David Thewlis

Afastando-se do tradicional costume de produções com desastres e catástrofes mundiais, Rolland Emmerich se volta para uma teoria a respeito da origem do dramaturgo William Shakespeare, polêmica fundamentada por um estudioso em décadas passadas, afirmando que um dos maiores da literatura mundial era apenas um ghost writer de um nobre inglês.

Antes que o absurdo gere protestos ou reclamações, Anônimo é um interessante exercício shakespereano. A trama inicia-se no próprio teatro com um ator apresentando a importância do dramaturgo e pedindo ao público um pouco de audácia para ouvir uma outra história sobre a origem deste mito. É a partir dessa história dentro da história – elemento clássico do autor – que conhecemos seu argumento.

Um dos fundamentos principais para afirmar que William Shakespeare foi apenas um objeto de um escritor desconhecido se relaciona ao pouco material histórico encontrado do dramaturgo. Como um mero ator de teatro, há quem afirme que William não teria formação suficiente para escrever as peças e o fato de ter morrido sem nenhuma posse confirmaria sua função de fantasma. Afirmações que vão contra uma gama vasta de escritores que, mesmo iletrados ou sem uma formação acadêmica, produziram grandes obras literárias.

No filme, o autor das conhecidas histórias mundiais viria da pena de Conde de Oxford, um apaixonado pelas letras mas que, oprimido pela família, prefere compor suas obras as escondidas. Encontrando na figura deste dramaturgo a possibilidade para escoar, de tempos em tempos, sua produção, alimentando a lenda de William Shakespeare.

Leitores que possuem afinidade com o bardo podem reclamar do exagero da narrativa mas não devem deixar de admirar diversas cenas famosas de suas peças que, mesmo entrecortadas, aparecem em cena em diversas apresentações. Pois, a potência de Shakespeare foi tão grandiosa que atraiu a própria Rainha além das massas populares que lotavam o teatro para assistir suas obras.

A produção de Emmerich tem um figurino tão apurado que mereceu a indicação ao Oscar. É curioso compreender porque diretor tenha se interessado por uma história que nada tem a ver com seu projeto constante de destruição mundial. Mesmo valendo-se de uma teoria fraca que tem mais imaginação do que realidade, a história é divertida e não deixa de ser um exercício de questionamento sobre a potência de grandes escritores. Mais importante é que o público saia deste filme desejando saber mais sobre Shakespeare, debruçando-se em sua obra única e ilimitada. Mesmo que Shakespeare não tenha sido este que conhecemos, a força de suas histórias falam por si só.