Álbum: Bad
Gravadora: Epic
Ano: 1987
01 - Bad (Michael Jackson)
02 - The Way You Make Me Feel (Michael Jackson)
03 - Speed Demon (Michael Jackson)
04 - Liberian Girl (Michael Jackson)
05 - Just Good Friends with Stevie Wonder (Terry Britten, Graham Lyle)
06 - Anoter Part Of Me (Michael Jackson)
07 - Man In The Mirror (Siedah Garrett, Glen Ballard)
08 - I Just Can´t Stop Loving You with Siedah Garrett (Michael Jackson)
09 - Dirty Diana (Michael Jackson)
10 - Smooth Criminal (Michael Jackson)
11 - Leave Me Alone (Michael Jackson)
Terceiro e último álbum em parceria com o produtor Quincy Jones, Bad tinha uma dificil empreitada nas mãos. Manter a densidade sonora do álbum anterior – posteriormente eleito o melhor de todos os tempos – e garantir sucesso de crítica e público.
Michael Jackson nunca esteve tão a vontade para apresentar músicas próprias. Dizem que as composições chegavam a mais de sessenta e o músico intentava lançá-las em um disco triplo. Jones, porém, convence-o a lançar o álbum no formato tradicional com dez faixas. Ainda que na edição em cd a canção Leave Me Alone foi inserida.
Bad foi lançado em 1987, cinco anos do estrondoso e contínuo sucesso de Thriller. Se os dois impecáveis álbuns anteriores funcionavam como uma desconstrução da música pop até então, coube a Bad a potência de reconstruí-la. Sendo um álbum centrado em elementos mais tradicionais sem deixar de lado arroubos criativos e algumas experimentações.
Dificil seria produzir um disco tão perfeito quanto Thriller. Repetir a experimentação sonora seria apenas realizar uma sequência não natural e desnecessária. É louvável que Jackson tenha tentado ir além da mistura anterior. Buscou peso em algumas canções – peso que Beat It já sugeria – e mudou a temática do álbum, centrada mais no universo íntimo do músico, tanto naquelas pessoas que o cercavam quanto a pensamentos interiores.
Todos sabem o grandioso sucesso do álbum mais famoso. Por consequencia do mesmo, a mídia nunca mais deixou o cantor em paz, em nenhum momento da vida futura. Positiva ou negativamente, Jackson teve a imagem explorada e desgastada em jornais, revistas, e tabloides. Nesse contexto, a canção que abre o disco, mais uma que como a dos álbuns anteriores é excelente, traduz-se como um direito de resposta do próprio músico perante as diversas notícias sobre ele.
Oficialmente a composição da música é relacionada a uma história verídica de um garoto que era agredido por outros colegas por estudar em uma escola de classe média e não naquela do gueto próximo onde viviam. Hoje a história parece metáfora daquele cantor negro que quebrou barreiras musicais preconceituosas. Demonstrando sua potencia não importanto a cor. Um verdadeiro bad man.
A canção serve também como elemento conceitual do álbum. Michael trajaria jaqueta de couro e outros elementos mais agressivos em suas aparições. E a frase “Who´s Bad” tornou-se icone como expressão e como significado do que é Jackson.
A canção seguinte demonstra que a percepção má é somente uma ideia. The Way You Make Me Feel é uma música dançante cujo ritmo propõe uma idéia de movimento constante devido a urgência da letra, uma declaração de amor. Mesmo com uma base mais tradicional, o teclado entra na melodia como um ataque, aumentando a densidade da música, e a sequencia de palmas, característica de outras canções, ajudam a completar o ritmo.
A ode a disco, aos temas mais universais, são deixadas de lado para a observação de um universo mais íntimo. Speed Demon é a canção que, como ouvinte, me deixa mais reticente. Em um primeiro momento considerei a faixa mais fraca. Após ouvi-la diversas vezes observei que o tema parece fora do contexto tradicional do cantor. Embora, diz sua biografia, foi composta em um dia que, atrasado para o estúdio, o músico sofreu uma multa por alta velocidade. O baixo acelerado no refrão data a música com exagero na década de oitenta Porém, a voz agressiva e sussurada equilibra-se bem entre o tradicional e o novo. Mesmo mais tradicional, empolga.
Liberial Girl tem participação da cantora Letta Mbulo que faz os versos iniciais em swalli. A canção é uma ode a uma personagem não identificada. O videoclip da canção intensifica a ideia e é recheado de participações especiais de grandes conhecidos da música e do cinema. Talvez o conceito de cantar para uma musa sem revela-la fosse um truque do próprio Jackson em ocultar da imprensa algum amor que estava vivendo. A parte tal elemento, o uso de dois vocais e a repetição do backing vocal tão bem executado dão o tom especial para a música.
Just Good Friends foi a única das onze canções que não atingiu alguma lista mundial de mais ouvidas ou fez parte de algum single. Fato estranho ainda mais tratando-se de um dueto com Steve Wonder, músico revisitado diversas vezes por Michael. A canção repete um embate parecido com o de The Girl Is Mine mas, dessa vez, em ritmo dançante e com alguém que não parece e não quer saber ao certo com quem ficará.
Baby Loves Me
Though She Never Shows
She Cares
A garota me ama
embora ela nunca demonstre
que se importa
É mais provavel que essa faixa não tenha conseguindo atingir as paradas pela quantidade exagerada de outras que já estavam tocando freneticamente. A canção é boa e ainda reune dois grandes astros consagrados.
Another Part Of Me é a primeira faixa do Lado B. Novamente, a importancia do vinil é referida. Afinal, o segundo lado de um disco é, exatamente, a outra parte do mesmo. Não pensar que tal faixa está colocada exatamente para causar essa intenção é perder parte do significado externo do álbum. É a primeira canção que falará das causas mundiais, sendo a primeira de uma sequencia de canções em sua carreira, algumas boas outras regulares, a falar a respeito da condição mundial seja no aspecto climático, social ou infantil. Vale lembrar que até esse ponto da carreira, Michael já tinha produzido um grande libelo musical contra a fome na Africa em 1985, a excelente canção We Are The World.
Man In The Mirror não é composta por Michael Jackson mas dialoga bem com seu interior. A batida suave e os dedos estalando como ritmo produzem uma balada com muita ternura e certa urgência. Tornaria-se uma das canções chave para compreender o cantor e também uma que ele tinha apreço em cantar. A letra fala das mudanças que devem começar no interior de cada um para, então, tocar o mundo. Os contornos épicos chegam quando o coral acompanha a letra, sendo uma canção de arrepiar. Sentimental sem sentimentalismo barato e com a dose certa de reflexão. Visualizando a mudança de dentro para fora.
I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
And no message could have been any clearer:
If you wanna make the world a better place
Take a look at yourself and then make a change.
Começarei com o homem no espelho
pedirei a ele para mudar seus modos
E nenhuma mensagem será mais clara:
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor
olhe para si mesmo e faça uma mudança
As composições próprias de Jackson retornam em outra balada, agora amorosa. I Just Can´t Stop Loving You é cantada em parceria com Siedah Garrett – uma das compositoras da faixa anterior – e dialoga a mesma história de amor com duas pessoas. Não há elementos musicais inovadores, mas a letra é forte e sintetiza um dos pensamentos de Michael: Love is the answer. Inicialmente, os vocais seriam divididos com alguma cantora famosa, mas Quincy Jones insistiu para que Garrett, sua protegida, fizesse a gravação. A escolha foi positiva e evitou uma desagradável batalha de egos que poderia surgir se dois grandes astros a cantassem.
Há quem compare Dirty Diana com Beat It. Mas se formos comparar faixa a faixa de ambos os discos estaremos destruindo as obras em si. Dirty Diana pode se aproximar sonoramente de Thriller, mas seus versos sobre uma mulher fatal destruidora de corações a situam um passo a frente do disco. A canção soa como se tivesse sido gravada ao vivo, com o público gritando em certos momentos. O que explicita a ideia de que a Diana do título é uma groopie atrevida.
O maior ponto de transição entre a obra anterior e essa é a definitiva Smooth Criminal. Uma canção sincopada pelo baixo sobre uma garota que leva um tiro de um assassino profissional. Todos os elementos de Michael Jackson estariam presentes. A canção narrada em sussuros, pequenos gritos característicos, o espaço para o instrumental que deu direito a uma de suas danças icônicas e a estruturação de um conceito onde o dançarino se veste de mafioso para a canção.
Se o álbum finalizasse a esse ponto, o desfecho seria brilhante. Porém, há um fôlego a mais em cd na canção mais significativa do álbum: Leave Me Alone. Nela um Michael Jackson incomodado e paranóico com a contemplação da mídia pede um pouco de paz para viver. Embora a letra tente demonstrar que estava além das notícias estravagantes criadas em tablóides, o cantor se incomodava muito com as críticas e bizarrices desenvolvidas na mídia por sua personalidade. Mas nesta canção, e no clipe, soube lidar de maneira irônica e cômica com a pressão de ser um grande astro. Michael não só saia-se bem da situação como, de quebra, trazia uma última faixa excelente.
Salvo a canção com Wonder, todas ganharam singles e clipes. Após o lançamento do disco Michael gravou Moonwalker. Uma gigantesca peça publicitária que queria ser filme. Hoje visto como uma versão visual do disco é positivo, como filme é um arremedo com argumento ruim. Porém, o jogo lançado com o mesmo título é ainda divertido.
Também na ocasião da turne de Bad que Michael ganhou seu epíteto de Rei do Pop que o acompanharia para sempre. Ajudando a ampliar a mística em torno do músico cuja potencia em fazer sucesso era estrondosa.
Completando vinte e cinco anos de lançamento, Bad ganhará uma edição especial no mês de setembro com três discos e um dvd que registra um show da turnê. É estranho que Thriller não tenha, ainda, recebido esse tratamento. De qualquer maneira, a edição promete trazer novas canções, o disco remasterizado e outros materiais em uma bela caixa.
É justamente esse material extra que sobrou durante toda a carreira de Jackson que, aos poucos, será diluído em diversos discos e lançamentos dispersos, ampliando sua discografia póstuma. Evidente que se as canções não foram lançadas antes nem todas possuem alta qualidade. Mas os responsáveis pelo lançamentos do astro parecem não se preocupar com o quesito qualidade, desde que existam lucros.
Antes mesmo dessa edição de vinte e cinco anos, o álbum foi relançado com três faixas a mais que merecem um comentário. Streetwalker é eficiente e tem qualidade para estar na seleção oficial do disco, embora nenhuma musica poderia ser retirada para substituí-la. Todo Mi Amor Es Tú é uma versão sofrível de I Just Can´t Stop Lovin You com um espanhol mal pronunciado por Jackson. Fly Away é uma balada sem nenhum atrativo em especial.
Mesmo com o grandioso sucesso, musicalmente Bad não consegue atingir a perfeição de Thriller. Mas estabelece bem o próximo seguimento de sua carreira e mostra um músico capaz de dialogar tanto com o tradicional quanto a inovar quando necessário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário