segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

(The Dark Knight Rises, 2012)
Diretor: Christopher Nolan
Atores: Christian Bale, Gary Oldman, Morgan Freeman, Michael Caine, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt, Liam Neeson, Tom Hardy, Cilliam Murphy, Marion Cotillard.

Ainda em exibição nos cinemas, o desfecho derradeiro da trilogia de Chistopher Nolan ressoa nas discussões cinematográficas, seja você um cinéfilo, um fã de quadrinhos ou um espectador ocasional da sétima arte. A potência da produção gerou tanto calor que críticos especializados foram alvos de insultos por críticas negativas.

Se fosse uma história isolada, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge seria recebido positivamente por todos. Mas é parte de uma das franquias mais bem sucedidas de quadrinhos, com uma das personagens mais queridas e lucrativas da indústria. Além disso, o fardo da terceira parte de uma trilogia é grande. Sempre gerando fanáticos por comparações que imaginam que toda história é composta pela mesma mistura.

O principal estranhamento dessa produção foi o espaçamento temporal. Não só a trama se passa sete anos após os acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas como boa parte de sua narrativa percorre certa parcela de tempo. A necessidade de fechar pontas surgidas anteriormente e ainda dar um fim poderoso a trilogia deixou-a com um enredo concentrado. A narrativa acelerada fez com que algumas pessoas se perdessem. Me incluo nessa categoria. Acostumado a narrativa anterior, mais explicativa e dialogada, refleti em diversos momentos se o filme cometera erros de continuidade, diluía personalidades para facilitar o drama ou exagerava na costura de algumas amarras.

Agarrado ao princípio realista que Nolan fundamentou, inicialmente me senti traído com as coincidências extremas de situações apresentadas. Optei por me abster de qualquer comentário sobre o filme, seja crítica, conversas, para compreender qual era meu desconforto. Ao reassistir a produção, atento aos detalhes que me incomodavam, compreendi que tudo estava bem explicado mas, seguindo a obrigação de finalizar a trama em duas horas e meia de projeção, com muitas tramas sobrepostas. E creio que boa parte do público que teceu comentários negativos sobre o filme valeu-se da mesma sensação.

A mudança narrativa era necessária para que Nolan apresentasse o elemento mais épico de sua saga. Mais do que o herói, é a própria Gotham City que se torna personagem central da trama. É a cidade como unidade que é posta em cheque pelo vilão Bane. Trazendo o ponto máximo da escalada criminosa. Primeiro, o herói que surge para, em seguida, produzir vilões que desejam sua queda.

Bane é uma exemplar composição que atrela o exagero dos quadrinhos sem destoar do elemento realista. É a ameaçadora força bruta com um plano destrutivo, o medo dissonante pela voz distorcida e aguda para um monstro. A postura sempre ereta e com classe do vilão é reversa a loucura de Coringa, é pura racionalidade deturpada.

Ao retornar ao manto encapuzado, Bruce Wayne confirma sua potência como força modificadora de uma cidade mas assinala também a fragilidade dos heróis perante o envelhecimento. Embora a força de vontade sobrepuje a decadência do corpo a queda de Batman entristece pelo realismo. Explicita a loucura de um único homem que tenta transformar o mundo.

As cenas que acompanham a queda e o ressurgimento de Batman são dramáticas. O anticlímax da narrativa potencializa o ressurgimento mitificador da lenda. A marginalidade do herói dá espaço a sua legitimidade em um momento que, pela primeira vez, se reconhece quem são os verdadeiros heróis, encapuzados ou não, de Gotham City.

Mantendo-se fiel a trama que criou, Nolan finaliza a trilogia de maneira eficiente, deixando pouco descontentamento para o público – há uma morte na trama que mereceu se tornar a piada do momento pela cena mal executada. A propagação da discussão, agora sem as polêmicas de estreia, são positivas. Dão espaço para teorias especulativas e enriquecem o significado da história.

Não há dúvida de que a personagem retornará em breve aos cinemas, em outras releituras. É provável, porém, que nenhuma seja tão brilhante quanto a versão com realidade injetata, excelente na composição e passível de reflexão.


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