Dir. Mabrouk El Mechri
Sempre é comum nos depararmos com algum ator ou atriz que, por coincidência ou limitação, repete seus papeis diversas vezes em filmes diferentes. O estigma de ser um ator de um personagem só sempre encontra vítimas nos astros de ação, que pouco possuem de talento técnico e, vivendo anos e anos lutando em frente a câmeras, envelhecem e já não possuem o mesmo porte de antigamente.
Jean-Claude Van Damme é um desses astros, oriundos dos anos oitenta, cujo ápice do estrelado já passou há certo tempo e, com a ajuda das drogas, afundou-o por completo. Por uma segunda chance, o belga conseguiu seu lugar, quase exposto ao sol, sobrevivendo no segundo escalão produzindo filmes duvidosos de ação em que se esforça para manter aquela imagem Van Damme que conhecemos, mas que, ao assistirmos, é nítido que sua força não é mais a mesma.
A produção JCVD é a expiação de seus pecados. Um meta-filme que mostra um aspecto novo, nunca antes mostrado entre as cenas coreografadas de suas lutas: a de um homem normal. Refém em meio a um assalto de um banco em seu país natal, todos reconhecem a fama do astro mas, na realidade da trama, Jean-Claude não pode salvar os reféns – e a si mesmo – apenas com os próprios punhos. A trama cria um limite entre a personagem lutadora que vemos em seu filme e um homem comum que paga suas contas e tem como trabalho parecer o homem durão em toda produção que filma.
A sensação clara é que Van Damme está cansado de ser quem é. Cansado de expor essa imagem impenetrável quando, aos 49 anos de idade, o fôlego para realizar um plano-sequência é bem menor do que quando iniciou sua carreira.
Porém, é inegável que, não importa qual produção média ou ruim – para não dizer algo pior - o ator apareça, ele o faz dando o máximo de si. Muitas vezes, ao que se deduz por essa produção, quando nem mesmos seus realizadores estão levando tão a sério as cenas de ação.
Os leitores desse blog que acompanham semanalmente as análises na Semana em Filmes sabem meu apreço por Van Damme. Talvez sua honestidade, agora explicita nessa produção, foi o que mais chamou-me atenção nos astros de ação decadentes dos anos oitenta. Não quão inadequado ou patético é a produção, é perceptível que Van Damme repete seu papel pela milésima vez, mas como se fosse a primeira.
JCVD não é a obra prima que dizem, mas lava a alma do astro e merece destaque pelo monólogo que o ator faz direto para as câmeras.
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