domingo, 5 de dezembro de 2010

A Semana em Filmes (28 de Novembro a 04 de Dezembro)



Monstros S.A. (Monsters Inc.)

Dir. Peter Docter, David Silverman



A cada produção revista da Pixar e, conseqüentemente, criticada nesse espaço, ressalto o quanto prezo a produtora e sua qualidade soberba. Essas afirmações podem entediar leitores que procuram tais resenhas, porém, é necessário sempre registrá-las.
Quarto filme da parceria Disney / Pixar, anterior a compra milionária, Monstros S.A. mantém ainda a linha infantil. Sem uma característica que se tornaria fundamental nas produções futuras da casa: diversas camadas narrativa, gerando interpretações e sentimentos diferentes em adultos e crianças.
Tal ausência não diminui o filme cuja simplicidade de enredo tem destaque no humor. Como é de costume, a produtora desenvolve um universo a parte para a fundamentação de sua história. Aqui cria uma fábrica de sustos cujos empregados, os monstros do título, saem do armário de cada criança com a missão de assustá-las e gerar a fonte de energia necessária para a sobrevivência da cidade monstro.
A dupla central é bem equilibrada nas figuras de Mike Wazowki, um ser verde de um olho só e o peludo e grandalhão James P. Sullivan, considerado o monstro mais assustador da empresa (e, ainda hoje, um personagem cuja animação salta aos olhos pela perfeição da composição). Através dos amigos que o público terá contato com Boo, uma garotinha que, acidentalmente, vai para o mundo dos monstros.
Mesmo seguindo uma vertente mais simples do que suas outras produções, Monstros S.A. é capaz de ser engraçado e sensível na medida para fazer rir e encantar. E, devido a seu sucesso, foi confirmado uma continuação. Nem irei mencionar que, tratando-se da Pixar, significa outra boa produção.




Resident Evil - O Hóspede Maldito (Resident Evil)

Dir. Paul W. S. Anderson



Em paralelo com o filão das histórias em quadrinhos, cujo marco inicial foi a produção de X-Men, as adaptações de vídeo game vem, também desde aquela época, se fundamentar na indústria cinematografia como uma fonte confiável de rentabilidade. Porém, é como se uma maldição permeasse tais adaptações que nunca tiveram um resultado a altura da fama de seus jogos.
Mais notável em suas adaptações são as mudanças primordiais que fazem entre jogo e filme, além de uma trama que não sustenta um enredo de duas horas. Mesmo sendo funcional no vídeo game, na passagem para a tela grande torna-se plausível demais.
Resident Evil – O Hóspede Maldito foi uma das primeiras produções lançadas do gênero. E, embora tenha três continuações, e também como seus companheiros de estilo, nunca foi suficientemente bom.
A primeira produção apresenta A Colméia, um laboratório subterrâneo que foi lacrado devido a uma ameaça biológica, transformando todos em zumbis. É nesse cenário que Alice, junto com os encarregados da corporação Umbrella, dona do laboratório, adentram o que sobrou do local para tentar descobrir as causas da ameaça.
A problemática da história se constrói em todas as bases. Escalou uma atriz bonita, mas sem muita expressividade. Um diretor que hoje é consolidado como um dos menos articulados e rasteiros de Hollywood (que já havia dirigido a kitsch adaptação do jogo Mortal Kombat). E uma trama que simula muito – evidente – a dinâmica de um vídeo game: há um problema a ser resolvido, ocorre uma ação que o resolve e uma reação pior que precisará de mais suor dos heróis. Junto a essa progressão, zumbis mais fortes surgem em cena.
As seqüência vão se tornando cada vez mais articuladas, como fases. E devido ao talento escasso de Anderson, cenas de ação são filmadas em câmera lenta em close no estilo há uma luta acontecendo, mas o público não vê nada pela falta de técnica.
Os grande vilões da trama, os humanos que se tornaram zumbis pelo vírus, não apresentam nada demais. Exceto por alguns cachorros cobaias de testes que, provavelmente, realizam a cena mais divertida da produção.




Resident Evil - Apocalipse (Resident Evil - Apocalipse)

Dir. Alexander Witt


Dois anos após o lançamento da primeira produção, Resident Evil: Apocalipse estréia nos cinemas. Recebida as críticas negativas de parte do público, a sequencia da história tenta se aproximar ao universo do vídeo game, introduzindo outras personagens apresentadas na saga.
Comum em qualquer história do gênero, a epidemia antes centrada apenas no laborátoria da Corporação Umbrella dizimou a cidade. E Milla Jovovich retorna ao seu papel de Alice na trama que retoma exatamente onde o longa anterior parou.
Escrito pelo diretor Paul W.S. Anderson, a direção ficou a cargo de Alexander Witt, pois Anderson estava ocupado produzindo outra franquia mediana. A terrível Alien VS Predador.
A produção tem um pouco mais de desenvoltura que o longa anterior. Deve-se isso as novas personagens que fazem com que a ação seja mais dinâmica. Porém, ainda assim, a sensação de repetição é nítida, com o grupo de sobreviventes enfrentando dificuldades maiores e maiores até o desenvolvimento final em que Alice luta com outro tipo de zumbi.
A trama fundamenta-se um pouco mais, revelando as intenções da corporação. Ainda que muitas tramas de zumbis não expliquem sua ambientação, a história de Resident Evil carecia de tal aspecto. Assim, a presidência que fez os experimentos é apresentada dando um caráter um pouco menos superficial a trama.
Novamente enredo finaliza-se com amarras em aberto, aguardando que um bom resultado na bilheteria rendesse a segunda continuação.




Resident Evil 3 - A Extinção (Resident Evil: Extinction)

Dir. Russell Mulcahy



Não tenho conhecimento a respeito dos jogos da saga Resident Evil. Não cabe a mim dizer se o desenvolvimento dos longas refletem em acontecimentos que estavam no vídeo game e foram usados como elementos na seqüência. Independente desse fato, a terceira produção dos zumbis da corporação Umbrella, Resident Evil 3 – A Extinção, toma rumos mais bruscos do que seus antecessores.
A devastação se alastrou pelo mundo e agora restam apenas poucos sobreviventes. O planeta terra tornou-se um lugar árido, onde pessoas maltrapilhas tentam se esconder e buscar proteção e comida.
Com a explicação dada no final do segundo filme, Alice retorna a cena mas, dessa vez, além de ser uma simples humana. Devido a intervenções da corporação, a personagem ganhou superforça e capaz de manipular objetos com a força da mente.
Ainda que tal argumento se apóie, eventualmente, em seu jogo, não funcionou nas telas. Evidencia, pela segunda vez, a idéia de uma escala evolutiva, que necessita apresentar novidades e problemáticas como se tais movimentos segurassem o público. Produtores esquecem que embora vindo de um vídeo game, os filmes não o são.
Jovovich repete seu papel apático, dessa vez acompanhada de um grupo de sobreviventes que procuram um lugar sem a epidemia para viver. O roteiro segue nas mãos de Paul W. S. Anderson e a direção fica a cargo de Russell Mulcahy, dos três o que mais dirigiu produções consagradas (tal constatação não diz muito, mesmo assim).
Programado para se tornar o desfecho da saga e, portanto, a derradeira fase, não há um vilão visível a ser combatido. Alice e seu grupo procuram a tal terra prometida enquanto jura vingança a Umbrella.
Ainda que um tanto arrastado, sem muita ação como os dois primeiros, se mantém na mesma linha seqüencial, sem atrativos extras.




Resident Evil: Recomeço (Resident Evil: Afterlife)

Dir. Paul W. S. Anderson



Qualquer um que teve contato com vídeo games tem conhecimento que muitos dão a chance de dar seqüência no jogo após ter morrido. Usar a opção continue é, literalmente, jogar após a vida ou, como diz o título brasileiro, um recomeço.
Valendo-se de um clichê para explicar a história até aqui, e as reviravoltas que aconteceram nos últimos filmes, a saga prossegue com Alice e sua procura por sobreviventes. Paul W. S. Anderson retoma a direção e realiza uma produção que se assemelha com a anterior, porém mais cansada.
Nada é realmente novo. Novos personagens são encontrados presos em lugares repletos de zumbis. As lutas contra eles continuam da mesma maneira burocrática e quando um novo elemento aparece, não há nenhuma explicação para tal o enredo fica ainda mais estranho (um zumbi novo, com máscara de executor e machado gigante aparece na trama. Mas não há nenhuma explicação de onde ele veio, muito menos de como foi criado).
A busca permanece a mesma: um local sem a infecção do T-Virus. Porém, dessa vez ao contrário de uma terra, sobreviventes tentam encontrar a paz em um barco que garante que está imune aos zumbis. Porém, como nada é fácil, é possível que tal lugar nem seja aquilo que se espera.
O desenvolvimento final da sobre-vida de Resident Evil encerra a história da mesma maneira que começou a quase dez anos atrás. Sem nenhum brilhantismo como, até agora, nenhuma adaptação de jogos e apontando que aquilo que conta para uma franquia não é uma bilheteria excelente, e sim qualquer média aceitável de rentabilidade que resulte em alguma margem de lucro.
A última produção foi lançada nos cinemas também em terceira dimensão. Ainda que a versão que vi tenha sido em duas, é possível notar que ao menos não se exagerou nas cenas de ação para realizar o efeito dimensional de objetos pulando na tela. Um ponto positivo ao ordinário Anderson.




A Rede Social (The Social Network)

Dir. David Fincher


Não há reportagem que aborde tecnologia que não saliente a velocidade atual da informação. Devido ao acesso cada vez mais amplo da internet, notícias podem circular o globo em questão de segundos, mesmo se for um rumor sem fundamento.
Um dos aprendizados primordiais ao utilizar a rede é que a menor fatia de informação pode se tornar uma explosão. Tudo aquilo que é publicado se torna eterno, bem ou mal.
Acompanhando a lógica acelerada da tecnologia, baseando-se no livro Bilionários Por Acaso - A Criação do Facebook - Uma História de Sexo, Dinheiro, Genialidade e Traição de Ben Mezrich, o diretor David Fincher e o roteirista Aaron Sorkin apresentam A Rede Social, produção que narra a – recente – criação da rede que se tornou a mais popular nos Estados Unidos.
Alguns incrédulos se perguntaram como uma história aparentemente comum tem potencial para se tornar interessante. E boa parte da boa execução do filme deve-se a produção envolvida. É de se imaginar que se trata-se de outra equipe, a história seria patética.
Escolhido para transformar o livro em roteiro, Aaron Sorkin é um especialista em tramas políticas com tensões conflituosas. Além de roteirizar boa parte da série The West Wing, concebeu o roteiro de Jogos de Poder, Questão de Honra e Meu Querido Presidente. Produções cuja trama envolvem política e seus trâmites sujos (até mesmo no último filme, um romance, a ambientação é boa).
David Fincher é um diretor exemplar. Um dos grandes contemporâneos, realizador de ao menos três grandiosos filmes dos últimos tempos: Se7en – Os Sete Crimes Capitais, Clube da Luta e Zodíaco. Sua direção não só acompanha três grandes histórias como insere um estilo peculiar a elas.
A produção engendra uma história que toca a realidade, mas trabalha com elementos narrativos que aumentam sua potência. Transformam a personagem real de Mark Zuckerberg (em boa interpretação de Jesse Eisenberg) em um nerd frustrado, mal educado e egoísta, cuja primeira fagulha para a criação da rede vem de um site onde alunos da universidade de Harvard poderiam escolher quem era a mulher mais sexy da turma.
Se parte do enredo e das personagens foram modificadas a procura do impacto, caberá ao público descobrir as divergências em pesquisas e leituras. Já que a apresentação de tais figuras é realidade de maneira tão viva que parecem, de fato, um decalque da realidade.
Evidente que a intenção da produção é transformar sua história em um movimento além de mesma. Demonstrando que quando o assunto refere-se a negócios, a fundamentação de idéias, criação de novos conteúdos, principalmente na área tecnologia, ninguém se torna amigo de ninguém. A concepção da Rede Social poderia muito bem ser a de outra história, mas o fato de ser baseada em fatos reais faz com que público seja mais ávido em assisti-lo
A Rede Social, a exemplo da internet, fonte de sua produção, demonstra que, no fundo, não é a verdadeira sequencia fiel dos fatos que importa. Mas sim aquilo que se diz e que consegue se proliferar na multidão. Por mais que as figurais reais apresentadas na trama tentem se desarticular da personagem, sem dúvida, será dessa maneira que público lembrará da história da criação do Facebook.
Além dessa interessante meta-reflexão, a produção trás a toma o melhor de David Fincher que, em sua última produção, O Curioso Caso de Benjamim Button, apresentou um drama belamente estético mas sem alma.

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