quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Moska, Muito Pouco


Artista: Paulinho Moska
Álbum: Muito / Pouco (Vendido em formato duplo ou separado)
Gravadora: Biscoito Fino
Ano: 2010

Muito:
1. Devagar, Divagar ou de Vagar?
2. Muito Pouco
3. Deve Ser o Amor
4. Canção Prisão
5. Soneto do Teu Corpo
6. Ainda
7. Pêndulo
8. Quantas Vidas Você Tem?
9. Antes de Começar

Pouco:
1. Semicoisas
2. O Tom do Amor
3. Sinto Encanto
4. Nuvem
5. Waiting For the Sun To Shine
6. Provavelmente Você
7. Oh My Love, My Love
8. Não
9. Saudade


A carreira musical de Paulinho Moska, ou simplesmente Moska, é marcada por transformações que parecem calcar-se na evolução pessoal do artista. Apresentando um músico atento ao seu tempo e, principalmente, capaz de fazer de seu sentimento força motriz para suas canções.

Em 2001, no álbum Eu Falso da Minha Vida o Que Eu Quiser, apresentou um coeso e triste panorama sobre o vazio do final do amor. Renasceu em 2003, com Tudo Novo de Novo, álbum que retomava sua lírica extremamente rica em poética e explorava tanto sentimentos (Pensando Em Você) como visava reflexões – e reflexos – maiores (O Jardim do Silêncio).

Antes de apresentar um novo álbum, gravou em 2007 um prologamento de seu álbum anterior, + Novo de Novo, show ao vivo que, pela segunda vez na carreira, registrava sua evolução. Os sete anos do último álbum de estúdio eclodiram em um projeto duplo, chamado Muito Pouco.

O conceito de duplos ou múltiplos não é elemento novo em Moska. Desde Tudo Novo de Novo que músico mistura sua imagem desfigurada em reflexos com as canções, fabulando um conceito que se expande além do som. Toca o visual e o cênico.

Muito Pouco retoma o conceito plástico de seu trabalho. As capas, apresentadas em branco e preto, direcionam sua intenção. Em Muito, álbum gravado com a banda e com faceta mais pop, o músico parece gigante que cospe um vasto mar, afirmando uma intenção maior. Em Pouco, álbum intimista de voz e violão, o mar ganha destaque em relação a um homem que parece, evidentemente, menor em proporção.

A criação espontânea dessa multiplicidade, o público e o íntimo, fundamenta a coesão de ambos os álbuns formados por nove faixas cada.

Não há como não verificar certos paralelismos presentes em Muito com seu álbum anterior. Se na primeira faixa de Tudo Novo de Novo, de mesmo título do álbum, falava-se em um recomeço, Devagar, Divagar ou de Vagar? versa sobre o as mudanças estabelecidas, o resultado do ponto final criado no álbum anterior.

Tem-se a impressão que o compositor novamente está em casa, deixando prevalecer nas composições um sentimento simples sobre o amor, sobre a chama que surge dentro dele, sem deixar de lado as canções que adentram questões mais existenciais de nós.

Muito Pouco, já gravada em uma composição visceral de Maria Rita no álbum Segundo, ganha mais ritmo. Um outro tom que não perde as inversões de sentido criadas na letra. Ainda, que retrata em um delicioso ritmo a possibilidade de um amor possível parece evolução natural de uma canção esperançosa mais incerta como Reflexões e Reflexões.

A habilidade de Moska em versar sobre o amor sem repeti-lo é impar. Projetando no final do álbum a sensação de que ouvimos diversas histórias. Talvez do mesmo amor, porém situadas em diferentes patamares, no passado, presente, futuro.

A canção que fecha Muito, que considerarei o primeiro movimento de um álbum duplo, é Antes de Começar, um prelúdio das canções mais intimistas, relatando sobre um dia que termina antes mesmo de começar, ao lado da solidão. Como um anuncio prévio de que, no próximo álbum, estaremos rumo a uma camada mais densa da alma. Seja ela de quem possa lhe ouvir ou, arriscando, do próprio compositor.

Semicoisas, canção que abre Pouco, segundo movimento do álbum duplo, demonstra a intenção íntima de sua feitura. Traz apenas voz e violão. O resultado é uma suavidade única que retoma os elementos do amor e seus elementos sensíveis e tácitos mas agora utiliza-se, também, da própria canção como leveza.

Evidente, também, a inversão poética do título. Um álbum que diz muito sobre o amor, um sentimento sempre interpretado como abstrato, é intitulado como Pouco, quando, na verdade, por sua sensibilidade, é sempre gigantesco.

Moska utiliza-se muito bem, assim como no álbum com a banda, sua voz. Aqui mais contida, aproveitando-se dos sons e silêncios do violão.

As canções situam-se entre a sonoridade da música popular brasileira (Sinto Encanto), com melodias que acompanham a voz do cantor (Nuvem) e canções com tom jazzístico (Não e Provavelmente Você, com destaque para o baixo acústico de Pedro Aznar).

Tanto Muito como Pouco dialogam entre si, resultando em um incrível álbum duplo que marca, não só o retorno do compositor após sete anos, como demonstra sua evolução.

Pouco tem a participação de Chico Cesar, Kevin Johasen, Maria Gadú, Pedro Aznar e três canções em parceria com Zélia Duncan. Já em Muito todas as canções são de Moska, exceto Soneto de Seu Corpo composta com Leoni.

Ambos os álbuns são vendidos separadamente, mas juntos vêem em uma caixa especial que contem um encarte extra, com uma foto e com um texto a respeito.









Na próxima quinta-feira, a resenha de American VI, último álbum póstumo de Johnny Cash. Marcando a estréia de Arthur Malaspina, o segundo resenhista da coluna musical.

Um comentário:

  1. Adorei o texto! Lindo, lindo, lindo! Adoro o Paulinho Moska há muitos anos, mas creio que com esse álbum duplo ele se superou. Não tem uma música sequer que eu não goste, e você conseguiu descrever lindamente tudo o que ele representa. Muito bom!

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