Eu já disse, em outras frases confessionais, o quanto não gosto da plenitude humana. Nossa não-lineariedade, repleta de números, me incomoda por refletir ao mesmo tempo muitas sensações. Diversas reações exteriores atenuando-se no corpo, e diversas sinapses disparando pensamentos e imagens.
Meu plano inicial era escrever sobre o riso, mas logo me vi em outros parágrafos. Saí da comédia e do escárnio, para uma reflexão mais tola.
Por hora, me mantenho na idéia primária, para depois tecer as reflexões maiores. Ou ainda, se preferirem, explicar uma tese metafórica e aplicá-la em minha explicação.
Rir não é nada fácil. Ver um amigo se estrupicar no chão e isso render gargalhadas, é normal. Mas quando há um significado por trás da comédia, encontramos diferenças claras. Criar o riso pelas palavras, mãos ou ainda o corpo todo é uma arte tão dificil, se não mais, do que a literatura chamada de convencional.
Primeiro porque, e talvez o óbvio, a comédia precisa de background. Com excessão de certas piadas mudas e gestuais, ou uma ou outra de grande entendimento universal, a comédia precisa de um contexto para se basear e dele fazer rir.
Só rimos porque o risível da situação é tão impossível, patético, ou exagerado que nos dá essa explosão deliciosa e incontrolável que é o riso.
Tenho um dos risos mais escandalosos que já vi, agudo, forte, e que, normalmente, é o primeiro a invadir o ambiente e o último a cessar. Há uma amiga que possui um desses risos efusivos. E a sensação é tão agrádavel, que sinto, como um bufão, uma imensa vontade de sempre fazê-la rir pela resposta prazeirosa de seu riso.
É cabível compreender a tradicional idéia do palhaço triste que alegra o público. Porque, se posso lhes confessar, fazer comédia não é nada fácil.
Em um grupo de amigos, ou na doce conquista de alguém do sexo oposto, é uma cena comum dar risadas, o improviso se torna engraçado. Mas quando a arte é o riso, ai, leitores, o tempo fecha e as regras mudam.
A qualidade se eleva, há um requinte de responsabilidades. Um apuro maior quando se produz o riso para o público consumir em teatro lotado. Pois, nessa criação não há apenas improviso imediato. É necessário talhar a piada, como um artesão, um pescador que joga a isca em uma lagoa a procura de peixes, e se, jogada no lugar certo, consegue pesca-los. E nada é pior ao pescador que voltar de mãos vazias, assim como o silêncio para um comediante.
A parte disso, traço um paralelo com a frase que abordei inicialmente o conceito do riso. Sei que o correto seria cessar esse texto e em outra folha em branco escrever a respeito. Mas, por certo instinto, acho inadequado dividir a linha dessa criação.
Optei por mostrar suas ramificações, assim como surgiram em minhas idéias: a arte de rir se contrapondo com a arte, se é que existe tal definição, de viver.
Viver, amigo, não é fácil. Parte de mim, para não dizer o todo, quer negar a afirmação e dizer que ela deveria ser. Mas o futuro do pretérito é conhecido como o tempo da condição. Daquilo que deveria ser feito, mas não foi. Certezas concretas no Se" são névoa, menos realidade.
O requinte necessário para fazer rir é o mesmo de viver. É necessário ter a consciência de saber até onde é o alcance de uma piada. Ter certeza sem saber ao certo.
Se recebessemos ao nascer um breve manual, simples e sucinto de como viver bem, eu sugeriria a idéia socrática como frase de abertura. Aquela que perdeu seu significado, virando estampa de camisa e adesivos de carros por puro pseudo-intelectualismo: conheça a ti mesmo.
Soa como bobagem, de certo. A repetição contínua de um verso entoado por gregos até os tempos de hoje. Mas, se me permitem, bobabem é não segui-lo.
Nada é tão sincero do que se auto conhecer. Nos poupa o desprazer futuro, evita dívidas que seguimos por não saber as respostas. Se auto compreender, mente, coração e corpo é tão necessário quanto difuso.
Um homem sabe todo mal que faz, reconhece as sementes ruins que pode plantar. Afirmar isso a si mesmo escondido todas as noites, ou em um dia de inverno na frente de um espelho é senso comum a qualquer um. Porém, assumir até mesmo sua maldade, o lado vil - no sentido de vilesa como no poema de Pessoa - é incômodo.
Ninguém quer se incomodar com a própria natureza. A ausência do auto conhecimento é adequada e perfeita a uma sociedade onde o compre, fale, beba diz mais alto do que "Por quê preciso comprar, falar ou beber"?
Se as pessoas ao ligar a tevê se espantam com nossa violência, encontram a paz novamente ao desligá-la. Mas como fechar as portas de si mesmo? Assumir os vícios, exercer seu papel ruim, ou depô-lo por mudanças.
Tenho o hábito de dizer que se auto conhecer começa em desejos simples como uma bola de sorvete em um dia de verão. Penso que se você não é capaz de dizer em segundos seu sorvete preferido, não perca tempo procurando um sentido vão para sua existência.
O conhecimento parte de pequenas partículas, que juntas elucidam um quebra-cabeça maior. Sidarta não atingiu o nirvana por acaso. Foi preciso um trabalho físico e mental para buscar sua iluminação.
Dizem que o primeiro passo é aceitarmos nossos defeitos. E sim, sou errático, errante, ridiculamente provisório, e sempre impassível. Mas dentro de meu limite, procurei aos pouco me aceitar e me conhecer. Fui do princípio da bola de sorvete para questões maiores.
Eu vejo pessoas dizendo palavras que não lhe são adequadas, sentimentos que não correspondem e quando perguntamos o por quê de certas respostas ou atitudes, ouvimos "não sei" como resposta.
O auto engano é fácil em uma mente viciada pelo estresse diário, televisão e jornal cotidiano. O confronto de se auto perguntar causando rupturas é sempre desigual.
Tudo aquilo que causa ruptura é condicionado a virar esquecimento. O desconforto da ausência de saber nós mesmo é tamanho, que as respostas são ignoradas dia a dia. É o simples viver dizendo "é a vida" sem se perguntar "não sou eu"?
Deixem as palavras de jornais, a coluna social, as notas de falecimento, os outdoors de modelos semi nuas, os poemas que não fedem nem cheiram, o papai noel da coca-cola, sua cocaína e conceda um tempo a você para as milenares palavras de Sócrates: Conheça a ti mesmo.
Se no fim de sua jornada interna a mais valia for prejudicial ao preço, prometo dar-lhes a rídicula ignorância de volta.
Meu plano inicial era escrever sobre o riso, mas logo me vi em outros parágrafos. Saí da comédia e do escárnio, para uma reflexão mais tola.
Por hora, me mantenho na idéia primária, para depois tecer as reflexões maiores. Ou ainda, se preferirem, explicar uma tese metafórica e aplicá-la em minha explicação.
Rir não é nada fácil. Ver um amigo se estrupicar no chão e isso render gargalhadas, é normal. Mas quando há um significado por trás da comédia, encontramos diferenças claras. Criar o riso pelas palavras, mãos ou ainda o corpo todo é uma arte tão dificil, se não mais, do que a literatura chamada de convencional.
Primeiro porque, e talvez o óbvio, a comédia precisa de background. Com excessão de certas piadas mudas e gestuais, ou uma ou outra de grande entendimento universal, a comédia precisa de um contexto para se basear e dele fazer rir.
Só rimos porque o risível da situação é tão impossível, patético, ou exagerado que nos dá essa explosão deliciosa e incontrolável que é o riso.
Tenho um dos risos mais escandalosos que já vi, agudo, forte, e que, normalmente, é o primeiro a invadir o ambiente e o último a cessar. Há uma amiga que possui um desses risos efusivos. E a sensação é tão agrádavel, que sinto, como um bufão, uma imensa vontade de sempre fazê-la rir pela resposta prazeirosa de seu riso.
É cabível compreender a tradicional idéia do palhaço triste que alegra o público. Porque, se posso lhes confessar, fazer comédia não é nada fácil.
Em um grupo de amigos, ou na doce conquista de alguém do sexo oposto, é uma cena comum dar risadas, o improviso se torna engraçado. Mas quando a arte é o riso, ai, leitores, o tempo fecha e as regras mudam.
A qualidade se eleva, há um requinte de responsabilidades. Um apuro maior quando se produz o riso para o público consumir em teatro lotado. Pois, nessa criação não há apenas improviso imediato. É necessário talhar a piada, como um artesão, um pescador que joga a isca em uma lagoa a procura de peixes, e se, jogada no lugar certo, consegue pesca-los. E nada é pior ao pescador que voltar de mãos vazias, assim como o silêncio para um comediante.
A parte disso, traço um paralelo com a frase que abordei inicialmente o conceito do riso. Sei que o correto seria cessar esse texto e em outra folha em branco escrever a respeito. Mas, por certo instinto, acho inadequado dividir a linha dessa criação.
Optei por mostrar suas ramificações, assim como surgiram em minhas idéias: a arte de rir se contrapondo com a arte, se é que existe tal definição, de viver.
Viver, amigo, não é fácil. Parte de mim, para não dizer o todo, quer negar a afirmação e dizer que ela deveria ser. Mas o futuro do pretérito é conhecido como o tempo da condição. Daquilo que deveria ser feito, mas não foi. Certezas concretas no Se" são névoa, menos realidade.
O requinte necessário para fazer rir é o mesmo de viver. É necessário ter a consciência de saber até onde é o alcance de uma piada. Ter certeza sem saber ao certo.
Se recebessemos ao nascer um breve manual, simples e sucinto de como viver bem, eu sugeriria a idéia socrática como frase de abertura. Aquela que perdeu seu significado, virando estampa de camisa e adesivos de carros por puro pseudo-intelectualismo: conheça a ti mesmo.
Soa como bobagem, de certo. A repetição contínua de um verso entoado por gregos até os tempos de hoje. Mas, se me permitem, bobabem é não segui-lo.
Nada é tão sincero do que se auto conhecer. Nos poupa o desprazer futuro, evita dívidas que seguimos por não saber as respostas. Se auto compreender, mente, coração e corpo é tão necessário quanto difuso.
Um homem sabe todo mal que faz, reconhece as sementes ruins que pode plantar. Afirmar isso a si mesmo escondido todas as noites, ou em um dia de inverno na frente de um espelho é senso comum a qualquer um. Porém, assumir até mesmo sua maldade, o lado vil - no sentido de vilesa como no poema de Pessoa - é incômodo.
Ninguém quer se incomodar com a própria natureza. A ausência do auto conhecimento é adequada e perfeita a uma sociedade onde o compre, fale, beba diz mais alto do que "Por quê preciso comprar, falar ou beber"?
Se as pessoas ao ligar a tevê se espantam com nossa violência, encontram a paz novamente ao desligá-la. Mas como fechar as portas de si mesmo? Assumir os vícios, exercer seu papel ruim, ou depô-lo por mudanças.
Tenho o hábito de dizer que se auto conhecer começa em desejos simples como uma bola de sorvete em um dia de verão. Penso que se você não é capaz de dizer em segundos seu sorvete preferido, não perca tempo procurando um sentido vão para sua existência.
O conhecimento parte de pequenas partículas, que juntas elucidam um quebra-cabeça maior. Sidarta não atingiu o nirvana por acaso. Foi preciso um trabalho físico e mental para buscar sua iluminação.
Dizem que o primeiro passo é aceitarmos nossos defeitos. E sim, sou errático, errante, ridiculamente provisório, e sempre impassível. Mas dentro de meu limite, procurei aos pouco me aceitar e me conhecer. Fui do princípio da bola de sorvete para questões maiores.
Eu vejo pessoas dizendo palavras que não lhe são adequadas, sentimentos que não correspondem e quando perguntamos o por quê de certas respostas ou atitudes, ouvimos "não sei" como resposta.
O auto engano é fácil em uma mente viciada pelo estresse diário, televisão e jornal cotidiano. O confronto de se auto perguntar causando rupturas é sempre desigual.
Tudo aquilo que causa ruptura é condicionado a virar esquecimento. O desconforto da ausência de saber nós mesmo é tamanho, que as respostas são ignoradas dia a dia. É o simples viver dizendo "é a vida" sem se perguntar "não sou eu"?
Deixem as palavras de jornais, a coluna social, as notas de falecimento, os outdoors de modelos semi nuas, os poemas que não fedem nem cheiram, o papai noel da coca-cola, sua cocaína e conceda um tempo a você para as milenares palavras de Sócrates: Conheça a ti mesmo.
Se no fim de sua jornada interna a mais valia for prejudicial ao preço, prometo dar-lhes a rídicula ignorância de volta.
Araraquara, segunda Feira, 29 de Outubro de 2007.