(The Girl With a Dragon Tattoo, 2011)
Diretor: David Fincher
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård, Robin Wright, Goran Visnjic, Embeth Davidtz, Joely Richardson, Joel Kinnaman, Elodie Yung, Julian Sands.
Ainda que acolha filmes estrangeiros, a indústria hollywoodiana é favorável em produzir sua própria versão de histórias. Muitas vezes motivado para explicitar a hegemonia do cinema americano perante outros.
A inserção da identidade americana em material estrangeiro costuma ser falho. Geram comparações inevitáveis que tendem a louvar a obra primordial e desprezar a regravação. O aterrorizante espanhol [Rec] perdeu impacto em Quarentena; a urgência de Nove Rainhas tornou-se comum em 171; a ambientação que ampliava o choque de Deixa Ela Entrar ficou sem nuances em Deixe-me Entrar. Três exemplos que sintetizam regravações e também qualidade inferior.
Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres baseia-se na primeira parte homônima da trilogia do escritor sueco Stieg Larsson. História que originou primariamente a produção sueca e, devido ao sucesso, foi lavrada a uma produção americana.
Partindo do mesmo material primordial, a produção americana é mais competente em aproveitar-se da ambientação fria da Suécia como elemento narrativo. A fotografia de Jeff Cronenweth (que trabalhou com o diretor em Clube da Luta e Rede Social) amplifica o isolamento do local, assolado pelo inverno. Diferentemente da adaptação sueca que, ainda competentíssima, é mais tradicionalista.
A melhor estrutura técnica americana pode ser afirmada pela tradição no mercado de produção cinematográfica. Em detrimento a outros países que, mesmo conhecedor das mesmas técnicas, podem não ter acessibilidade fácil aos mesmos elementos que Hollywood possui em um piscar de olhos.
A direção fica por conta de David Fincher. Tem-se a sensação de que o diretor foi convidado para o cargo em vez de ter escolhido o projeto. Por conta de um vigoroso histórico em narrar histórias brutais com sensibilidade e sem moralismo, Fincher, mercadologicamente ou não, torna-se uma boa escolha.
A história centra-se em um desaparecimento que há mais de quarenta anos aflige Henrik Vanger, um velho empresário de uma das mais tradicionais companhias suecas. Agora aposentado, o empresário contrata o jornalista investigativo Mikael Blomkvist, cuja carreira foi arruinada por uma reportagem sem fundamento, para investigar informalmente o caso.
A versão americana organiza melhor a história orquestrada por Larsson. Equipara acontecimentos, sincronizando-os. Demonstrando mais capacidade de inserir elementos da narrativa sem a necessidade de novas cenas, inferindo-os dentro da própria história.
Poucas liberdades em relação ao enredo do livro são tomadas. A maneira simultânea com que se realiza os pólos narrativos entre Mikael e Lisbeth Salender é eficaz. Não demora na construção da tensão como o original sueco, seguindo a risca o argumento.
O domínio maior na construção do roteiro abrange melhor a totalidade do livro e, como o sueco, apresenta um breve elemento que liga-se com a história do segundo livro, A Menina Que Brincava com Fogo.
Se David Fincher manter-se na direção por toda a trilogia, produzirá uma boa trama que não perderá as bases visuais e o estilo criado por sua produção inicial. Ainda que nada supere a dupla singular de seus primeiros filmes, Se7en – Os Sete Crimes Capitais e Clube da Luta.
A trilogia Millenium foi lançada no país em versão tradicional e econômica pela Companhia das Letras. O filme sueco, que merece também ser assistido, está disponível em DVD e Blu-Ray pela Imagem Filmes.