quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Californication, Terceira Temporada

ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO A TEMPORADA, POR FAVOR.

Quando o declínio de um homem passa da decadência elegante para uma narrativa apática.

Em minha análise sobre a segunda temporada de Californication, eu mencionava a qualidade da série em ser capaz de contar uma boa história ainda que com boa dose de exagero, o que comprovava a competência de seus roteiristas. Infelizmente o roteiro que era um primor na primeira temporada, prosseguiu bem na segunda, não se encontra nesse terceiro ato da série.

Mesmo que a arte de se produzir textos ou personagens não seja explicitamente possível de ser explicada, há um tópico comum em qualquer manual do gênero que tenta, quase em vão, dar dicas a respeito: Saiba conduzir o seu personagem, nunca deixo-o perdido como se não fosse prosseguir.

Essa é a principal sensação a assistir a terceira temporada da série. Anteriormente, era notável os dois movimentos distintos da narrativa. Em sua primeira temporada, temos um Hank Moody ainda estável, mas já naufragado em seu mal estar por ter se separado de sua bem amada, toda a temporada centra-se na possível reconquista desse amor. A segunda temporada fundamenta-se na capacidade Hank e Karen de manter a complicada relação até o momento em que, como os mesmo dizem, eles ferrarem tudo. Enquanto Hank, ainda sem inspiração, encontra na cadeia um alguém pior que ele, um Hank Moody ainda mais depravado, desiludido e mordaz.

Nessa temporada, como compreendido na última, era provável que assistíramos o relacionamento de pai e filha, enquanto Karen estivesse trabalhando em Nova York. Mas, em algum momento, esqueceram disso.

A paralisia da narrativa gera um episódio de abertura com bons momentos, mas que deixa a desejar por faltar algo que o deixe definitivo. Hank Moody começa em pleno ato sexual, percebe que sua filha fumou sua própria maconha. Boas cenas que não se encaixam com seu histórico passado, como sua volta com Karen, que supostamente, o colocaria nos eixos, e a boa relação com Becca, que sem razão está rebelde.

Moody se torna um professor universitário somente para conquistar mais amantes, que nada acrescentam a história que já conhecemos. Se envolve com uma mulher mais velha, tem um caso com uma mais nova, repetições que já aconteceram.

Assim, a trama desenvolve mais o lado de seu agente Charlie Runkle. Introduz uma nova chefe, Sue Collini, interpretada por Kathleen Turner, personagem que tem nítido apelo cômico mais se torna grotesco até pelo universo da série.

É perceptível que falta bastante ritmo para essa temporada, não casando bem o drama e o humor que sustentaram os anos passados. A ausência de Mia também é bastante significativa. Sua volta no final da temporada serve apenas para confirmar o inevitável. A expiação de sua culpa, revelando que foi para cama com Hank era o próximo passo da série, o tombo seguinte de Hank Moody, e que o espaço dos doze episódios que separam sua ida e volta são apenas um exercício para um verdadeiro gancho.

Ainda que bem inferior a sua própria qualidade, a terceira temporada rende cenas boas e um final memorável em que o público só supõe todo os gritos de Karen ao descobrir que Hank dormiu com Mia enquanto a trilha sonora brilha com Rocket Man de Elton John, fechando uma temporada estranha com um símbolo de tudo que é Hank Moody: alguém que nunca consegue parar. Um homem foguete que sempre vai além e além do fundo de seu próprio poço.

Ao menos a figura central dessa trama não perdeu seu brilho e continua irresistível. Resta saber se no próximo ano a série volta ao seu equilíbrio.



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