domingo, 18 de julho de 2010

A Estrada da Noite, Joe Hill

"Jude tinha uma coleção particular.
Tinha desenhos emoldurados dos Sete Anões na parede do estúdio, entre seus discos de platina. John Wayne Gacy, O "Palhaço Assassino", fizera os esboços quando estava na cadeia e os mandara para ele. Gacy gostava da Disney dos anos dourados quase tanto quanto gostava de molestar crianças pequenas, quase tanto quanto gostava dos discos de Jude."

Autor: Joe Hill
Editora: Sextante
320 pág.

Tradução de Mario Molina





Em uma livraria, a prateleira dedicada ao gênero de Terror sempre fica escassa ou dedicada à algumas obras clássicas como Drácula de Bran Stoker, Frankstein e Médico e o Monstro.

A explicação para poucos lançamentos bons no gênero deve-se a um engano que a maioria dos leitores pode, sem querer, imaginar. Que por parecer uma composição um pouco mais ligeira, utilizando-se da atmosfera da trama, tais histórias seriam menores.

Porém, entre a composição de uma trama dramática e a de terror, há a mesma dedicação costumeira. No caso de uma trama assustadora é necessário ainda mais habilidade para tornar um enredo aparentemente absurdo em um argumento crível, possível de aceitação e, a partir dele, desenvolver uma história fantástica.

Mencionar o gênero sem falar de Stephen King é excluir um dos mestres contemporâneos. Em suas próprias palavras, sua intenção nunca foi de criar uma composição primordial e elevada, apenas conduzir uma boa história com sustos, provocando o medo no leitor.

Primeiro romance de Joe Hill - que, por essas curiosidades, é filho do mestre do terror - A Estrada da Noite é uma excelente narrativa que demonstra a força do gênero de Terror.

Situando o público em uma história sobrenatural, sem perder em nenhum momento a narrativa ácida e a ironia, a trama nos apresenta Jude. Um ex-roqueiro cinqüentão que, como segue a cartilha, faz pose de excêntrico. Tem como hobby colecionar artefato macabros, confirmando seu estilo diabólico.

Fascinado por um leilão visto online por seu assistente Danny, Jude decide comprar uma alma penada, incrédulo. Mas o produto chega com um casaco dentro de uma caixa em formato de coração (título da obra em inglês) e muda, para pior, a vida do roqueiro.

Apoiando-se em uma história aparentemente improvável, Joe Hill demonstra seu talento em não só criar uma atmosfera assustadora, como também segurança em conduzi-la com cuidado, sem medo de apresentar situações que sejam anormais. Fundamentando bem os argumentos da trama como Jude investigando o porque tal alma é assombrada e deseja matá-lo, se torna rapidamente aceitável e altamente aterrorizante.

Com uma boa narrativa que nem se antecipa, nem se encerra abruptamente, Hill conduz o leitor por toda a angustia que a personagem sofre. Produzindo cenas imagéticas ao estilo cinematográfico – o romance, alias, já foi comprado para virar filme.

Sem dúvida, Joe Hill cresceu lendo muito dos romances e contos do pai, inspiração notável em sua narrativa que, mesmo coerente com o enredo, sempre possui momentos para descontraí-lo. Mas tão notável quanto é o talento desse escritor que, logo em seu primeiro romance, é capaz de produzir um argumento firme. Certeiro e cativante.

A Estrada da Noite foi lançada pela Editora Sextante que também lançou posteriormente sua primeira coletânea de contos, intitulada Fantasmas do Século XX. De acordo com informações da própria editora há mais do autor a ser lançado. Recentemente Joe Hill publicou seu segundo romance, “Horns”, que em breve chega em nossas terras.


Nenhum comentário:

Postar um comentário