Mulheres, O Sexo Forte (The Women)Dir. Diane EnglishHá uma frase popular que afirma que de boas idéias até mesmo o inferno está cheio. Uma prova de que em qualquer lugar é possível extrair bons argumentos mas realiza-los é um processo bem diferente.
Baseado em um livro e no filme homônimo da década de 30, Mulheres, O Sexo Forte tem como destaque uma produção em que somente mulheres aparecem em cena. Infelizmente nem mesmo o carisma de Meg Ryan, um tanto desbotado pelo tempo, consegue trazer algum sabor a essa comédia pequena e insossa.
Na trama, sua personagem passa por maus bocados, desde perder o marido para uma mulher mais nova e bonita – Eva Mendes – a ser demitida do emprego de estilista de moda na empresa do pai.
O tal título brasileiro do filme é justificado pela força que não só ela, mas suas amigas em questão, dão para que ela consiga prosseguir. Denominando, assim, o tal sexo forte.
Mas passou tão apagado que se estreou nos cinemas daqui, nem teve nenhum alarde.
Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (Confessions of a Shopaholic)Dir. P. J. HoganAté mesmo no trailer da produção, o exagero quanto a sua narrativa era visível. Sua personagem principal apresentada nos poucos minutos da prévia era, além de rasa, histérica e afetada demais. Parecia-se muito com uma produção focada para um público bem específico, como um sub-produto de boas produções que usam a moda como tema, como o recente O Diabo Veste Prada.
Ao assistir ao filme, as impressões do trailer se confirmam na interpretação estranha de Isla Fisher, a Becky Bloom do título brasileiro. Criada desde pequena a não se importar com os bens materiais, ao crescer se torna uma viciada em compras e, ao acumular dívidas após dívidas, decide dar um rumo aos seus problemas tentando procurar um emprego.
Acrescente a trama comum as trivialidades dos acontecimentos inesperados, de que a garota, sem saber nada sobre o mundo dos negócios consegue um emprego como colunista. Um personagem masculino que com sua elegância tentara conquistá-la e retirá-la de seu universo consumista e a formula está quase pronta.
O filme é uma produção baseada em uma série de livros de sucesso. Ao que me consta, pelo que pude apurar com uma amiga, leitora dos livros, a Becky Bloom original nada se parece com a atrapalhada e esquisita personagem das telas, transformando um bom romance em uma trama insossa, fácil de ser digerida pelo público jovem, o provável público alvo dessa produção.
Sideways - Entre Umas e Outras (Sideways)Dir. Alexander PayneImpossível não comparar esta produção com o gosto que muitos tem por saborear vinhos. Muitos fazem disso um ritual, observando textura, cheiro, sabores encontrados na bebida, outro a ingerem como se fosse água. A disparidade desses conceitos podem também ser encontradoa nessa produção, um filme sensível e delicado que, como um vinho, precisa ser observado e apreciado com atenção e calma. Em outras palavras, é evidente que alguns criticaram o filme por ser parado ou qualquer definição estúpida daqueles que não sabem apreciar uma boa produção e só esperam um emaranhado de cortes e cenas rápidas.
Sideways – Entre Umas e Outras reúne dois amigos, Miles Raymond, um escritor e Jack, ator de comerciais, em uma viagem as vinículas dos Estados Unidos, um presente de despedida de solteiro para Jack, que irá casar assim que voltarem.
A trama reúne dois personagens peculiares: Miles Raymond, interpretado magistralmente por Paul Giamatti, um homem frustrado em meio a uma gigantesca crise por ver seu casamento desmoronar e, profissionalmente, não ter seu livro publicado por nenhuma editora; e Jack, na pele do Thomas “Homem Areia” Hayden Church, muito eficiente em seu papel, um mulherengo de primeira que embora irá se casar no final de semana, quer transformar seus últimos dias de solteiro em algo inesquecível.
Na semana que passamos ao lado das personagens, ao passar dos dias, ficamos mais e mais perceptíveis as suas falhas. Inicialmente o que deveria ser a melhor semana para Jack, acaba se tornando um pesadelo sem fim para Miles, que faz da viagem uma procura de si mesmo.
O filme ganhou o oscar de melhor roteiro adaptado, concorrendo a mais quatro categorias, incluindo melhor filme. Levou o Globo de Ouro de Melhor Filme – Musical ou Comédia e Melhor Roteiro e mais quatro indicações, O Bafta de melhor roteiro adaptado e o Independent Spirit Awards, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Paul Giamatti), Melhor Ator Coadjuvante (Thomas Haden Church), Melhor Atriz Coadjuvante (Virginia Madsen) e Melhor Roteiro.
Sensível, inteligente e um dos filmes quase esquecidos de 2004, Sideways – Entre Umas e Outras é uma produção de uma ótima safra e precisa ser degustado. O romance de Rex Pickett, de onde originou a produção, também foi lançado por aqui pela editora Rocco, com o título Amigos e Vinhos, Mulheres a Parte.
Três Vezes Amor (Definitely, Maybe)Dir. Adam Brooks
Ainda que muitas produções saiam, atualmente, em uma forma pré-definida de clichês e acontecimentos, é bom quando nos deparamos com uma comédia romântica sensível que tráz um novo suspiro, tentando fugir da habitual lenga lenga que conhecemos de outros festivais.
Da mesma produtora de
Quatro Casamentos e Um Funeral,
Um Lugar Chamado Notting Hill e
O Diário de Bridget Jones,
Três Vezes Amor foi uma boa surpresa nesta semana.
Ryan Reynolds já comprovou ser um bom ator. Tanto em sua face dramática – como no sério, e um tanto problemático
Um Segredo Entre Nós – como em interpretações mais leves como nessa produção.
Reynolds é Will Hayes, pai de Maya Hayes, a criança fofa Abigail Breslin - que ainda continua sendo uma boa atriz mirim parecendo uma criança e não uma mini adulta como se vê por aí -. Com os pais prestes a se separarem, a garota Maya pergunta ao pai como e quando conheceu sua mãe e, a partir dessa pergunta simples, Hayes reconta a história da sua vida e de seus amores mas alterando seus nomes, para que a pequena Maya, como um desafio, possa descobrir quem daquelas moças seria sua futura mãe.
É como uma longa história de ninar que conhecemos o passado de Hayes e seus amores que vem e vão. Em vários pontos da narrativa, a filha interrompe dando suas contribuições, perguntando e reclamando sobre o passado mulherengo do pai. E assim, o mesmo simples argumento, ganha um novo contorno que dá fôlego a produção.
É uma pena que a tradução do título tenha perdido a idéia inicial do filme. Imagino que os tradutores acham que “Definitivamente, Talvez” seja uma expressão de difícil compreensão para o público brasileiro e a preferência pelo óbvio,
Três Vezes Amor fosse mais fácil. Assim, desde o título da produção, o conceito de que tudo é volátil e definitivo surge como um questionamento que os amores do filme exploram muito bem.
Analisando os amores na vida de Hayes, é impossível não concluirmos que tudo criado na vida possui bases sólidas ao mesmo tempo que fáceis de desmoronar. Que tudo pode ser agora, tudo pode ser definitivo, ou talvez.
Mais uma boa produção de um gênero tão maltratado pela industria que insiste em lançá-lo sempre com a mesma formula.
A Haunting in Connecticut (A Haunting in Connecticut)Dir. John KavanaughLogo após assistir ao duvidoso filme de terror
Evocando Espíritos, descobri que tal história se baseava em fatos reais e que um documentário do canal Discovery fora realizado narrando – de fato – esses acontecimentos.
Essa é a história de
A Haunting in Connecticut, um documentário tradicional sobre uma família que se muda para outra cidade devido ao tratamento de câncer de um dos membros da família por encontrarem uma casa próxima ao hospital, descobrindo depois que tal casa era uma funerária. A maior parte da produção é narrada e uma cena refazendo os passos da família é interpretada no decorrer da ação. Poucas vezes podemos ouvir a própria voz das testemunhas e apenas dois dos familiares dão seu depoimento direto para as câmeras, mas escondidos em uma sombra, para preservar sua imagem de um trauma severo e desgastante.
Pode parecer absurdo, mas tudo aquilo que o filme baseado nesta história não foi capaz de assustar, a narrativa real causa. Há muitas disparidades em relação ao filme, que tentou com muito exagero ampliar o que, de acordo com uma especialista que aparece em cena, definiu-se como um simples caso de possessão.
O tom solene em que a história é apresentada e narrada, sem procurar causar sustos fáceis, começa a aterrorizar quando os depoimentos da família, em pânico, tentam relatar o que de fato ocorreu na derradeira noite antes de deixarem a casa.
A grande disparidade entre filme e documentário prova que muitas vezes é melhor assistirmos uma obra original do que um argumento que surgiu de outro. Pois as vezes um se torna um remendo mal feito do outro.
Desejo e Reparação (Atonement)Dir. Joe WrightUm dos melhores filmes do ano de 2007,
Desejo e Reparação é uma daquelas produções com trama pesada e densa, despertando em seu espectador uma sensação incomoda, impossível de ser ignorada tamanha sua pungência.
A narrativa concentra-se na tola Brionny Tallis que aos 13 anos de idade acaba por destruir sua família, despedaçando-as para rumos não imaginados. Talvez dizer mais a respeito da trama, seja revelar minúcias que são mais saborosas se descoberta pelo próprio espectador.
O filme foi baseado no livro Reparação do escritor britânico Ian McEwan, um dos grandes autores da contemporaneidade. Não só nessa obra, como em algumas outras em questão, é notável o apreço que o autor tem em fazer um embate entre ações e palavras. As verdades que pensamos e as mentiras que podemos contar. Como comprova o cartaz americano do filme que diz que
podemos apenas imaginar a verdade.
Utilizando-se nessa trama toda a delicadeza e violência da guerra, a transposição para a película foi feita com primazia e mínimos detalhes. Sabendo mostrar os momentos introspectivos e também diferentes pontos de vista da história narrada. Sem contar a beleza e boa atuação do casal principal, Keira Knightley e James McAvoy, e também da pequena Saoirse Ronan.
Desejo e Reparação é uma obra amarga e brilhante.