Dir. Edgar Wright
Movimentos artísticos – falo, especificamente, das várias formas de arte existentes e definidas através dos tempos – são distintos porque se configuram de maneira diferente. A pintura exige contemplação visual; enquanto a música utiliza-se da percepção sonora e outras, como o cinema, realiza uma união dos elementos, som e imagem provocando um terceiro efeito.
As histórias em quadrinhos também possuem sua distinção. Mesmo sendo quadros parados, sua seqüência intenta gerar uma espécie de movimentação. Que mantém o ritmo da história e, muitas vezes, elabora boas cenas de ação.
Não é recente que na indústria cinematográfica há a procura de mais roteiros prontos para adaptação do que argumentos novos. Trabalhar com uma história já produzida que, muitas vezes, traz consigo certo público cativo é mais fácil e rentável do que arriscar em exceto roteiros inéditos que, potencialmente, são bons.
Desde que os quadrinhos galgou sucesso no mainstream de Hollywood, o espaço para adaptações se abriu largamente. Até mesmo produções em quadrinhos sem muito contato com o público receberam versões de cinema, muitas originando produções estupendas – caso de Marcas da Violência de David Cronenberg.
Ainda que alguns elementos artísticos sejam parecidos em ambas artes, é compreensível que uma não pode ser um decalque da outra. Nas adaptações quadrinescas dos últimos anos, apenas duas destacam-se pelo estilo bastante enraizado nos quadrinhos, : Sin City de Robert Rodriguez e 300 de Esparta, de Zack Snyder. Por coincidência, ambos de Frank Miller.
O mérito de uma produção competente dá crédito aos seus diretores. Sin City funciona ao imitar o estilo de sombra e luz do original por ser fiel ao estilo policial noir que, na literatura, esconde mais do que mostra. 300 de Esparta filtra parte do estilo de Miller ao desenhar. Insere na tela parte do desenho, mas não se prende a ele. Realizando adaptações necessárias para um quadrinho se tornar filme.
Scott Pilgrim Contra o Mundo é uma produção que exagera ao mostrar sua fonte. Boa parte dos elementos do filme, até mesmo aqueles que geram o riso, são oriundas diretas de estilo narrativo dos quadrinhos. Cenas de corte rápido, personagens que mudam de roupa em segundos e até mesmo as onomatopéias estão presentes em cena.
É evidente que Pilgrim deseja homenagear os vídeo games de 8 e 16 bits que muitos jogaram na infância. Seu enredo, de um garoto que precisa lutar contra os ex da futura pretendente para ficar com ela, explicita isso. Porém, se tal elemento funciona bem nos quadrinhos, nas telas diminui-se.
Quem acompanha alguma história em quadrinho sabe que por muitas vezes é natural que as personagens exagere em suas emoções, as vezes partindo para agressões de uma cena que logo são esquecidas. Os quadrinhos orientais, principalmente os mangás aumenta
m ainda mais tal carga dramática.
Porém, nas telas, tal arranjo torna-se estranho quando, em meio a um filme aparente normal sobre um personagem deslocado ele realiza um salto atlético e brilhos luminosos começam a sair de si.
Se Michael Cera foi cativado pelo público por sua participação em comédias e no tragicômico Juno, seu carisma não é necessariamente proporcional ao seu talento. Realizando um papel de um nerd deslocado que provoca, por diversas vezes, constrangimento por suas falas, sua interpretação, assim como outros estereótipos do filme, beiram outros personagens contemporâneos recentes que conhecemos.
Com o nerd e o geek na moda, personagens do estilo irão surgir com mais freqüência, porem a trupe de The Big Bang Theory protagoniza com tanto estilo tais personagens que há o risco de qualquer interpretação lembrar a do quinteto. O que faz do Pilgrim de Cera um deslocamento parecido, mas não tão afetado, de Sheldon Cooper.
Há miscelânea exagerada no corpo da história. O decalque quadrinesco, as personagens deslocadas, a homenagem aos vídeo games que são identificadas pelos sons, muitos que lembram sons de jogos clássicos.
O artifício que mais é bem feito na trama é a brincadeira explícita com o Indie. Desde a banda de Pilgrim que só tem a namorada como fã, as músicas de ritmo contagiante e canções que parecem mais um poema dadaísta.
Scott Pilgrim Contra o Mundo tem encontrado dificuldades para estreiar no país. Primeiro teve problemas em São Paulo por conta de uma mostra de filmes, agora vem sofrendo atrasos na estréia. Sendo o terceiro filme do diretor a, talvez, ser lançado direto em vídeo.
A história em quadrinho que gerou a produção está sendo lançada pela Companhia das Letras. As duas primeiras partes – de três – já encontram disponíveis para venda. E, provavelmente, funciona melhor que a produção que exagera em elementos alheios sem dar vazão aos recursos cinematográficos.
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