quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dexter, Sexta Temporada

ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO ANALISADAS NO TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO, PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO DA TEMPORADA, PARE DE LER O TEXTO IMEDIATAMENTE. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO-A, POR FAVOR.


Imediatamente após o término do último episódio da sexta temporada de Dexter, abri o editor de texto e despejei uma série de comentários desconexos entre si a respeito daquilo que me incomodou no percurso dessa temporada. Revi minhas anotações diversas vezes sem conseguir produzir um texto a partir delas.

Em análises anteriores, é provável que o leitor tenha notado o carinho que tenho por Dexter e de como aproximo a série de uma excelência narrativa pouco vista na televisão. Afirmando quando possível que seu sucesso era a soma de um roteiro de qualidade interpretado de maneira apurada por seus atores.

Foi pesaroso para mim constatar que, pela primeira vez, a série não tinha me agradado. E, além de minha opinião como expectador, eu possuía uma lista desconexas de razões que explicitavam o quanto a sexta temporada foi realizada sem o esmero adequado.

Decidi deixar minhas anotações de lado e esfriar a cabeça. Esperar que a argumentação crítica superasse minha decepção para compor a análise da temporada. Que traria outro fator inédito. Um texto mais íntimo, diferente da maneira habitual que escrevo.

Sem dúvida, o desfecho da quarta temporada transformou em definitivo a série. Causou impacto, foi audaciosa, mas produziu uma dificuldade imensa para apresentar o dia seguinte. A quinta temporada pareceu mais um desdobramento natural do enredo. Não consigo imaginar se houve um argumento forte além da ideia de tentar reconstruir o universo da série e a personalidade de Dexter.

A sexta temporada ainda é marcada pela sensação fora de foco. Dexter é agora um pai solteiro que divide-se entre o passageiro sombrio e seu filho. A primeira questão que movimenta esta temporada é o futuro de Harrison. Mas o dilema é apenas a prerrogativa para introduzir o elemento que em maiores e menores estâncias estará em todo este ano: a religiosidade.

Após uma quinta temporada oscilante, é compreensível que se utilize a fé como desenvolvimento dramático. A religião sempre é segura por ser incendiária por si só. Gera um conforto a mais para os produtores que, provavelmente, tinham medo que parte do público debandasse.

Introduzir a religião no universo de Dexter parece interessante. Mas acaba cedo demais por ser apenas uma idéia, não um argumento mais graúdo como os anteriores. Como se um calculo mal realizado produzisse um abismo considerável entre a idéia e a execução da mesma.

A religião se apresenta em três frentes distintas: Dexter e a relação com Harrison, em referencia ao que será passado como ensinamento ao garoto. Um pastor, bandido regenerado, que torna-se amigo de Dexter e desenvolve-se como elemento positivo da fé. E o assassino da temporada, um homem que com a ajuda de um pupilo acreditam arquitetar o caminho para o apocalipse na Terra.

Não bastasse o exagero de conflitos diferentes sobre o mesmo tema, novas personagens são introduzidas e atores conhecidos convidados para interpreta-las. Produzindo certa overdose de atenção na tela. Diversas histórias que parecem densas mas que quase não levam a nenhum lugar.

O pastor interpretado por Mos Def é apenas a válvula de escape religiosa de nosso forense. Como Harry era um pai agnóstico, optaram por introduzir uma nova personagem que refletisse os pensamentos com Dexter no âmbito religioso. Motivação para mais uma dúvida da personagem: poderia um assassino serial ser amado por um suposto Deus?

O outro lado da fé representa-se pelas mortes envolvendo rituais bíblicos. Edward James Olmos é um excelente ator mal aproveitado pelo roteiro que não o permitiu dar a profundidade necessária para sua personagem. Ainda que seja possível defender a composição plana de James Geller avaliando que o professor é uma projeção de seu pupilo.

Colin Hanks embora tente esboçar a loucura dúbia necessária para a personagem permanece apático em boa parte da temporada. Produzindo alta incredibilidade quando revela-se o jogo entre ele e mestre. Ainda mais quando Olmos é um ator mais talentoso que o filho de Tom Hanks.

Com diversas histórias novas para desenvolver, as personagens fixas da série foram tratadas de duas infelizes maneiras: ou deixadas de escanteio ou revelando alguma surpresa exagerada para esconder o fraco roteiro. Dessa forma, personagens que o público imaginava conhecer realizaram atitudes incabíveis ou despropositadas que soaram como desespero dos produtores. Não uma evolução natural da composição de suas personalidades.

Angel Batista tornou-se um policial sem nenhum charme. Quinn, frio e marrento, virou arremedo bêbado pelo fora que leva de Debra. Se por um lado a promoção de Debra como tenente é uma excelente transformação, a descoberta que é apaixonada pelo meio irmão é patética e desconfortável.

No último episódio da temporada fica evidente que, como no terceiro ano de Californication, o canal Showtime errou a mão. Esticou uma trama que deveria ter sido apresentada no início e desenvolvido ao longo dessa temporada. Para que Debra ainda não descobrisse o ofício do irmão, outro conflito deve de ser desenvolvido, deturpando a coerência da personagem até então.

A terapeuta que acompanha Debra parece a explicação pública da modificação dos roteirista. Ainda que elucide pontos corretos a respeito da personagem, não há dúvida que o irmão é tido como o único homem confiável em sua vida, é exagerado apontar que pelo mesmo motivo há uma paixão. Saída banal e polêmica que segura a trama que foi prolongada.

Estranhamente somente Vince Mazuka não perde seu padrão. Mantém o alívio cômico da série e não possui nenhum segredo revelador ou sórdido como até mesmo seus dois estagiários forense. Retomar brevemente a história do assassino do caminhão de gelo produz apenas estranhamento desnecessário. Gerando cenas que não tem muita razão como a caixa que Dexter recebe, com o manequim de uma cena do crime, que não tem conexão com a história apresentada.

Diante de tantas distorções até mesmo Dexter traí a si mesmo para satisfazer um roteiro mal executado. Levaremos em conta que público conhece a maneira de pensar de Dexter. Assim, na cena final, seria mais fácil para o assassino forense deixar o assassino do apocalipse morto no prédio do que retira-lo de lá. Esse ato ajudaria a si mesmo, pela dúvida religiosa presente em seus pensamentos e como ajuda ao departamento policial que tinha uma baixa taxa de resolução de crimes.

Fica evidente, pela terceira vez neste texto, que para justificar os fins não importou a coerência das personagens. Há apenas um motivo para a cena em que Dexter mata o assassino do apocalipse dentro de sua igreja: fazer com que explicitamente Debra o flagre-o e a descoberta do passageiro sombrio seja o mote para a próxima temporada, quando deveria ter sido desta.

Lamentavel que pelo roteiro curto tantos erros estruturais foram cometidos de maneira propositada em busca de ganchos para cada episódio. O monologo final em que Dexter afirma que o mal existe para o bem, a luz para escuridão, parece um recordatório didático. Nada acrescenta a um público que há seis anos tem alta carisma por um assassino e muito menos para a própria personagem que conhece sua condição.

A sexta temporada de Dexter garantiu sua qualidade apenas nos belos cartazes de divulgação, que colocavam a personagem em ambientes ou situações dúbias sobre religiosidade. O gancho para o próximo ano é eficiente ao menos como idéia. Resta saber como os roteiristas lidarão com mais uma mudança brusca na história se a morte de Rita é ainda um pesado fardo não superado.

Um comentário:

  1. Não concordo, achei a temporada fantástica... só perde para a 4a e a 1a temporada!!

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