A perfeição da família americana
Quem julga um livro pela capa pode imaginar que Desesperate Housewives seja uma história voltada ao público feminino, sobre donas de casa histéricas, repleto de melodrama sem profundidade.
Porém, basta assistir ao episódio piloto da série para notar que tal história é não só profunda, como bastante coesa, trabalhando com diversas narrativas. Tanto as explicitas, dividas entre as personagens, como as implícitas que são feitas para que o público reflita e que funciona para corroer a idéia de um bairro perfeito.
A história se passa em Wisteria Lane, na ficcional Fairview, narrada pela onipresente Mary Alice Young. Uma dona de casa aparentemente comum que se suicida, abalando não só a comunidade como suas quatro amigas Bree Van De Kamp, Lynette Scavo, Gabrielle Solis e Susan Mayer.
Esse é o ponto de partida para a série criada por Marc Foster mostrar a imagem da sociedade americana e de sua aparente sensação de perfeição que, como narrada pela dona de casa suicida, não é tão perfeita assim.
A concepção do enredo, de acordo com o próprio autor, teve inspiração em sua mãe. Assistindo uma reportagem policial sobre uma mãe que assinara seus filhos, ambos questionaram até que ponto a maternidade pesa em uma pessoa e o quão desesperado pode uma mulher ficar. Tal acontecimento foi o ponto de inicio para Foster produzir a série.
A produção do roteiro é altamente elaborada. Sua história baseia-se em quatro personagens principais, tendo a necessidade de desenvolver sempre quatro tramas distintas, além de outras narrativas que surgem em e concluem-se em poucos episódios.
Muitas vezes, nas palavras dos próprios atores, cenas eram mudadas no dia das gravações. Ensaios e filmagem oficial eram feitos no mesmo dia. Tal problemática não se percebe no decorrer dos episódios, que são bem amarrados e personagens e histórias bem delineadas.
As personagens principais tem a intenção de representar tipos suburbanos comuns. A esposa que oprime o resto da família à procura da perfeição aparente, a mãe dedicada que abdicou de sua carreira para criar os filhos, a recém casada que usufrui de boa vida pelo dinheiro do marido e a mãe solteira que não foi capaz de superar o divórcio com o ex-marido.
Tais personagens são fantásticas dentro do universo da série que não tem medo de criar rupturas para desenvolver tensões dramáticas. Sabendo equilibrar bem os momentos em que a ironia cômica e corrosiva predomina e cenas em que a tensão dramática é o fio condutor.
A série é transmitida desde 2004 e está em sua sexta temporada. Teve 15 indicações para o Emmy Awards em 2005, ganhando 6 delas. Em 2006, obteve indicações principalmente nas categorias técnicas.
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