terça-feira, 26 de junho de 2012

Michael Jackson, Ben

Artista: Michael Jackson
Álbum: Ben
Gravadora: Motown
Ano: 1972


01 - Ben (Walter Scharf, Don Black)
02 - Greatest Show on Earth (Mel Larson, Jerry Marcellino)
03 - People Make the World Go 'Round (Thom Bell, Linda Creed
04 - We've Got a Good Thing Going (The Corporation [Alphonso Mizell, Berry Gordy Jr., Deke Richards, Freddie Perren])
05 - Everybody's Somebody's Fool (Gladys Hampton, Regina Adams, Ace Adams)
06 - My Girl (Smokey Robinson, Ronald White)
07 - What Goes Around Comes Around (Allen Levinsky, Arthur Stokes, Dana Meyers, Floyd Weatherspoon)
08 - In Our Small Way (Bea Verdi, Christine Yarian)
09 - Shoo-Be-Doo-Be-Doo-Da-Day (Sylvia Moy, Henry Cosby, Stevie Wonder)
10 - You Can Cry on My Shoulder (Berry Gordy)


Ben é o segundo álbum solo de Michael Jackson, do mesmo ano de Got to Be There. Michael ainda era membro dos Jackson 5, mas a gravação desses álbuns prova que a gravadora já via nele um talento e uma capacidade acima dos seus irmãos, o que viria a se confirmar nos anos posteriores.

Este álbum ainda é uma obra totalmente de intérprete, não tendo nenhuma música composta pelo pequeno Michael. A maioria são regravações de sucessos do R&B de artistas da própria Motown, mas a faixa título é uma composição feita para um filme de mesmo nome e gravada originalmente por Michael.

A faixa de abertura é justamente esta que dá nome ao álbum, Ben. Gravada para o filme de mesmo nome (um filme de terror que conta a história de um menino e seu rato), foi o único single do álbum e foi um sucesso absoluto, chegando ao 1º lugar da Billboard e sendo indicada ao Oscar de melhor canção original.

Ben é uma delicada balada que privilegia a grande qualidade de Michael nessa primeira fase de sua carreira, que era a interpretação vocal ao mesmo tempo suave, emocionante e poderosa. O instrumental nunca se destaca, sendo um acompanhamento perfeito à voz de Michael e ao backing vocal que é também é discreto, apenas reforçando a interpretação vocal.

A letra é uma ode a uma amizade pura, com a voz da canção dizendo ao amigo “Ben” que antes eram solitários e agora um apoia o outro. É curioso que a letra da canção funciona para sustentar o estranho plot do filme, de um garoto que tem um amigo que é um rato:

Ben, most people would turn you away
I don't listen to a word they say

Ben, a maioria das pessoas te mandaria embora
Eu não escuto nada do que eles dizem

E também funciona por si só, mostrando um amigo que é diferente (aí cabe ao ouvinte pressupor qual diferença ele traz), mas que tem alguém que ignora as diferenças, ou as abraça, e que sempre estará ali por ele. Não é por menos que é a mais famosa canção solo de Michael na fase pré Off The Wall e uma das mais belas baladas sobre amizade de todos os tempos.

Greatest Show on Earth é mais animada, com um instrumental que se destaca mais (e um som bem anos 70). A letra é uma brincadeira entre o Circo (Maior espetáculo da Terra), aqueles parques de diversão itinerantes (carnival) e o amor, que como diz o refrão:

Love, love, love
Is the Greatest Show on Earth

Amor, amor, amor,
É o maior espetáculo da Terra.

É uma bonita canção e mantém o bom nível do álbum.

Na sequência vem People Make the World Go 'Round, um dos pontos altos do disco, uma música política que lembra muito Marvin Gaye. A instrumentação é muito interessante, bem diferente do restante do disco, a interpretação de Michael e os backing vocals fazem um bom trabalho dando um ar estranho à música, mas é a letra que se sobressai, com mensagens diretas à situação da época nos Estados Unidos, que soam atuais ainda hoje, como nos versos:

Teachers on strike, no more school today
They want more money but the board won't pay

Professores em greve, não há mais escola hoje
Eles querem mais dinheiro, mas a Câmara não vai pagar

Criando uma canção bem diferente do que os Jackson 5 tocavam na época.

We've Got a Good Thing Going é outra excelente canção deste início de álbum, novamente uma balada com belo trabalho vocal e instrumentação suave, mas que mostra uma faceta romântica que já começava a redirecionar o público de Michael para os adolescentes, diferenciando ele de seu trabalho com os Jackson 5 (e que seria o rumo que depois a banda tomaria como The Jacksons).

Hey my girl
She did something to my chemistry
And when I'm close I'm sure
I raise her temperature by 3 degrees

Ei, minha menina
Ela desperta algo em minha química
E quanto estou perto dela tenho certeza
Que faço a temperatura dela subir uns 3 graus

Esse pequeno trecho mostra uma letra um pouco mais adulta, mas ainda ingênua, exatamente o direcionamento que a Motown deu à carreira de Michael.

Everybody's Somebody's Fool é outra balada (elas dominam claramente este álbum) mas com um clima bem mais pessimista que as canções anteriores:

It's beautiful to watch love begin
But oh so sad when it ends
As you got through life remember this rule
Everybody's somebody's fool

É lindo ver amor começar
Mas é tão triste quando acaba
Enquanto você segue a vida, lembre-se dessa regra
Todo mundo é o tolo de alguém

Novamente é perceptível a mudança de público alvo, mas a canção traz uma lição moralizante que ameniza o pessimismo:

But remember sister or brother
You all have to answer to the one u above

Mas lembre-se, irmão ou irmã
Vocês todos terão que responder pro homem lá de cima

A parte instrumental reforça o clima, sendo bem calma, perfeita pro esquema seguido no álbum, com Michael fazendo um vocal bonito, mas delicado e os backing vocals acompanhando e “respondendo”.

My Girl é um clássico de Smokey Robinson gravado originalmente pelos Temptations. Essa gravação original é uma das mais famosas do R&B americano (foi número 1 da Billboard) e a canção uma das mais regravadas de todos os tempos, tendo destaque a versão maravilhosa de Otis Redding, a curiosamente fiel versão dos Rolling Stones, a do The Mamas & the Papas, a sussurrada versão country de Dolly Parton (rebatizada de My Love), a inusitada (e ótima) versão ska de Prince Buster, a bela versão alternativa do Jesus and Mary Chain, o famoso dueto de Ami Stewart e Johnny Bristol (com outro clássico, My Guy sendo tocado junto com My Girl) e a animada versão de seu compositor, Smokey Robinson, mas devo dizer que Michael fez um bom serviço aqui.

Sua versão muda um pouco o ritmo da música original, principalmente porque os backing vocals são diferentes daqueles dos Temptations, o que cria um clima mais animado ao clássico, inclusive com um arranjo muito bom, onde os instrumentos se destacam bastante, rivalizando com a ótima e segura interpretação de Michael.

Nem é preciso comentar a letra de uma música tão famosa, mas é uma bonita canção sobre um homem se gabando de como seu mundo é melhor e todos o invejam apenas porque ele tem essa garota maravilhosa.
A 7ª faixa é What Goes Around Comes Around é uma legítima “dor de corno”, mas curiosamente apenas na letra, já que a melodia é animada, com uma instrumentação ágil aliada a um backing vocal muito ativo, criando uma sonoridade bem setentista. Novamente vemos Michael cantando um material mais adulto, e ele se sai muito bem colocando o sentimento necessário na letra.

How could you be so mean and untrue?
He didn't want you until he'd seen
What my love did for you

Como você pode ser tão má e mentirosa?
Ele não te quis até ver
O que o meu amor fez por você.

In Our Small Way começa com uma parte falada que novamente lembra Save the Children de Marvin Gaye, tornando-se uma referência clara, já que a letra dessa canção é levemente política e Gaye havia lançado sua obra prima What’s Going On no ano anterior. Aqui Michael soa como uma versão adocicada de Gaye, ou seja, com um discurso apaziguador mas sem a subversão de Gaye. A sonoridade é típica da Motown na época (é bom lembrar como a gravadora costumava “igualar” a sonoridade de seus artistas).

Maybe you and I can't do great things
We may not change the world in one day
But we still can change some things today...
In our small way

Talvez você e eu não consigamos fazer grandes feitos
Nós talvez não mudemos o mundo em um dia
Mas nós ainda podemos mudar algumas coisas hoje...
De nosso pequeno jeito

Apesar de ser uma boa gravação, a ideia da Motown não funcionou, já que falta o espírito de Gaye a está canção.

Shoo-Be-Doo-Be-Doo-Da-Day é uma regravação bem fiel de Steve Wonder, e ainda que Michael faça um belíssimo trabalho vocal, dando uma bela dinâmica à canção, a versão de Wonder é claramente superior, afinal, é muito difícil derrotar o gênio em seu próprio domínio e Michael levaria alguns anos e alguns álbuns para adquirir toda a dinâmica que o transformou no maior artista do mundo.

O álbum fecha com You Can Cry on My Shoulder uma canção composta por Berry Gordy o chefão da Motown, e isso explica o porquê dela ser a música mais convencional do álbum, sendo composta pra ser um daqueles sucessos da fábrica da Motown.

É basicamente uma “dor de corno”, com o cantor dizendo que a amada, que acabou de perder seu amante, pode chorar no seu ombro. A letra chega a dizer que se ela quiser, ele a ajuda a recuperar o cara... no geral é a canção mais fraca do álbum.

Ben é uma obra muito diferente tanto da sonoridade dos Jackson 5 como do que viria a ser a sonoridade do Rei do Pop, construída a partir do Off The Wall. É claramente perceptível que ele não tinha influência alguma nos arranjos ou escolha de repertório, o que produz um disco com menos ousadia do que o normal, mas que é salvo e plenamente compensado pelo belíssimo trabalho vocal de um jovem, mas absurdamente talentoso Michael Jackson.

Conta a favor do álbum ainda a presença de algumas excelentes versões (My Girl é a melhor delas) e um single que é uma das grandes músicas do cancioneiro americano (Ben). No final Ben traz uma faceta diferente de Michael, que talvez tenha sido ofuscada pelo seu posterior domínio da cena musical, mas que vale a pena ser conhecida.


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