sábado, 13 de agosto de 2011

Alta Fidelidade: 24 Horas e o ápice da ação





São raras produções que utilizam, na progressão de sua narrativa, a estética do tempo real. Desencadear cenas sem espaçamentos temporais é um processo que, se não bem realizado, dificulta a ação e não obtém sucesso.

Em 1995, Johnny Depp e Christopher Walken estrelaram um longa que utilizava tal estética. Tempo Esgotado apresenta Depp como um homem comum que, para salvar sua filha seqüestrada, precisa executar a governadora da Califórnia em um curto prazo de tempo. A ação, boa parte realizada em um shopping, mantém a tensão devido a personagem contra o relógio.

O tempo como um dos pilares que movimentam a trama esteve presente também em 88 Minutos, filme de Jon Avnet, com Al Pacino como um professor universitário que ganha o prazo do título para resolver um crime que pode envolvê-lo.

Ainda que não inédito, o conceito de tempo real sempre foi explorado de maneira isolada. Até 2001, precisamente em dezembro, quando a Fox americana exibiu o primeiro episódio da série que se consagraria como um marco no recurso e tornaria-se uma grandiosa história de ação.

24 Horas, desde o título, demonstra a urgência de sua narrativa. Enquanto um enredo tradicional de uma temporada desenvolve-se em vinte e quatro episódios que costumam abranger um ano das personagens, aqui a aventura concentra-se em um dia completo.

Situações limites, impostas sempre em seu início. Ação, drama tenso e reviravoltas tornaram-se elementos comuns no roteiro que fundamentou a estrutura da série. Apresentando diversos planos diferentes de ações na mesma hora, delineando a sensação da realidade e do simultâneo.

Ainda que estruturalmente seu roteiro mantenha-se igual nos oito anos de produção, sua figura central, Jack Bauer, sofre grandes transformações. De um renomado agente contra terrorismo, Bauer galga-se como herói de grande representação. Cada dia fatídico vivido por sua persona aprofunda o abismo de sua personalidade. Contornos humanos perdem dimensão, tornando-o um homem quase impenetrável, cujo suporte maior é reger-se apenas pela lei. Sendo capaz de, por ela, sobreviver as mais terríveis agonias e voltar, como todo herói, intacto, mais centrado e agressivo.

A ação projetada na tela nada deve a uma produção cinematográfica. Composta de maneira cuidadosa tanto no roteiro, na concepção de personagens e em detalhes que podem passar despecebidos pelo público. Como a continuidade cuidadosa que convence que a história gravada em oito meses parece, de fato, estar centrada em um único dia.

A série apresenta uma narrativa crua e violenta, não vista na televisão desde Nova York Contra o Crime. Centrada a partir da CTU, Unidade Contra o Terrorismo, não se poupam cenas de tortura, morte e agentes treinados para usar qualquer elemento a procura de culpados.

A violência exibida na série foi alvo dos direitos humanos, gerando pronunciamento de diversos órgãos contra as cenas violentas, nos quais alegaram que a realidade fora amplificada exageradamente. Uma evidente subestimação da observação pública perante notícias de guerra diária em jornais.

A temporalidade fiel, elementos próximos da realidade conhecida, acrescidas a um personagem heróico – que abdica de seu próprio bem para um bem maior – formularam o sucesso da série.

Seu primeiro ano, envolvendo Jack Bauer em uma conspiração para matar o canditado David Palmer, foi o primeiro passo para apresentar um enredo inovador que, ao mesmo tempo, executa de maneira exemplar a cartilha dos bons clichês do gênero.

Embora cada vez mais imprecisa temporada a temporada, a sensação de tempo real registra pontos altos de tensão pelas pausas e desencadeamento de reações e reviravoltas que mudam o enredo.

Infelizmente, em alguns anos, a previsão de produtores e roteiristas ao estruturar os episódios falhou miseravelmente. Fazendo com que a grande ação central finalizasse horas antes do fechamento do dia. Evidenciando uma sub história trazida às pressas para cobrir as horas restantes.

Mesmo que as oito crises diárias apresentem oscilações, Jack Bauer tornou-se um inegável marco. Sua personagem expandiu-se além série, transformou-se em um ícone heróico. Símbolo que reflete a maneira contemporânea de se conceber um herói: aquele que luta pelo bem maior, acima de tudo. Não importando quais meios o levem a isso.

A série está disponível de maneira completa em DVD, no Brasil. Tanto temporada por temporada quanto na bela caixa que ilustra esse texto e que engloba todas as temporadas mais o filme A Redenção que se passa entre a sexta e sétima temporada.



Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que, hoje, apresentou a primeira análise de três sobre séries americanas. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana e nas próximas, séries em geral e três seriados atuais que já são um marco: 24 Horas, Lost e House M.D.

sábado, 6 de agosto de 2011

Alta Fidelidade: A Supremacia dos Seriados


Quem acompanha este espaço crítico, cuja ênfase maior é o cinema e as séries televisivas, perceberá que durante as análises intento estabelecer uma linha de raciocínio. Baseada em uma observação própria além das tendências lançadas nos últimos anos.

Não é necessário procurar com minúcias para notar que cinema e séries orientam-se, atualmente, em movimentos distintos. Ainda que possuam intersecções, encontram-se em um percurso diferente nos últimos dez anos.

Por trás do glamour cinematográfico, característica primordial que nos vem a mente ao pensarmos no cinema americano, há uma indústria da sétima arte. Que, com urgência, precisa de polimento e reforma nas engrenagens.

Apontar a pirataria e a expansão da internet como motivo de queda no faturamento de ingressos, recepção média do público, é um artifício fácil. A situação é mais intrincada ao analisar o interior de sua construção arcaica, descobrindo quais as conseqüências que levaram a este momento, considerado decadente.

A indústria não foi capaz de trabalhar com as formúlas que estabeleceu. Na incerteza, atores de grande porte perderam espaço para outros menores e com baixo talento, migrando de produções gigantescas do cinema-pipoca para obras menores. Quando não mudaram de carreira, tornando-se produtores, diretores e encontrando nas séries de televisão, espaço sem tanta força, um fôlego e recomeço.

O escopo para realização de uma obra seriada é infinitamente mais amplo que a produção cinematográfica. O custo é mais econômico, sendo possível fazer dois episódios, ou mais, com a verba de um filme. Apresentando-se uma vez por semana tem um termômetro mais certeiro. Se perde audiência, é cancelada. Se o público sente-se incomodado com alguma situação, ela é revertida em poucos episódios e mantém a audiência.

Em média, a cada temporada, há uma longa história diluída em aproximadamente 20 partes. Sendo possível trabalhar e construir melhor tramas e personagens. Espaço que permitiu que atores talentosos mas não tão conhecidos do público, mostrassem a potência de seu trabalho.

De maneira discreta, produtores começaram a apostar e investir em seriados. Primordialmente pelo potencial de seu enredo, não regidos por uma lei presente no cinema: um ator famoso é resultado de um filme bom e com bilheteria.

Um movimento que parecia arriscado anos atrás, desenvolver uma idéia apenas pela força de sua história, tornou-se um seguro caminho. Comprovando que mesmo que o público deseje ver seus atores preferidos em tela, um bom enredo é bem recebido.

Canais abertos e pagos da televisão americana começaram a produzir, anualmente, diversas séries que visavam conquistar o público mantendo a qualidade.

Por um lado, a indústria da sétima arte apresentava-se morna, sem muitos filmes excelentes nos anos que passavam. Espaço que fez parte do público voltar seus olhos para a televisão, fazendo com que um campo tão desolado na década de noventa, caísse no gosto do público.

Hoje somam-se dez anos de um caminho novo na produção de seriados americanos que supera por quantidade e qualidade o cinema. Recordes de audiência que comoveram multidões, ganharam fãs que deram início ao movimento serimaníaco que, em escala global, acompanham as temporadas semanalmente, em sincronia com os americanos.

A indústria seriada cresceu gigantescamente nos últimos anos. Desenvolveu, com precisão, começo, meio e fim de diversas histórias que não só envolveram o público como tornam-se um marco contemporâneo.

A totalidade de produções, nos últimos dez anos, é abrangente. Assim, foi necessário selecionar três grandes séries que serão analisadas individualmente. Escolhidas por, desde já, se tornarem referência, muita vezes inédita em seu lançamento.

24 Horas tornou-se pioneira do conceito de ação real, provando que a supremacia da ação não só pertence ao cinema. Lost fez o mundo parar a cada episódio com sua intrincada teoria conspiratória. E House M.D. que trouxe a tona a empatia do público, identificado no pesado anti-heroi, aquebrantado, mas brilhante.

Três histórias distintas que simbolizam parte do melhor que se produziu desde a retomada, em qualidade e também audiência. Conquistando espaço nas séries cativas do público.


Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que, hoje, apresentou um panorama das séries americanas. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana e nas próximas, séries em geral e três seriados atuais que já são um marco: 24 Horas, Lost e House M.D.

Apresentação

Na vasta rede de informações da internet brasileira, há em grande proporção sites e blogs voltados para a cultura. Tanto bons, quanto ruins, trazem um público cativo e destacam-se por alguma especialidade. Notícias, imagens, downloads, informações detalhadas e completas.

O intuito desse blog não é fornecer notícias, imagens ou downloads que podem ser encontrados em outros sites, maiores e melhores do que esse blog. Endereços acessados e lidos diariamente pelo autor.

Nosso desejo é construir um espaço em que filmes, séries, livros, discos e quadrinhos sejam bem analisados. Utilizando-se do prazer da arte sem esquecer de bons critérios para definir a obra. Escrever de maneira racional sobre as mais emocionais formas de arte, como disse o crítico Mauro Ferreira.

Produzir um endereço de conteúdo crítico sem a intenção agressiva de ser definitivo e único. Apresentando uma possibilidade, uma leitura dentre tantas que enriquece a multiplicidade da arte.

Se destacar pelo que se escreve, não pela pirotecnia. Pelo que se apresenta, de maneira coesa e coerente em cada análise, em cada crítica, não importando sobre o que seja.

É com essa idéia que após oito meses retomo este blog. Estreando um novo nome, em que endereço e título são iguais. Mas mantendo a afeição com Dr. House e seu mantra mais amplo e icônico: Todo Mundo Mente.

A paixão é um dos elementos que move esse blog. O brilho ofuscante, quase inumano, gerado pela arte. E a tentativa, sempre falha, de tentar em palavras reproduzir a potencia de seus arrebatamentos.

Sejam Bem Vindos,
Thiago Augusto Corrêa