sábado, 30 de junho de 2012

Michael Jackson, Thriller

Artista: Michael Jackson
Álbum: Thriller
Gravadora: Epic
Ano: 1982

01 - Wanna Be Startin (Michael Jackson)
02 - Baby Be Mine (Rod Temperton)
03 - The Girl Is Mine with Paul McCartney (Michael Jackson)
04  - Thriller (Rod Temperton)
05 - Beat It  (Michael Jackson)
06 - Billie Jean (Michael Jackson)
07 - Human Nature (Steve Porcaro, John Bettis)
08 - P.Y.T. (Pretty Young Thing) (James Ingram, Quincy Jones)
09 - The Lady in My Life (Rod Temperton)


Depois de fazer o melhor de todos os álbuns da música disco, Michael partiu pra um salto ainda mais alto, fazer o melhor disco de toda uma geração. Então, em 30 de Novembro de 1982, depois de 8 meses de trabalho, chega às lojas norte-americanas o álbum que mudaria todo o panorama da indústria fonográfica mundial, Thriller.

Até hoje, esse álbum vendeu mais de 100 milhões de cópias, mais do que o dobro do segundo álbum mais vendido de todos os tempos. Michael Jackson, que já era um dos artistas mais conhecidos e importantes do mundo, passou a dominar o cenário musical de maneira inédita e nunca mais vista. Mas porque Thriller fez tanto sucesso? Ele merece toda essa badalação? Tentemos entender o disco faixa a faixa.

O álbum começa destruidor com uma gravação sublime, uma das 5 melhores da carreira de Michael, Wanna Be Startin Something.  A música é frenética do começo ao fim, com um instrumental muito criativo e inovador, usando uma ótima linha de baixo, efeitos eletrônicos e até uma cuíca, provavelmente influência do excelente percussionista Paulinho da Costa, que participou das gravações. Michael canta em estado de graça, entregando com certeza uma das melhores performances de sua brilhante carreira.

A letra é totalmente delirante e trabalha com a ideia de se virar pra mudar as coisas, mesmo que o que precisa de mudanças nunca seja sugerido, a ideia é mesmo de mudança no geral:

You got to be startin' somethin'
It's too high to get over (yeah, yeah)
Too low to get under (yeah, yeah)
You're stuck in the middle (yeah, yeah)
And the pain is thunder (yeah, yeah)

Você tem que fazer alguma coisa
é Alto demais para superar (Yeah, yeah)
Baixo de mais para render-se (Yeah, yeah)
Você fica preso no meio (Yeah, yeah)
E a dor é fulminante (Yeah, yeah)

Outro trecho interessante é quando Michael cita Billie Jean, a garota que será tema da melhor música do álbum (e da sua carreira e dos anos 80...):

Billie jean is always talkin'
When nobody else is talkin'
Tellin' lies and rubbin' shoulders
So they called her mouth a motor

Billie Jean está sempre falando
Quando ninguém mais está falando
Contando mentiras e não está nem aí
Então a chamaram de boca de motor

Ele já começa aqui a desacreditar Billie Jean pelas mentiras que conta, assunto central da música de mesmo nome.

Vale ainda destacar o trecho final da letra, referente a um ritmo camaronês o Makossa, que cantado pelos backing vocals, reforça o clima africano e de miscigenação que a canção traz.

A segunda faixa é Baby Be Mine a primeira de várias composições de Rod Temperton no álbum. É a primeira balada do disco e começa com uma bela introdução de sintetizador e um animado Michael Jackson acompanhado de bons e bem planejados backing vocals, compondo juntos uma inesquecível performance vocal. Thriller até nas baladas não perde o clima animado e dançante e essa música é um bom exemplo. A letra é bonita e direta, sem ter grandes destaques.

The Girl Is Mine é o fruto de uma prolífica, porém curta, parceria entre duas das mais reconhecíveis vozes do mundo, Michael e Paul McCartney. Eu não consigo descrevê-la de outra maneira que não seja encantadora. É uma balada leve e lindíssima, baseada nas belas vozes dos dois e em um “duelo” musical, já que a letra é uma conversa entre dois sujeitos que amam a mesma mulher e a disputam.

(Paul)
I love you more than he
(Take you anywhere)
(Michael)
But I love you endlessly
(Loving we will share)

Paul)
Eu a amo mais que ele
(Te levarei a qualquer lugar)
(Michael)
Mas eu amo interminavelmente
(unidos vamos compartilhar)

Paul e Michael fazem uma verdadeira disputa, pois ambos estão ótimos em suas interpretações e criam um pequeno teatro com alguns trechos falados. A música foi o primeiro single do álbum, muito provavelmente por conta da participação de Paul, que chamaria um público diferente do habitual de Michael. Os produtores não poderiam imaginar que após esse disco, todo mundo seria o público alvo de Michael Jackson!

Depois da calmaria e do clima romântico construído pela dobradinha Baby Be Mine / The Girl Is Mine, a música título vem como um torpedo. Com sua sonoridade surreal, imitando o clima dos filmes de terror, a composição de Rod Temperton tornou-se o maior ícone dos anos 80.

Começa com barulhos, de portas rangendo, passos, cães latindo, trovões e culmina com um sintetizador subindo alucinadamente, seguido por uma excelente linha de baixo e Michael entrando com seu icônico “soluço”. O canto de Michael ganha aqui um ar meio misterioso, cheiro de sussurros, pra combinar com a letra de terror da canção, mas explode no refrão, um dos mais conhecidos de todos os tempos:

'Cause this is thriller
Thriller night
And no one's gonna save you
From the beast about to strike
You know it's thriller
Thriller night
You're fighting for your life
Inside a killer
Thriller tonight, yeah

Porque isto é terror
Noite de terror
E ninguém vai te salvar
Do monstro prestes a atacar
Você sabe que é terror
Noite de Terror
Você está lutando por sua vida
Em uma assassina
Noite de terror, yeah

Vale destacar a célebre narração do astro do cinema de terror Vincent Price, que amplia magnificamente o clima da canção e também o videoclipe, até hoje considerado o melhor já produzido em todos os tempos, que ajudou a alavancar as vendas do álbum e deu forças pra, até então, incipiente indústria do videoclipe.
A canção seguinte é outro clássico, Beat it, um rock a la Michael Jackson, com a participação de Eddie Van Hallen nas guitarras, o que trouxe o público roqueiro para a cena pop e R&B de Michael.

O instrumental é um rock bem construído, com base em guitarra, mas sem nunca deixar de dar destaque à potente interpretação de Michael. O destaque fica para o virtuoso solo de guitarra, que provavelmente foi o primeiro que muita gente ouviu na vida, já que não era nada comum em canções de R&B.

A letra é um libelo contra a violência e as brigas de gangue e é uma das melhores da carreira de Michael:

You have to show them
That you're really not scared
You're playing with your life
This ain't no truth or dare
They'll kick you, then they beat you
Then they'll tell you it's fair
So beat it, but you wanna be bad

Você tem que mostrar a eles
Que você realmente não está assustado
Você está brincando com sua vida
Isto não é verdade ou desafio
Eles vão te chutar, então vão te bater
Então eles irão te dizer que é justo
Então cai fora, mas você quer ser mau

Billie Jean é o ponto alto do álbum, é a música que levou Thriller perenemente às paradas de sucesso. Começa com uma bateria marcante seguida pela melhor linha de baixo de todos os tempos. Na sequência entra o teclado e a voz de Michael, que, apesar de calma no começo da canção, é tensa e desesperada, desespero esse que se acentua até atingir o auge no refrão da canção, quando ele brada que Billie Jean está mentindo e que a criança que ela espera não é filho dele. Sim, a letra da música conta a história (real) de uma moça que persegue Michael dizendo que ele é o pai do filho dela!

People always told me:
- Be careful what you do
- And don't go around breaking young girl's hearts
And mother always told me:
- Be careful of who you love
- Be careful of what you do
- Cause the lie becomes the truth
Billie Jean is not my lover
She's just a girl
Who claims that I am the one
But the kid is not my son

As pessoas sempre me disseram:
- Cuidado com o que você faz
- E não saia por ai partindo o coração das mocinhas
E minha mãe sempre disse:
"Cuidado com quem você ama"
"Cuidado com o que você faz"
"Porque a mentira se torna verdade"
Billie Jean não é minha amante
Ela é só uma garota
Que diz que sou o "cara"
Mas o garoto não é meu filho

A performance vocal de Michael nesta música é a melhor da vida dele, ele soa assustado, paranoico, enquanto tenta convencer o ouvinte de que a moça está mentido e ele fala a verdade, o instrumental soturno reforça o clima de desconfiança, criando uma das melhores gravações de toda a história da música, o ápice de um artista que –naquele tempo – não parecia conhecer limites.

Depois da paranoica canção anterior, Human Nature traz de volta as baladas. Esta, na minha opinião, é a melhor que Michael já gravou. A música foi a última a entrar na setlist do álbum, já que o compositor, Steve Porcaro, pretendia gravá-la com sua banda, mas acabou enviando a demo para Quincy Jones, que resolveu colocá-la no Thriller, um grande acerto!

O instrumental delicado é focado no teclado e segue bem suave durante toda a canção, com Michael a interpretando quase ofegante, dando uma sensação de paixão que é muito bem executada.  A letra mostra um homem que apesar de ter uma mulher, não resiste ao “chamado da rua” e a trai constantemente:

Looking out across the morning
Where the city's heart begins to beat
Reaching out, I touch her shoulder
I'm dreaming of the street

Olhando para fora através da manhã
Onde o coração da cidade começa a bater
Esticando a mão para tocar o ombro dela
Estou sonhando com a rua

Michael é tão delicado em sua interpretação que nos faz entender e simpatizar com um “traidor”.

P.Y.T. (Pretty Young Thing) é a única música composta pelo produtor Quincy Jones a entrar no setlist final e é canção mais fraca do álbum, apesar de ser boa. Começa com uma narração e segue com um ritmo animado com os backing vocals interagindo bem com a voz de Michael, mas a melhor parte é a letra, que é interessante e ousada:

Don't you know now is the perfect time
We can dim the lights
Just to make it right
In the night
Hit the lovin' spot
I'll give you all I've got

Agora você não sabe que este é o tempo perfeito,
Nós podemos ofuscar as luzes,
Somente faça-a direito,
Na noite,
Acerte o local amoroso,
Eu darei a você tudo que eu tiver recebido.

O disco fecha com uma bonita balada, a terceira música de Rod Temperton no álbum, The Lady in My Life.  É uma música romântica mais tradicional, com uma linda letra e um instrumental correto, muito bem defendida por um dedicado Michael. Possui uma mudança de ritmo no meio que dá um brilho a mais a interpretação, além de um bom trabalho com o backing vocal, que é feito pelo próprio Michael que em uma faixa de áudio canta a letra e na outra faz um belo contra canto. Um calmo fechamento para um disco tão agitado.

Thriller foi o auge da parceria entre Michael e o produtor musical Quincy Jones, que havia começado no Off the wall e se estenderia até o Bad. Essa parceria tirou o que havia de melhor no imenso talento de Michael e deu solidez a ele para produzir suas obras-primas e dominar o mundo.

Uma pena que todo artista que chega a um nível inimaginável de qualidade e criatividade, não tem pra onde ir a não ser pra baixo, e isso em breve aconteceria com Michael.



2 comentários:

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