ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO ANALISADAS NO TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO, PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO DA TEMPORADA, PARE DE LER O TEXTO IMEDIATAMENTE. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTO-A, POR FAVOR.
Desde o lançamento de Dexter, acompanho-a simultaneamente com a emissora americana. Pelo atraso que a produção chegou oficialmente no país, maior ainda nos lançamentos dos boxes em DVD, é provável que boa parcela do público da série tenha conhecido-a pela rede.
O episódio piloto da série marca o ponto de partida de Dexter Morgan. Durante esses três anos, o especialista forense transformou-se de um frio e calculista assassino para um homem mais complexo. Na primeira temporada Dexter disputa uma batalha silenciosa com um outro serial killer. Jornada que o faz conhecer melhor seu passado.
Em seu segundo ano, a personagem ganha parcelas de humanidade e, ao descobrir que a policia achou seu lugar de desova de corpos, tornando-o o mais novo serial killer procurado, luta contra si mesmo a procura de uma identidade.
Há um consenso quase unânime sobre a terceira temporada. A constatação que é a mais fraca desde então e depois. Na época, acompanhando a temporada, um episódio a cada semana, não identifiquei nenhum elemento que a desnivelasse. Até então era a série que tinha nota máxima em todas as temporadas.
Porém, em uma segunda exibição, em DVD, assistindo os episódios em seqüência com poucos dias de distanciamento, que me permitiu buscar elementos que justificassem a irregularidade da temporada.
A terceira temporada foi a primeira que não apresentou um vilão. Não há um serial killer ativo, como nas anteriores. Têm-se os casos do esfolador, história que se desenrola como trama paralela. Evidenciando que Miami é uma cidade violenta, com uma gama de suspeitos, mas não transformando tais elementos em carro chefe da história.
A família Prado que se torna o destaque e o motivo pejorativo para a perda de qualidade. Após o conhecimento do passado e de si, Dexter tornou-se um ser mais sociável. Aquilo que afirma ser sua máscara recebe contornos de humanidade. O relacionamento com Rita prospera, em breve terão um filho, e o acumulo de tais experiências o fazem um homem em construção.
O promotor Miguel Prado, ao tornar-se amigo de Dexter, contribui para a construção de um círculo de amizade. Embora sendo amigável com os parceiros do trabalho, o especialista evitava qualquer contato íntimo.
A relação com Miguel remete-se a relação primordial com o pai. Porém, enquanto Harry se afasta, ao descobrir que criou um monstro, Miguel se aproxima de Dexter, fascinado pelo homem que pode fazer mais do que a justiça. Com o tempo as atitudes de Miguel vão alem das desejadas por Dexter, que segue o código de Harry, á risca. E os amigos íntimos tornam-se inimigos.
A tensão da trama se constrói em nível psicológico. A pressão pelo casamento com Rita, a relação com Miguel em constante mudança, resultando em um psicopata aturdido por tantas novas informações.
Há coragem em apresentar esse tipo de elemento narrativo. Em parte, é bastante funcional. A construção da personagem e a interpretação de Michael C. Hall conseguem deixar críveis tais sentimentos. Faltou carisma para Miguel Prado, uma personagem antipática e interpretada de maneira canastrona por Jimmy Smits. Tornando-se impossível que o público goste do promotor ou consiga lhe dar credibilidade por ser um enganador, sempre um passo a frente de Dexter.
O excesso do relacionamento de Prado com LaGuerta também produz uma ladainha não interessante para a série. Seus personagens secundários são carismáticos. Mas a história de um par que foi um casal no passado é insossa. Como um remendo entre as histórias.
Não bastando a personagem fraca, a relação de Prado com o Esfolador é inexplicável. Sem dúvida, a cena em que Dex e o promotor discutem no telhado possui impacto. Ainda mais quando se faz a descoberta de que Miguel usará o esfolador para matar Dexter. Mas a explicação dessa conexão não existe. Prado conheceria o esfolador desde o início? Propôs oferecer Freebo e, assim, entraram em contato?
Quando Dexter descobre que Prado quebra o código de Harry, que seguiu por toda a vida, sua morte é inevitável. Morte que se mantém nos parâmetros ritualísticos mas é carregada de um sentimento profundo para Dexter. Uma traição dentre diversas traições de Miguel. A morte de Prado, feita com um garrote no pescoço é certeira. Enquanto o promotor agoniza, o assassino afunda ainda mais a corda, violentamente. O código prevalece.
É notável o crescimento de Debra Morgan como personagem. Se revela uma boa policial, com seus insights nas investigações e mantem sua autenticidade com um vocabulário repleto de palavrões. Debra manifesta a emoção que Dexter retém. Não a toa se apaixona pelos homens que aparecem em sua vida.
A finalização da trama secundaria com o esfolador não decepciona. Dexter preso em uma mesa, lutando por sua vida, no mesmo dia em que irá casar com Rita. A ação se resolve rápida e nosso conhecido assassino sai incólume apenas com um braço quebrado.
A narrativa, principalmente os monólogos de Dexter, são um dos elementos primordiais para a excelência da série. Mais uma vez cenas se completam com suas reflexões sobre a própria vida. Sem dúvida, a personagem atingiu outro patamar, cresceu, tornou-se mais completa. Mas não deixa de ser o que é, produzindo a belíssima cena da gota de sangue que escorre de sua mão para o vestido imaculado de Rita. Dexter Morgan tornou-se um pai de família nada ortodoxo.