quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dexter, Terceira Temporada

ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO ANALISADAS NO TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO, PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO DA TEMPORADA, PARE DE LER O TEXTO IMEDIATAMENTE. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTO-A, POR FAVOR.


Desde o lançamento de Dexter, acompanho-a simultaneamente com a emissora americana. Pelo atraso que a produção chegou oficialmente no país, maior ainda nos lançamentos dos boxes em DVD, é provável que boa parcela do público da série tenha conhecido-a pela rede.

O episódio piloto da série marca o ponto de partida de Dexter Morgan. Durante esses três anos, o especialista forense transformou-se de um frio e calculista assassino para um homem mais complexo. Na primeira temporada Dexter disputa uma batalha silenciosa com um outro serial killer. Jornada que o faz conhecer melhor seu passado.

Em seu segundo ano, a personagem ganha parcelas de humanidade e, ao descobrir que a policia achou seu lugar de desova de corpos, tornando-o o mais novo serial killer procurado, luta contra si mesmo a procura de uma identidade.

Há um consenso quase unânime sobre a terceira temporada. A constatação que é a mais fraca desde então e depois. Na época, acompanhando a temporada, um episódio a cada semana, não identifiquei nenhum elemento que a desnivelasse. Até então era a série que tinha nota máxima em todas as temporadas.

Porém, em uma segunda exibição, em DVD, assistindo os episódios em seqüência com poucos dias de distanciamento, que me permitiu buscar elementos que justificassem a irregularidade da temporada.

A terceira temporada foi a primeira que não apresentou um vilão. Não há um serial killer ativo, como nas anteriores. Têm-se os casos do esfolador, história que se desenrola como trama paralela. Evidenciando que Miami é uma cidade violenta, com uma gama de suspeitos, mas não transformando tais elementos em carro chefe da história.

A família Prado que se torna o destaque e o motivo pejorativo para a perda de qualidade. Após o conhecimento do passado e de si, Dexter tornou-se um ser mais sociável. Aquilo que afirma ser sua máscara recebe contornos de humanidade. O relacionamento com Rita prospera, em breve terão um filho, e o acumulo de tais experiências o fazem um homem em construção.

O promotor Miguel Prado, ao tornar-se amigo de Dexter, contribui para a construção de um círculo de amizade. Embora sendo amigável com os parceiros do trabalho, o especialista evitava qualquer contato íntimo.

A relação com Miguel remete-se a relação primordial com o pai. Porém, enquanto Harry se afasta, ao descobrir que criou um monstro, Miguel se aproxima de Dexter, fascinado pelo homem que pode fazer mais do que a justiça. Com o tempo as atitudes de Miguel vão alem das desejadas por Dexter, que segue o código de Harry, á risca. E os amigos íntimos tornam-se inimigos.

A tensão da trama se constrói em nível psicológico. A pressão pelo casamento com Rita, a relação com Miguel em constante mudança, resultando em um psicopata aturdido por tantas novas informações.

Há coragem em apresentar esse tipo de elemento narrativo. Em parte, é bastante funcional. A construção da personagem e a interpretação de Michael C. Hall conseguem deixar críveis tais sentimentos. Faltou carisma para Miguel Prado, uma personagem antipática e interpretada de maneira canastrona por Jimmy Smits. Tornando-se impossível que o público goste do promotor ou consiga lhe dar credibilidade por ser um enganador, sempre um passo a frente de Dexter.

O excesso do relacionamento de Prado com LaGuerta também produz uma ladainha não interessante para a série. Seus personagens secundários são carismáticos. Mas a história de um par que foi um casal no passado é insossa. Como um remendo entre as histórias.

Não bastando a personagem fraca, a relação de Prado com o Esfolador é inexplicável. Sem dúvida, a cena em que Dex e o promotor discutem no telhado possui impacto. Ainda mais quando se faz a descoberta de que Miguel usará o esfolador para matar Dexter. Mas a explicação dessa conexão não existe. Prado conheceria o esfolador desde o início? Propôs oferecer Freebo e, assim, entraram em contato?

Quando Dexter descobre que Prado quebra o código de Harry, que seguiu por toda a vida, sua morte é inevitável. Morte que se mantém nos parâmetros ritualísticos mas é carregada de um sentimento profundo para Dexter. Uma traição dentre diversas traições de Miguel. A morte de Prado, feita com um garrote no pescoço é certeira. Enquanto o promotor agoniza, o assassino afunda ainda mais a corda, violentamente. O código prevalece.

É notável o crescimento de Debra Morgan como personagem. Se revela uma boa policial, com seus insights nas investigações e mantem sua autenticidade com um vocabulário repleto de palavrões. Debra manifesta a emoção que Dexter retém. Não a toa se apaixona pelos homens que aparecem em sua vida.

A finalização da trama secundaria com o esfolador não decepciona. Dexter preso em uma mesa, lutando por sua vida, no mesmo dia em que irá casar com Rita. A ação se resolve rápida e nosso conhecido assassino sai incólume apenas com um braço quebrado.

A narrativa, principalmente os monólogos de Dexter, são um dos elementos primordiais para a excelência da série. Mais uma vez cenas se completam com suas reflexões sobre a própria vida. Sem dúvida, a personagem atingiu outro patamar, cresceu, tornou-se mais completa. Mas não deixa de ser o que é, produzindo a belíssima cena da gota de sangue que escorre de sua mão para o vestido imaculado de Rita. Dexter Morgan tornou-se um pai de família nada ortodoxo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

11-11-11


(11-11-11, 2011)
Diretor: Darren Lynn Bousman
Elenco: Timothy Gibbs, Michael Landes, Denis Rafter, Wendy Glenn.

Na internet, circulam textos e imagens cômicas em referência às diversas profecias contemporâneas de fim do mundo. Ironizando que ilesos passamos pelos últimos prenúncios e, ansiosos, aguardados os próximo. Apoiados na astrologia, em profetas vivos ou mortos, sinais recebidos por reverendos, a destruição do mundo tem sido assunto constante.

11-11-11 é o filme da vez, evidentemente realizado as pressas, com o intuito de aproveitar a data de um suposto extermínio. Apresentando com muito oportunismo e pouco conteúdo uma história de terror dirigida e roteirizada pelo diretor de Jogos Mortais 2, 3 e 4.


Na trama, um escritor, cujo filho e esposa foram mortos tragicamente, volta à Espanha em que foi criado para rever o irmão e aguardar a morte do pai. Atormentado pelo passado, torna-se obcecado pelo número onze e tem a revelação que a data que se aproxima marca o fim dos tempos.

O arremedo de argumento coloca a personagem em uma investigação íntima sobre os sinais que tem recebido a respeito, que, supostamente, seriam os elementos assustadores da trama. Vultos diabólicos que aparecem de relance em janelas, sonhos de seus parentes mortos, alucinações e moribundos avisando-o que algo mudará.

A explicação do apocalipse procura apoio em elementos religiosos, contrapõe o escritor ateu com o irmão pároco. Rendendo a batida discussão sobre fé e ateísmo e fieis loucos impedindo profecias.

Acostumado com a direção engessada de Jogos Mortais e seu roteiro rocambolesco de reviravoltas, o que poderia ser apenas um filme sem graça produz um riso involuntário quando, há cinco minutos de seu fim, uma revelação intenta mudar o que foi apresentado até agora. Com direito a repetição de cenas anteriores, no estilo da saga de Jigsaw.

Além do roteiro fraco, a trama exagera nas continuidades falhas. Em sua volta a Espanha, o escritor afirma não saber a língua local. O que torna espantoso sua afirmação de que viveu no país por toda a infância. O Exemplo e outros elementos semelhantes confirmam a execução rápida de roteiro e filme. A procura de alguns trocados em cima de uma data que encanta pela repetição numérica de digitos e bobagens apocalípticas.

domingo, 13 de novembro de 2011

Pearl Jam, PJ20, 04 de Novembro, Morumbi - São Paulo

Por Karina Audi

01 – Go
02 – Do The Evolution
03 – Severed Hand
04 – Hail Hail
05 – Got Some
06 – Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
07 – Given To Fly
08 – Gonna See My Friend
09 – Wishlist
10 – Amongst Waves
11 – Setting Forth (Eddie Vedder)
12 – Not For You
13 – Modern Girl
14 – Even Flow
15 – Unthougt Unknown
16 – The Fixer
17 – Once
18 – Black
(Bis)
19 – Just Breathe
20 – Inside Job
21 – State Of Love And Trust
22 – Olé
23 – Why Go
24 – Jeremy
Bis)
25 – Last Kiss (Cover de Wayne Cochran)
26 – Better Man
27 – Spin the Black Circle
28 – Alive
29 – Baba O’Riley (Cover do The Who)
30 – Yellow Ledbetter


(Foto de Eddie Vedder por M Rossi (com logo da turnê inserido pelo blog) e Foto da banda por Ronaldo Chavenco)

Lá na década de 90, quando o Youtube e o Grooveshark eram coisas tão impensáveis quanto guardar músicas em formato mp3 em pequenos dispositivos de memória do tamanho de uma embalagem de Halls, o momento mais feliz do mundo era sintonizar a MTV naquela TV de 20 polegadas da sala da casa dos seus pais, torcendo para ter a sorte de pegar algum clipe bom da banda do momento. Naqueles anos, o canal inspirava-se de ótimas bandas do sub-gênero do rock em voga naquele atual momento: o grunge, que atingiu popularidade comercial principalmente com o lançamento do Nevermind do Nirvana. Até então, a forma de produção e divulgação das bandas influenciadas pelo punk rock, rock clássico dos anos 70 e particularmente pelo Melvins, em razão da “sujeira” das guitarras e experimentalismo exacerbado, dependia da boa vontade dos próprios músicos que faziam o que podiam para sobreviver longe da influência (e patrocínio orçamentário) das major labels.

O Pearl Jam foi uma dessas bandas que, com o impacto do sucesso, não se adaptou tão bem à escalada (natural, pois bem) do mainstream. O Vitalogy, terceiro álbum de estúdio da banda, quase não pode ser lançado em razão de brigas internas e discussões com a gravadora Epic e a Ticketmaster, que resultaram em boicotes à shows e a recusa em produzir videoclipes, cuja pressão de fazê-los partia da gravadora. Tempos difíceis que foram superados com a união e amizade dos músicos preparados para uma carreira promissora, mas que passaram anos e anos negando seu próprio sucesso.

Para a sorte de nós, fãs, a banda continuou na estrada e nos presenteou no dia 4 de novembro com um belíssimo show da turnê PJ20, pela comemoração de seus 20 anos. A apresentação no Estádio do Morumbi, que foi a segunda de uma série de cinco em terras brasileiras, foi marcada pela energia e vitalidade, elementos em falta em bandas jovens atuais, e que encantaram o lotado estádio com mais de 60 mil pagantes.

O quinteto formado por Eddie Vedder, Stone Gossard, Mike McCready, Jeff Ament, e Matt Cameron subiu ao palco às 21h15 com Go, essa que, apesar do frio daquela noite, nem na metade da música fez seu vocalista tirar a jaqueta que vestia, seguida da energizante Do the Evolution, que fez o estádio inteiro pular – e sem exageros. Ouvir aquela música, para mim, foi lavar a alma, já adiantando o que o show traria pela frente. Depois dela foram Severed Hand, Hail Hail, Got Some e Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town, bela música cujo refrão formou um coro cantado por todos os lados. A agitada Gonna See My Friend fez uma ponte entre as calmas Given to Fly, tocada anteriormente, e Wishlist, cuja letra esperançosa ganhou destaque na voz marcante de Vedder e na intensidade das guitarras de Gossard e McCready ao vivo.

Depois de Amongst the Waves, Vedder deu um pequeno gostinho de seu disco com a trilha sonora do filme Into the Wild (Na Natureza Selvagem) com Setting Forth. Logo, Not For You, a música mais classic rock do Vitalogy, e uma pequena homenagem ao Sleather Kinney, banda de punk rock feminino dos anos 90, com Modern Girl são tocadas para abrir passagem a outro sucesso da banda: Even Flow, do disco Ten, canção gritada pelo público com vigor. Unthought Known e The Fixer, ambas do Backspacer de 2009 são seguidas por Once (Ten), que levou o público novamente aos pulos, gritos e clamor.

Não tenho palavras para explicar a sensação de ouvir o hino grunge Black, também do Ten e o “tchu rurururu” cantado pelo público por vários minutos em uníssono, e Vedder e sua turma voltando ao palco para atender aos pedidos do bis. São aqueles momentos em que as coisas bonitas da vida aparecem de imediato...

Vedder elogia o público brasileiro, agradecendo e até arriscando um português esforçado, dizendo que prefere falar em inglês: “porque o meu português é uma m....”. Tudo bem, pela sua energia no palco, simpatia, e sua voz grave e perfeita a gente perdoa. O show segue com Just Breathe, e Inside Job (essa que teve uma parte composta no show da turnê realizado no Brasil em 2006). Aí em diante, um show de canções conhecidas: State of Love and Trust, Why Go, e a clássica, como não poderia deixar de faltar: Jeremy – que não teve vez no primeiro show da turnê no Brasil, no dia anterior. Last Kiss entra com o segundo bis, com direito a palminhas e tudo, seguida da boa e esperada do disco Vitalogy, Better Man – essa com homenagem ao Ramones com Vedder emendando no final um I Wanna be your boyfriend -, e a gritada Spin the Black Circle do mesmo disco. Confirmamos o talento de seu baterista, Cameron, rápido e preciso, feitos demonstrados em todo o show e destacado nessa música.

Para encerrar o show, Alive mostrando a que veio, e novamente a esperada cover, que ao contrário do show do dia anterior não foi Rockin in the Free World do Neil Young, mas sim Baba O’Riley do The Who. Boa troca? Não sei... mas que a música ficou sensacional, ficou. Encerrando, a belíssima Yellow Ledbetter, escolha feita também no show do dia anterior e que acompanha a turnê.

Posso concluir com toda a certeza a superioridade e competência do Pearl Jam demonstradas nas duas horas e quinze minutos de apresentação. A banda sustentou seu talento, apesar de suas recusas anteriores em se firmar como uma banda de rock de sucesso. Mas não precisamos procurar muito para saber que essa é uma consequencia de um empenho e esforço em produzir som de qualidade, com energia e vigor há 20 anos – nitidamente vistos na noite fria do dia 4 de novembro.


sábado, 12 de novembro de 2011

Alta Fidelidade: João Gilberto Está Triste






Conhecido como um dos criadores do Novo Jornalismo – em resumo, um misto de narrativa jornalística e literária – Gay Talese, em um perfil sobre Frank Sinatra, cunhou uma expressão característica utilizada até hoje: o resfriado.

Na composição do artigo, Talese não teve acesso ao cantor. Aproveitou-se de amigos e conhecidos ao redor para produzir uma narrativa sem igual sobre o mito de olhos azuis. Frank Sinatra Está Resfriado tornou-se uma referência do novo estilo. De uma comum infecção no trato respiratório surgia uma narrativa inovadora sobre o astro. O resfriado tornou-se sinônimo daqueles que não querem conceder uma entrevista ou são reclusos por escolha. Expressão ainda funcional. Quando um artista prefere manter-se em silêncio, está resfriado.

Há uma semana noticiou-se que João Gilberto estava resfriado, motivo que adiou a turnê de shows em comemoração aos oitenta anos do criador da Bossa Nova. Uma frase que seria simples produz contornos diversos tratando-se do baiano. João gripado é mais do que uma congestão nasal.

Considerado um músico impar que além do talento nato possui apuro pela perfeição, João está inserido em um código antigo, representando um artista com estilo extinto. A figura brilhante, mas envolta em hábitos peculiares. Fundindo realidade e boatos em uma nebulosa que faz parte de sua fama: entra em um palco somente quando suas normas foram rigorosamente seguidas. Não se sente confortável com a recepção de palmas, gritos ou vozes que o acompanham nas canções. Se incomodado, retira-se do concerto sem nenhum problema.

O distanciamento vertical entre público e artista, visto como superior por sua arte e assim louvado, era regência natural na época em que a indústria fonográfica estava em alta. Músicos não só eram populares como representavam símbolos de gerações.

Hoje, estão entre seu público, a procura de dialogo, tentando salvar – ou construir - carreiras que, as vezes iluminadas pela indústria, ruiram com a queda das gravadoras. Espantoso seria se João se adequasse a tal postura. A um homem com seu talento é permitido tais extravagância, sem mencionar o fato de que suas excentricidades são conhecidas dos fãs.

A gripe de João Gilberto também se tornou destaque ao mencionar que o cantor estaria entristecido com o encalhe de ingressos para sua turnê comemorativa. A exceção do Rio de Janeiro, com ingressos esgotados, há lugares disponíveis em todos os shows. Os preços foram motivo de reclamação do público, contrariado em pagar de quinhentos a mil e quatrocentos reais por uma entrada.

As apresentações para um público ainda nanico, quando se esperavam ingressos esgotados, não se justifica apenas pelos preços altos. Se em um dado momento a Bossa Nova e a Música Popular Brasileira representaram o gosto de boa parte do Brasil, hoje é popular apenas na nomenclatura. Fosse o show de uma cantora de axé com bebida e foliões, estaria esgotado no primeiro dia de vendas.

O incômodo de João é justificável. Seu ritmo modificou a música brasileira em grande escala. A alcunha de gigante não é exagero, mas mérito de quem, a partir do samba, produziu um novo ritmo que ao lado do futebol, das mulatas e da caipirinha faz parte do imaginário mundial sobre o Brasil.


João ansiava que sua volta aos palcos fosse celebração estrondosa. Como não foi, gripou-se. Esqueceu de refletir que tal calor do público poderia ser visto com maus olhares a quem sempre foi recluso. A ausência de seu público é tão espantosa quanto sua vontade de vê-los.

As reclamações dos altos preços devem a produção de shows internacionais realizados no país nos últimos anos. Calcula-se de maneira relativa que se artistas estrangeiros fizeram shows acessíveis, os brasileiros deveriam, no mínimo, manter a margem de preços. Sem levar em consideração que tais shows são apresentados em estádios para grande público, ao contrário dos brasileiros sempre em casas menores.

Destaca-se a crença infeliz de que a música produzida no exterior tem mais qualidade do que a nossa apenas por não ser daqui. E tal idéia não se afirma apenas na música, basta observar que o mercado editorial de livros mais pública traduções do que obras originais em nossa língua.

A tabulação dos preços, sem dúvida, transforma a comemoração dos oitenta anos de João Gilberto em um espetáculo direcionado somente a um público específico e com poder aquisitivo evidente. Mas parece razoável a idéia de que, provavelmente, boa parte do seu público tenha verba suficiente para tal.

Incomodo maior do que a quantia para o ingresso é refletir o quanto se leva mais em conta a cultura exportada do que a produzida made in brazil. Ainda mais quando é possível contemplar ao vivo um artista do porte de João Gilberto.

Com sua voz contida, quase a meio fio, e um violão cuja harmonia é perfeita, os shows em sua celebração estão programados para dezembro e, de acordo com informações até agora, gerarão dois registros em DVD.

João Gilberto pode ter gripado, mas volta para tocar seu baião.


Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre literatura, cinema, música e afins.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Breaking Bad, Primeira Temporada


Walter White é uma pessoa comum. Mora em Albuquerque, Novo México, com a esposa Skyler e o filho com paralisia cerebral. Tem cinqüenta anos, recém completados. Leciona química no colégio. Trabalha como caixa em um lava rápido para complementar a renda. Seu estilo pacato e correto exemplificam o conceito de um homem modelo. Até descobrir um câncer no pulmão.

Exibida nos Estados Unidos pelo canal AMC, o mesmo de Mad Men, com produção de Vince Gilligan, responsável pelas últimas temporadas de Arquivo – X, Breaking Bad parte de uma premissa simples. Um homem que, com a iminente morte pelo câncer, decide romper com o conceito correto em que viveu sua vida até então.

A previsão de deixar sua família sem sustento no futuro o faz convidar um ex-aluno, Jesse Pinkman, a produzirem metanfetamina de qualidade, visando lucro capaz de gerar boa renda futura. Profissional em química, torna-se fácil para Walter produzir a melhor droga do local. Com inteligência operacional observa as ações com visão de mercado. Analisa margem de lucros, despesas, desejoso em transformar sua droga na mais consumida da cidade.

Coube a Bryan Cranston o papel principal da série. Se em Malcolm In The Midlle, como pai da personagem central, demonstrava seu talento cômico, em Breaking Bad vem à tona sua veia dramática. Apresentando um Mr. White carismático e bem equilibrado entre o homem comum e aquele que chega ao limite do vazio existencial.

No decorrer da temporada, Walter se despe dos conceitos que defendia outra se transformando em um homem mais impositor. A relação da personagem com o público é ainda mais próxima quando compreende-se que seus feitos prezam algo maior.

Walter é, sem dúvida, um anti-herói. Seguindo a linhagem atual das narrativas seriadas que encontram em personagens de moral dúbia um elemento cativador do público como o Dr. Gregory House, o assassino Dexter Morgan ou a enfermeira Jackie Peyton. Refletindo nos expectadores a idéia da transgressão.

A primeira temporada da série teve apenas sete episódios devido à greve de roteiristas em 2007. Dessa maneira, possui um final cuja trama se encerra, em definitivo, no ano seguinte, no segundo episódio da temporada, intitulado Grilled.

Tanto a primeira temporada, como a segunda, estão disponíveis em DVDs no país. Com previsão de se encerrar no próximo ano, Breaking Bad tem tudo para ser a série atual cuja qualidade total esteja perto da excelência.