quinta-feira, 28 de junho de 2012

Michael Jackson, Forever, Michael

Artista: Michael Jackson
Album: Forever, Michael
Gravadora: Motown
Ano: 1975

01 - We're Almost There (Edward Holland, Jr., Brian Holland)
02 - Take Me Back (Edward Holland, Jr., Brian Holland)
03 - One Day in Your Life (Sam Brown III, Renée Armand)
04 - Cinderella Stay Awhile (Michael Burnett Sutton)
05 - We've Got Forever (Elliot Willensky)
06 - Just a Little Bit of You (Edward Holland, Jr., Brian Holland)
07 - You Are There (Sam Brown III, Randy Meitzenheimer, Christine Yarian)
08 - Dapper Dan (Don Fletcher)
09 - Dear Michael (Hal Davis, Elliot Willensky)
10 - I'll Come Home to You (Freddie Perren, Christine Yarian)


Depois de três bons álbuns em um curto período de 2 anos, Michael Jackson se preparava pra sair da Motown com seus irmãos (e deixar o nome Jackson 5 por lá). Esse álbum é fruto dessa saída, já que por contrato ele foi obrigado a lançar um último trabaho com a gravadora (o álbum já estava em processo de gravação durante o rompimento).

A saída dos irmãos Jacksons da Motown não foi muito amistosa e isso se reflete neste álbum, que é sem dúvida nenhuma o mais fraco dessa primeira fase da carreira solo do artista.

O que vemos aqui é um trabalho burocrático e totalmente pasteurizado, sendo francamente decepcionante, frente ao progresso que o artista apresentava. A principal razão para o rompimento é que a Motown controlava completamente seus artistas, impondo que gravassem músicas escolhidas pelos executivos e impedindo os artistas de comporem suas próprias canções, e desta forma foi feito o álbum.

A sonoridade deste disco é muito focada em baladas e – estranhamente – ignorou a onda disco dominante que havia inclusive sido adotada com êxitos pelos Jackson 5, e que iria ser o guia tanto do The Jacksons (com algumas gravações memoráveis) quanto do primeiro disco da segunda fase da carreira solo de Michael (o delirantemente bom Off The Wall). Imagino que o plano da Motown era deixar a banda com a sonoridade Disco e transformar Michael em um astro da música romântica... nem preciso dizer o quão estapafúrdia é essa ideia, já que durante toda a sua carreira Michael sempre fez belíssimas baladas (Human Nature do Thriller talvez seja a mais icônica) mas dominou o mundo à base de um som dançante e profundamente rítmico.

O álbum abre com We're Almost There, que é uma boa canção, de fato, uma das melhores gravações do álbum. Traz um vocal mais adulto de Michael, mas os problemas do disco começam já aqui. A sonoridade é cheia de efeitos de teclado datados, Michael apesar de sempre cantar bem, claramente não está se esforçando e o backing vocal é redundante e mal utilizado. A letra é razoável, variando entre trechos bonitos:

No broken bridges
Can turn us around
Cause what we're searchin' for
Will soon be found

Nenhuma ponte quebrada
Pode nos fazer voltar
Porque aquilo que estamos buscando
Está próximo de ser encontrado

E partes piegas (que costumam ser relevadas quando o instrumental e o canto se destacam, o que não é o caso aqui):

Look at the lonely lovers
That didn't make it
Life's long hard climb
They just couldn't take it

Olhe os amantes solitários
Que não conseguiram
A vida é uma longa escalada
Eles simplesmente não aguentaram

Take Me Back já começa com um maldito instrumental estourado que domina o disco e – sinceramente – põe tudo a perder. A melodia é um desastre, ao mesmo tempo tentando emular uma sonoridade própria da Motown (e falhando miseravelmente) e inserindo uma percussão no fundo que tenta soar tribal, mas só confunde o ouvinte. A letra é um clichê de amor:

Take me back
Take me back where I belong
That's with you baby

Leve-me de volta
Leve-me de volta pra onde eu pertenço
Que é com você, baby

O backing vocal continua equivocado (com contra cantos muito mal executados) . Não havia o que Michael fazer para salvar a canção... talvez se recusar a gravá-la.

One Day in Your Life melhora consideravelmente a qualidade da obra. Não é uma obra-prima, longe disso, mas é uma bonita canção, sendo um ponto alto do álbum, tanto na parte melódica (reparem na boa condução da bateria), quanto na interpretação de Michael, que a defende delicadamente e com sentimento.

Essa gravação comprova plenamente o que disse anteriormente, que uma letra clichê pode ser compensada pelos outros elementos da canção:

One day in your life
You'll remember the love you found here
You'll remember me somehow
Though you don't need me now
I will stay in your heart


Um dia na sua vida
Você vai lembrar do amor que encontrou aqui
Você vai lembrar de mim de alguma forma
Embora você não precise de mim agora
Eu vou ficar no seu coração

Essa música é a que mais fez sucesso no álbum e a mais reconhecível pelo público ainda hoje.

Na sequencia Cinderella Stay Awhile mantém razoavelmente o nível, usando uma sonoridade disco bem interessante. Lembra uma canção do ABBA, mas não é tão memorável quanto, digamos, Dancing Queen, pois apesar de musicalmente bem construída, falta um ritmo frenético típico das melhores músicas disco.

We've Got Forever volta à instrumentação megalomaníaca, com um órgão a la Elton John abrindo a canção e um arranjo todo no teclado. Apesar de trazer um frescor pra um disco tão convencional, ela não atinge jamais o brilho o necessário para ser considerada memorável. Novamente aqui o backing vocal faz um belo estrago e – unido ao instrumental exagerado – ofusca negativamente a interpretação de Michael.

Just a Little Bit of You começa empolgante e é muito bem defendida por Michael. A letra é novamente o clichê romântico mediano do restante do álbum:

Just a little bit of you every day
Will surely keep the doctor away

Só um pouquinho de você todo dia
Com certeza manteria o doutor longe

Mas o instrumental disco funciona realmente bem aqui (e verdade seja dita, os backing vocals também). Se o álbum tivesse seguido essa levada (a que o The Jacksons seguiria posteriormente) teria sido muito mais bem realizado.

You Are There infelizmente deixa de lado a animação e volta às baladas... de maneira pedestre. A introdução parece Yanni e o canto de Michael abandona o tom adulto que ele havia adotado, soando bobo. A letra só reforça os problemas:

Like a rainbow after rain
Like the night follows day
You're the answer to the prayers I say,

Como um arco-íris após a chuva
Como a noite segue o dia
Você é a resposta pra todas as minhas orações

Realmente é um ponto baixo do álbum.

Quando o álbum parecia ir pro buraco de vez, Dapper Dan salva a pátria. É a melhor gravação do álbum, investindo em tudo que foi negligenciado no restante da obra, bom ritmo, instrumentação interessante, bom uso dos backing vocals e – principalmente – uma interpretação solta de Michael, que vinha sendo “preso” pelas baladas que dominam o álbum. Na verdade a própria letra explica a sonoridade da canção:

I got rhythm and a whole lot of soul
I can dance I can shake it baby (He can dance)
I'm just a little country boy
Harmonica in my hand I got soulful rhythm in me
I'm a get down dancin man
Shalalala boom boom

Eu tenho ritmo e bastante soul
Posso dançar, posso mexer baby (Ele pode dançar)
Eu sou só um garotinho country
Harmônica em minha mão... eu tenho ritmo cheio de soul em mim
Sou um dançarino cheio de vida
Shalalala boom boom

Na sequência vem Dear Michael, uma boa balada, com uma letra auto-referencial e uma sonoridade que, apesar de seguir o esquema exagerado do álbum, funciona bem e se destaca. A interpretação vocal é boa, ainda que não incrível, mas o destaque aqui é mesmo o instrumental, que é muitíssimo bem executado.

O disco fecha com I'll Come Home to You que abre com uma narração (recurso muito usado na década de 70 em baladas) e nunca chega a empolgar, e soa muito piegas no refrão:

Wherever I go, whatever I do
I'll always come home
I'll come home to you

Não importa onde eu vá
Não importa o que eu faço
Eu sempre voltarei pra casa com você

Michael canta bem nesta faixa, mas mesmo assim a música não soa como nada diferente de uma daquelas que tocam em comerciais de coletâneas avulsas de “sucessos românticos da década de outo” ou “Love songs”. Uma pena.

No geral Forever, Michael é um disco fraco, com poucas músicas que se destacam e mesmo essas sem a qualidade esperada. Fica claro que a Motown deu rumo errado às gravações e que Michael Jackson estava descontente quando gravou. O álbum não fez muito sucesso e por isso mesmo levou o artista a repensar seu rumo, já que claramente ele precisava de uma mudança de sonoridade. A mudança veio com Off The Wall.


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