sábado, 27 de junho de 2009

House M.D., Quinta Temporada

ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO A TEMPORADA, POR FAVOR.


O brilhantismo e as dores do médico mais genial da ficção.

É com muito orgulho que, finalmente, apresento uma análise de uma temporada de uma de minhas séries favoritas: House M.D. Não é a toa que tanto o nome da personagem, como sua principal crença foram a inspiração para a criação desse blog sobre filmes e séries.
Como assisti as quatro temporadas em um período anterior a este blog e ainda não as revi, somente no término da quinta temporada tenho a oportunidade de fazer uma análise crítica.
Após uma quarta temporada atípica, com a inserção de novos personagens e com duração menor por causa da greve dos roteiristas – e assim, por conseqüência, com uma queda de qualidade – a quinta temporada da série retoma o patamar concebido desde seus primeiros episódios.
A principal qualidade dos novos roteiros foi a capacidade de dosar melhor as histórias das personagens em cena. Embora a nova equipe de House seja competente, é impossível não sentir falta da química perfeita entre o trio formado por Cameron, Chase e Foreman. Por conta disso, os roteiristas não só inseriram Cameron e Chase nos roteiros como, em alguns episódios, deram uma atenção especial para eles. Integrando-os novamente ao universo da série que na temporada passada focou-se apenas em procurar os substitutos da equipe de House.
Assim, cada personagem consegue desenvolver-se na trama, que continua apresentando casos bizarros e interessantes na medicina, sempre mantendo a estrutura narrativa já consagrada: onde acontecimentos são imprevisíveis e a resolução do caso sempre se dá com a genialidade do médico ranzinza que tanto adoramos.
Se na temporada passada o embate entre House foi realizado na volta de Foreman na equipe – em um dos melhores episódios da temporada, em que House percebe o quanto Foreman estava mudado e, assim, criava um respeito pelo médico. O diálogo é tão simbólico que a canção que embala a cena é We Are Gonna Be Friends do White Stripes – esse ano da série concentra-se nos embates interiores da persona do médico.
Primeiramente em sua relação com Cuddy, que ao decidir ter um filho, acaba por abalar os sentimentos do médico, surgindo uma idéia de um possível romance - algo que muitos fãs esperam desde o começo da série. E em tema principal, os efeitos de seus vícios, a parte narrativa mais brilhante dessa temporada.
Após cinco anos – considerando apenas o tempo que conhecemos a personagem – era evidente que a progressão de seus vícios terminassem da maneira escolhida pelos roteiristas: em alucinações esquizofrênicas.
As dores de House não são apenas no aspecto físico, por conta de seu problema na perna. Sua personalidade escusa, solitária, sempre com uma resposta na ponta da língua apresenta sintomas psicológicos mais severos. Como apontado muita vezes por Wilson e outros personagens da série, House é uma pessoa infeliz. E clinicamente uma depressão não tratada quando se agrava pode se transformar em delírios ou alucinações. Acrescente isso a doses maciças de um remédio pesado, que temos a soma do que House se tornou.
O efeito mais interessante dessa premissa é catalisar o descontro em sua vida. Sempre foi perceptível que Gregory é consciente de suas deficiências. De sua incapacidade de lidar com outros, seu problema em manter relações até a ingestão excessiva de Vicodin. Porém, até mesmo seu descontrole, reconhece que alucinar com a namorada morta do amigo não é nada saudável. E assim, pela primeira vez, Gregory House se rende despindo-se um pouco de sua máscara e assumindo sua própria enfermidade.
O deslize cometido pelos roteiristas foi utilizar pela terceira vez o recurso de um desvio narrativo para percebemos sua doença. Criando uma história que é, de alguma forma, desmentida, seja por alucinação, sonho ou algo do tipo.
Esse recurso foi utilizado pela primeira vez no episódio No Reason, o último da segunda temporada, em que House é baleado. Durante todo o episódio acreditamos assistir o que aconteceu após a cirgurgia para descobrir que tudo não passava de uma viagem mental do médico logo após o tiro.
Novamente a repetição dessa projeção mental será utilizada para resolver a quarta temporada nos episódios House´s Head e Wilson´s Heart em que House – muito exageradamente, diga-se de passagem – induz varias vezes seu cérebro para recordar o que aconteceu no acidente em que esteve envolvido para lembrar qual detalhe está lhe passando despercebido.
Devo dizer que essa terceira alucinação, que também encerra essa temporada, onde House imagina que Cuddy o ajuda a se desintoxicar, é a melhor das três. Convence pelo fato lógico de que a ausência de um remédio pesado como Vicodin em alguém que o toma como quem come gominhas pode, de fato, causar alucinações. Porém, é necessário, imediatamente, que os roteiristas nunca mais pensem nesse recurso como um gancho narrativo. Três vezes está de bom tamanho.
E fica a expectativa em saber como o enigmático Dr. House sairá de sua internação clinica na próxima temporada. Será que ainda resta um pouco de humanidade em sua carcaça terrivelmente fria?

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