segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Semana em Filmes (21 a 27 de Novembro)


Uma Lição de Amor (I Am Sam)

Dir. Jessie Nelson


Não é tão incomum observarmos algumas produções que centram seu enredo na potência interpretativa de um ator. Quando atuação possui bom resultado, o artifício sustenta bem o filme, sendo capaz de, pelo brilho, ocultar partes de seu todo que são irregulares.
O drama Lição de Amor sustenta-se em duas bases: uma interpretação visceral de Sean Penn, ator ímpar de sua geração capaz de apresentar personagens avassaladores, e a rasgada homenagem a música sempre rica dos Beatles.
Direcionado para ser um drama denso, a trama apresenta Sam Brown, um deficiente mental, fanático pelos Beatles que, após sete anos cuidando de sua filha, precisa provar perante a justiça que é capaz de prestar cuidados a ela, mesmo que sua idade mental seja inferior a da criança.
O sentimentalismo dos acontecimentos não perde sua estrutura por conta da personagem de Penn, altamente verossímil e capaz de passar toda a ternura e amor ao público. Não só realizando uma boa interpretação, como apresentando-a com todos os maneirismos de quem sofre de uma deficiência sem parecer exagerado.
Enquanto a trilha sonora é uma seqüência de versões da banda de Liverpool, desenvolvimento que, vez ou outra, faz contexto com a própria história de Sam, como sua filha, chamada Lucy e apresenta cenas que dialogam com canções ou fatos da banda, vide o famoso atravessar de rua de Abbey Road.
Mesmo para aqueles que não encontram muito apreço em filmes cujas lágrimas são intencionais, seu argumento um tanto quanto mal amarrado ganha dimensão nas mãos de Penn e, embaladas com as boas e velhas canções conhecidas, merecem uma exibição. Mas, sem dúvida, o ator apresenta-se com mais força ainda em Sobre Meninos e Lobos e Milk - A Voz da Igualdade, outras duas de suas interpretações que concorreram ao Oscar (Somando-se quatro com Os Últimos Passos de Um Homem).

domingo, 28 de novembro de 2010

A Odisséia de Homero, Gwen Cooper

"A rotina quando eu chego em casa no fim do dia é sempre a mesma.
A campainha do elevador é a primeira pista para seus ouvidos sensíveis de que estou chegando. Quando a chave entra na fechadura, já posso perceber a pressão leve das patinhas do outro lado da porta. Reparei que costumo abrir todas as portas – até mesmo na casa de outras pessoas – com cuidado para que nenhum danadinho peludo acabe fugindo."

Autora: Gwen Cooper
Editora: Sextante
284 pag.

Tradução de Fabiano Morais




Mercados editorais seguem tendências naturais de consumo. Editoras esforçam-se para possuir em catálogo um livro concorrido que resulte em grandes tiragens e altas vendas. Ainda que, inevitavelmente, alguns leitores façam reclamações quanto a tais livros – os populares Best Sellers - são eles que garantem parte da renda mensal de uma editora, sendo capaz de proporcionar o lançamento de livros que, ainda com certo público, não terão muito apelo nas vendas.

Uma reflexão com um leve retrocesso temporal deixa claro o fluxo das tendências. O bruxo Harry Potter trouxe a magia para o primeiro plano; os vampiros que brilham de Stephanie Meyer deu outra dimensão a seres quase mortos – abrindo espaço também para zumbis, lobisomens e outros nichos; Dan Brown com seu O Código da Vinci apimentou as teorias conspiratórias embasadas em fatos históricos que simulam a realidade e John Grogan trouxe a tona o sentimento catártico e sensível que os humanos sentem por seus animais de estimação em Marley e Eu.

Quatro exemplos de temáticas diferentes resultam em, no mínimo, cinqüenta livros lançados nos últimos anos. Ainda que nem todos galguem a fama de mais vendidos, o filão conquista público que se interessou pela temática e aproveita a onda para apresentar outras histórias.

Mesmo que livre de qualquer preconceito sobre histórias, resultando em uma vasta – e variada – biblioteca, não posso deixar de admitir que enredos envolvendo animais sempre trouxeram-me incomodo.

O apelo sempre se torna maior do que a história em si. O leitor sente-se emocionado, pois, quem tem qualquer animal de estimação sabe que cada um tem um temperamento, e as vezes deixa de perceber que tal narrativa não possui talento além de algumas lágrimas furtivas.

Dentre os animais que guardamos no coração e passam por nossa vida, confesso que sou um amante de felinos. Me fascina a austeridade e a maneira furtiva na postura, o olhar sedutor e superior ao nos fitar. Esse texto só não acompanha a crítica feroz de minha bela gata loira porque, nesse momento, ela resolveu ficar de costas para mim – e para qualquer outra pessoa – dando a entender que está em um momento de sono e reflexão.

A Odisséia de Homero – título que remete ao famoso poema epopéico escrito na Grécia antiga – narra à prodigiosa história do gatinho Homero que, por causa do abandono nas ruas, perdeu a visão.

É com extrema paixão que sua dona, Gwen Cooper, narra as peripécias do felino. Partindo desde o primeiro encontro, no veterinário, quando ainda era uma bolinha de pelos que cabia em sua mão, até seu período maduro.

A presença de um animal, ainda mais desprovido de visão, desperta carisma imediato em seu leitor. Mas é devido a uma narrativa divertida e bem fluida que a vida de Homero transforma-se, de mais uma história de animais, para uma bela e boa história.

Cooper preocupa-se em construir um bom enredo que, utilizando seu amor por felinos como tema central, desenvolve-se além dele, abarcando as fases de sua própria vida e a construção dela acompanhada pelos seus três gatos que, naturalmente, fazem parte da família.

Ainda com a trama centrada no felino cego, Gwen discorre sobre a problemática em ser uma mulher de trinta anos que vive o trauma recente da separação e como nossos bichos de estimação, mesmo que de maneira muda e intraduzível, adentram nossa vida e nos presenteiam com sua peculiaridade ao dividir a vida conosco.

A essência sentimental da trama é inevitável. Mas vem carregada de um desenvolvimento que aproxima ainda mais o leitor e atinge seu momento crítico quando os felinos são obrigados a ficar sozinho em seu apartamento, proporcionando uma seqüência emocionante de fatos.

A Odisséia de Homero merece ser pinçada dentre os lançamentos do gênero. Mesmo que sua aptidão seja por outro animalzinho, é impossível não se apaixonar por Homero.

O livro traz em cada capítulo uma imagem do bichano e entrevistas com a autora e o gato tira colo estão disponíveis facilmente na internet.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lulu Santos, Acústico Mtv II


Artista: Lulu Santos
Álbum: Acústico Mtv II
Gravadora: Universal
Ano: 2010

01. Tudo Mais
02. Papo Cabeça
03. Um Pro Outro
04. Dinossauros Do Rock
05. Vale De Lagrimas
06. Tudo Azul
07. Minha Vida
08. O Obvio
09. Adivinha O Que?
10. Brumario
11. Baby De Babylon
12. Ja E
13. Pra Voce Parar
14. Auto Estima


Há dez anos atrás, Lulu Santos realizou um belo cd duplo no projeto Acústico MTV. Apresentando novas canções, rebobinando diversos hits de sua carreira, o álbum se tornou um grande sucesso de vendas com 900 mil cópias vendidas, ganhando triplo de platina.

Seis álbuns e quatro coletâneas depois, o cantor retorna ao modelo desplugado para outro registro que da seqüência a sua carreira. Cansado do peso da guitarra, Lulu retorna a leveza do violão e produz canções com mais suavidade.

Acústico II é uma produção mais discreta. Não só concentra-se apenas em um disco (ao contrário do primeiro, duplo) como é realizado em uma época onde a marca dos acústicos não é mais tão visível. Deixando para trás a singularidade nítida que o evento teve anos atrás. De ser, muitas vezes, um salvador de carreira ou um show trabalhado com excelência por sua novidade sonora.

Com cd composto por catorze faixas e DVD com dezessete, o álbum, novamente, tenta perfilar os hits que o cantor realizou durante sua carreira. Porém, com vinte e três canções já cantadas anteriormente, sendo o sumo do sumo de sua produção, resta a essa seqüência alguns singles que ficaram de fora, uma canção inédita e releituras de músicas não tão conhecidas.

As três canções de abertura foram selecionadas em bom estilo. A inédita E Tudo Mais é coerente como início e resume de maneira sensível e com boa melodia a carreira longínqua de Lulu: Tudo o que eu sonhei / Está na minha frente / Tudo caminhando num processo longo de ser gente. Papo Cabeça, do álbum Honolu, de 1990, aumenta a pegada pop, característica do músico, e ainda complementa a apresentação das canções que estão por vir. Seguidas sem pausa de Um Pro Outro, sucesso sentimental de seu quarto álbum, Lulu.

Há pouco da lavra recente de composições: Vale de Lágrimas, Baby de Babylon, O Óbvio (canção do baixista Jorge Aílton), Já É e Auto-Estima. Sendo a primeira delas a melhor e a última, em apuração, encontrada somente na coletânea Perfil, de 2004.

Canções que não tiveram sucesso anteriormente não são, necessariamente, inferiores aos hits consagrados. Mas o segundo movimento do projeto acústico, ainda que audacioso pelo destaque a elas, se torna, em comparação, inferior ao primeiro, que perfilava uma boa sequência musical e, consequentemente, aquilo que se produziu de melhor no Brasil no pop / rock radiofônico.

Infelizmente, nem toda versão acústica tem seu charme a parte. Adivinha o Quê? cuja temática sexual é bastante forte, perde sua potência com versos cantados quase de maneira inteligível por Marina de La Riva. Se a versão hispânica acrescenta certo estilo sedutor à canção, a força erótica fica quase nula.

Melodicamente, o formato acústico não é mais inédito. Uma continuação dele, portanto, firma mais ainda a sensação de um mais do mesmo. Um álbum que deve ser ouvido como um desmembramento natural do primeiro mas que parece mais uma sequência de bis, após um excelente show, do que ele próprio.



terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Semana em Filmes (31 de Outubro a 7 de Novembro)

Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pillgrim vs. The World)

Dir. Edgar Wright



Movimentos artísticos – falo, especificamente, das várias formas de arte existentes e definidas através dos tempos – são distintos porque se configuram de maneira diferente. A pintura exige contemplação visual; enquanto a música utiliza-se da percepção sonora e outras, como o cinema, realiza uma união dos elementos, som e imagem provocando um terceiro efeito.

As histórias em quadrinhos também possuem sua distinção. Mesmo sendo quadros parados, sua seqüência intenta gerar uma espécie de movimentação. Que mantém o ritmo da história e, muitas vezes, elabora boas cenas de ação.

Não é recente que na indústria cinematográfica há a procura de mais roteiros prontos para adaptação do que argumentos novos. Trabalhar com uma história já produzida que, muitas vezes, traz consigo certo público cativo é mais fácil e rentável do que arriscar em exceto roteiros inéditos que, potencialmente, são bons.

Desde que os quadrinhos galgou sucesso no mainstream de Hollywood, o espaço para adaptações se abriu largamente. Até mesmo produções em quadrinhos sem muito contato com o público receberam versões de cinema, muitas originando produções estupendas – caso de Marcas da Violência de David Cronenberg.

Ainda que alguns elementos artísticos sejam parecidos em ambas artes, é compreensível que uma não pode ser um decalque da outra. Nas adaptações quadrinescas dos últimos anos, apenas duas destacam-se pelo estilo bastante enraizado nos quadrinhos, : Sin City de Robert Rodriguez e 300 de Esparta, de Zack Snyder. Por coincidência, ambos de Frank Miller.

O mérito de uma produção competente dá crédito aos seus diretores. Sin City funciona ao imitar o estilo de sombra e luz do original por ser fiel ao estilo policial noir que, na literatura, esconde mais do que mostra. 300 de Esparta filtra parte do estilo de Miller ao desenhar. Insere na tela parte do desenho, mas não se prende a ele. Realizando adaptações necessárias para um quadrinho se tornar filme.

Scott Pilgrim Contra o Mundo é uma produção que exagera ao mostrar sua fonte. Boa parte dos elementos do filme, até mesmo aqueles que geram o riso, são oriundas diretas de estilo narrativo dos quadrinhos. Cenas de corte rápido, personagens que mudam de roupa em segundos e até mesmo as onomatopéias estão presentes em cena.

É evidente que Pilgrim deseja homenagear os vídeo games de 8 e 16 bits que muitos jogaram na infância. Seu enredo, de um garoto que precisa lutar contra os ex da futura pretendente para ficar com ela, explicita isso. Porém, se tal elemento funciona bem nos quadrinhos, nas telas diminui-se.
Quem acompanha alguma história em quadrinho sabe que por muitas vezes é natural que as personagens exagere em suas emoções, as vezes partindo para agressões de uma cena que logo são esquecidas. Os quadrinhos orientais, principalmente os mangás aumenta
m ainda mais tal carga dramática.

Porém, nas telas, tal arranjo torna-se estranho quando, em meio a um filme aparente normal sobre um personagem deslocado ele realiza um salto atlético e brilhos luminosos começam a sair de si.

Se Michael Cera foi cativado pelo público por sua participação em comédias e no tragicômico Juno, seu carisma não é necessariamente proporcional ao seu talento. Realizando um papel de um nerd deslocado que provoca, por diversas vezes, constrangimento por suas falas, sua interpretação, assim como outros estereótipos do filme, beiram outros personagens contemporâneos recentes que conhecemos.

Com o nerd e o geek na moda, personagens do estilo irão surgir com mais freqüência, porem a trupe de The Big Bang Theory protagoniza com tanto estilo tais personagens que há o risco de qualquer interpretação lembrar a do quinteto. O que faz do Pilgrim de Cera um deslocamento parecido, mas não tão afetado, de Sheldon Cooper.

Há miscelânea exagerada no corpo da história. O decalque quadrinesco, as personagens deslocadas, a homenagem aos vídeo games que são identificadas pelos sons, muitos que lembram sons de jogos clássicos.

O artifício que mais é bem feito na trama é a brincadeira explícita com o Indie. Desde a banda de Pilgrim que só tem a namorada como fã, as músicas de ritmo contagiante e canções que parecem mais um poema dadaísta.

Scott Pilgrim Contra o Mundo tem encontrado dificuldades para estreiar no país. Primeiro teve problemas em São Paulo por conta de uma mostra de filmes, agora vem sofrendo atrasos na estréia. Sendo o terceiro filme do diretor a, talvez, ser lançado direto em vídeo.

A história em quadrinho que gerou a produção está sendo lançada pela Companhia das Letras. As duas primeiras partes – de três – já encontram disponíveis para venda. E, provavelmente, funciona melhor que a produção que exagera em elementos alheios sem dar vazão aos recursos cinematográficos.

domingo, 7 de novembro de 2010

A Semana em Filmes (31 de Outubro a 7 de Novembro), Tropa de Elite 2

Tropa de Elite 2 (Tropa de Elite 2)

Dir. José Padilha


Não há objetividade na arte. O fascino gerado por movimentos artísticos sempre ganham mais brilho na pluralidade de visões e opiniões. Suas impressões sempre refletem um eu interior de quem as vê. Sendo impossível uma análise seca de qualquer objeto e, muito menos, que dois argumentos de pessoas distintas concordem perfeitamente em uníssono.

Dessa maneira que, como um apaixonado por cinema, sofro diversas vezes. Tenho costume de rever a qualquer produção, mesmo as que, inicialmente, me pareceram ruins, pois, por causa dessa subjetividade, posso observar elementos que antes não fui capaz.

Foi dessa maneira que devo confessar que não tive simpatia pelo clássico Casablanca, muito menos por uma das grandes obras da Pixar, Ratatouille. O primeiro assisti em um ensolarado dia de verão, sem paciência para um profundo drama amoroso. Enquanto eu não esperava, no segundo, um toque tão sensível de delicadeza, imaginando que eu assistiria somente uma animação boba para me fazer rir.

Somente ao revê-los que me apaixonei. Somente em uma segunda observação tive a sensibilidade para notar, se não todos, boa parte da delicadeza da trama e, inevitavelmente, considerá-los grandes produções, que figuram na minha lista de melhores filmes, sem dúvida.

Com essa bagagem subjetiva que assisti pela primeira vez Tropa de Elite 2. Em um cinema de Araraquara, sem boa qualidade de som, nem imagem. Tratando-se de uma produção nacional, em que legendas não aparecem para ajudar na compreensão, foi evidente que sai descontente do cinema.

Fora a primeira vez que evitei fazer uma crítica, sem saber, ao certo, o que dizer. Pela minha apuração, fui o único a não gostar da produção. A enumerar defeitos que a faziam menor que o primeiro e tentar, pela multiplicidade de opiniões, expor a minha com bons argumentos.

Incrédulo que José Padilha poderia construir uma produção equivocada, deixei minha primeira crítica de lado e fui rever a produção, dessa vez em uma boa sala de cinema que, não só deixava os diálogos claros pelo bom som, como demonstrava bom uso do surround. E o incontestável fato da arte subjetiva estava correto novamente. Assisti a um filme espetacular.

Retomando a seqüência de acontecimentos da produção anterior, Tropa de Elite 2 expande sua trama de maneira global. A dinâmica anteriormente apresentada, concentrada na atuação do BOPE como parte da política de segurança do estado, apresenta agora a configuração por trás dessa rede. Cada setor que completa a orquestração da complexa melodia da política é apresentada ao público.

Construído de maneira similar à primeira produção, a totalidade dos eventos desenvolve-se em três partes distintas. Um retrocesso de quatro anos, envolvendo uma rebelião de Bangu, que explica porque o agora Coronel Nascimento foi desligado do BOPE, indo para a secretaria de segurança pública, como subsecretário; O esforço em modificar as estruturas do Rio de Janeiro e o grandioso ato final que transforma a guerra em luta pessoal.

A ação engendrata na primeira procução dá espaço para uma trama mais intricada, que explica como polícia, tráfico, política e milícias são unidas em um movimento macabro. A apresentação de cada elemento é feito de maneira correta, novamente utilizando-se de dois excelentes elementos que marcaram a primeira produção.

A narrativa do Coronel Nascimento, que acompanha a história, e encerra as amarras do filme é seca e agressiva, expõe a verdade mais crua e boa parte da opinião pública de quem observa as barbaridades mentirosas que surgem na tela.

Não bastando isso, José Padilha utiliza os próprios recursos cinematográficos para acompanharem – ou contradizerem – a narração. Acrescentando mais um detalhe sutil a história que demonstra a qualidade técnica da produção.

É corajoso desenvolver um longa que resulta em uma experiência oposta daquela de Tropa de Elite. Mas fieis à trama e as personagens, o desenvolvimento não poderia se realizar de maneira mais natural.

Seu gancho final é grandioso pela força. Coloca em cheque elementos apresentados de maneira universal no cinema. Analisa a potência de um herói e seu esforço em fazer o bem, processo semelhante a construção de Batman – O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. E se encerra com um plano sequencia, filmado em Brasília, que chega a provocar engulhos.

Com o sucesso da produção, hoje o filme brasileiro mais bem sucedido do ano, é questão de tempo para a idéia de uma continuação apareça. Padilha já disse em entrevista que não está em seus planos. Porém, até anos atrás, Tropa de Elite 2 também não estava.

Sendo capaz de realizar um enredo a altura, que de prosseguimento a boa narrativa das duas produções e não falhe na construção das personagens, não há porque não esperar outra seqüência. Ainda que é evidente que prosseguir com a história se torne um processo cada vez mais delicado
.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Moska, Muito Pouco, 29 de Outubro, Botucatu - São Paulo


Paulinho Moska
Muito Pouco - Voz e Violão
Na Praça Martinho Nogueira, s/nº, Botucatu - SP
Em 29 de Outubro de 2010

01. Devagar, Divagar ou De vagar?
02. Muito Pouco
03. A Seta e o Alvo
04. Lágrimas de Diamantes
05. O Tom do Amor
06. Brasil Mulato (Martinho da Vila)
07. A Idade do Céu
08. Pensando Em Você
09. Só Nos Resta Viver (Angela Rô Rô)
10. Relampiando
11. Quantas Vidas Você Tem?
12. Tudo Novo de Novo
13. Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares)
14. Admito Que Perdi
15. O Último Dia

Fotos de Thiago Augusto Corrêa



À procura de estabelecer e apresentar movimentos culturais em boa parte do interior de São Paulo, o Serviço Social de Comercio de São Paulo, o Sesc, organiza de 19 de Outubro a 07 de Novembro uma caravana itinerante que realiza seis roteiros específicos em diversas cidades do estado. Tanto aquelas que já possuem uma unidade do serviço, como as que não.

Basta trafegar pelo interior de São Paulo para constatar que são poucos os movimentos culturais. Prestigiando sempre cidades maiores, cidades sem o tal destaque ficam delegadas a receberem, quando recebem, um show comemorativo de aniversário da cidade ou que ilustra algum evento específico. A caravana itinerante do Sesc, que passa em 88 cidades, além do vasto menu cultural, envolvendo poesia, música e dança aproveita-se de muitas praças públicas para estabelecer seu cenário e maior vantagem: a gratuidade da cultura.

Foi graças a essa pequena turnê pelo interior que pude rever PaulinhoMoska, cujo último show que vi fora na turnê Tudo Novo de Novo, em 2004, também por um evento do Sesc. Apresentando-se apenas com voz e violão, o cantor realiza um show intimista que lança seu novo álbum - ou como prefere o músico, germina suas canções pelo interior - Muito Pouco.

Evidente que há diferenças entre ouvir um disco em casa e assistir sua execução em um palco. Muitos músicos talentosos que possuem uma excelente carreira discográfica, nem sempre realizam shows a altura, as vezes por fraca desenvoltura, timidez ou, como já presenciei, nítida sensação de não querer fazer aquele show.

Diante de tal afirmação, é cativante a maneira como Moska agrega seu público. Logo na apresentação inicial os chama para mais perto do palco – havia um espaço entre as cadeiras e o palco – e como se tivesse em uma imensa roda de amigos mais íntimos, dá vazão a seu trabalho.

Sua performance solo nos palcos é notável sobre dois aspectos: seu talento óbvio como cantor e músico, que não diminui nada da interpretação das canções por estar sozinho, mostrando uma bela destreza invejável no violão, como, assim como em seus álbuns, trabalha ruído, canção e silêncio de maneira harmoniosa.

Mais do que, apenas, apresentar ao público suas novas canções, Moska estabelece um bom repertório, que não só privilegia suas próprias canções como suas influências ao cantar Ângela Ro Ro, Martinho da Vila e Nelson Cavaquinho, o último a pedido do público.

O equilíbrio do repertório aproxima quem ainda não conhece seu novo trabalho daqueles que acompanham sua carreira há certo tempo. Muito Pouco, a canção, resulta no primeiro momento de encontro de todo o público que, inevitavelmente, ouviram a canção na voz de Maria Rita. A Seta e o Alvo é tocada em seu arranjo original que parece causar ainda mais o impacto das antíteses da canção.

Se em seus álbuns a poética sensível ressalta aos ouvidos, no palco em voz, violão e imagens, tais canções ganham ainda mais vida. O Tom do Amor, belíssima composição de Zélia Duncan torna-se momento impossível de não se emocionar e Relampiando, canção composta em duo com Lenine, executada no meio de uma praça da cidade, enquanto carros trafegam ao lado, transforma-se em uma reflexão de seu próprio movimento crônico.

O curto show de apenas uma hora encerra-se com uma boa trinca, que retoma três momentos de sua história: Tudo Novo de Novo, a canção que sempre termina e retoma ciclos, Admito que Perdi, de tom confessional implacável e O Último Dia, canção apocalíptica que é tocada enquanto a próxima atração E ai, Dança Vamos Dançar? – da cia Nova 4 e banda - se preparam no palco para interagirem no final da canção em um belo desfecho.

Tratando-se de um cantor que vem trabalhando na divulgação de seu novo trabalho, desejando semea-lo pela maior quantidade de cidades possíveis, é provável que outro futuro encontro com sua música seja inevitável. E, em uma paráfrase com sua Devagar, Divagar ou De vagar?, cada encontro com Moska é, sem duvída, de se apaixonar por suas canções.

Paulinho Moska ainda toca em mais quatro cidades seguindo a caravana Sesc que encerra-se dia 07. Seu site oficial disponibilidade todas as datas.




E nessa quinta feira, Terapia Musical em dose dupla: Back to Black de Amy Winehouse e Canções Para Embalar Marujos de Renato Godá.