terça-feira, 25 de outubro de 2011

Eric Clapton, Eric Clapton World Tour, 12 de Outubro, Morumbi - São Paulo

Por Victor Caparica



1- Key To The Highway
2- Tell The Truth
3- Hoochie Coochie Man
4- Old Love
5- Tearing Us Upart
6- Driftin’ Blues
7- Nobody Knows You When You’re Down And Out
8- Lay Down Sally
9- When Somebody Thinks You’re Wonderful
10- Layla
11- Badge
12- Wonderful Tonight
13- Before You Accuse Me
14- Little Queen Of Spades
15- Cocaine
(Bis)
16- Crossroads



Gary Clark Jr. nasceu em 1984 no Texas de Stevie Ray Vaughan, e muito jovem aprendeu a extrair arte das cordas da guitarra. Aos 15 anos, já era profissional e reconhecido, aos 18 já fazia grandes concertos e aos 25 já havia tocado no Crossroads Festival, que definitivamente não é pouca coisa. Seu estilo musical é arrojado, agressivo, deslizando sempre pela linha que separa a distorção da poluição musical. Seus riffs são contagiantes, cheios daquele swing Texano tão característico do Z. Z. Top. Enfim, Gary Clark Jr. É um prodígio, uma revelação e uma promessa bastante crível para uma renovação criativa do blues negro do Sul dos EUA.

No último dia 12 de Outubro, Gary Clark Jr. Recebeu o privilégio de abrir para Eric Clapton no estádio do Morumbi em São Paulo. Torci o nariz logo de cara. Paguei para ouvir o Clapton, não para ouvir esse tal de sei-lá-eu-quem-Clark. Me enforquei na própria língua. Com acordes poderosos e um R&B que faz tempo que não se ouvia, o jovem Clark Jr. Arrebatou aplausos eufóricos de toda a platéia, que como eu ficou impressionadíssima com a habilidade do rapaz.

Trinta minutos depois, Eric Clapton entrou no palco. Cinco minutos depois, Gary Clark Jr. tornou-se pequeno.

É difícil descrever com objetividade o show de Eric Clapton em São Paulo, apresentação que encerrou sua passagem pelo Brasil em 2011. Pontualidade foi só a primeira característica do show exemplar: Mr. Clapton entrou no palco às nove em ponto, para um espetáculo de quase duas horas. A entrada já deu o tom da noite, com Key to the Highway de Charles Segar, o primeiro de vários covers primorosos do blues.

Os clássicos continuaram com Tell the Truth (do Derek and the Dominos), esquentando os reatores para Hoochie-Coochie Man, do mestre Muddy Waters, o inventor da eletricidade. Feitas as primeiras homenagens, Clapton adentrou seu próprio repertório com Old Love, em uma versão maravilhosamente repleta de solos inacreditáveis, uma verdadeira aula de virtuosismo e uma demonstração única daquele “mojo” indefinível que constitui o verdadeiro bluesman. Mais dois covers, agora de Johnny Moore e Jimmy Cox, respectivamente com Drifting Blues e Nobody Knows You When You’re Down and Out. A essa altura do show, posso dizer que meus conceitos de guitarra no blues já estavam sendo reformulados. Claro, ouvi Eric Clapton desde a adolescência, mas o efeito catarse transmitido pela apresentação ao vivo é algo que vai além do limite do playback e separa grandes instrumentistas de verdadeiros demônios do blues como Eric Clapton.

A noite continuou com Lay Down Sally, música mais animada que fez todo mundo cantar no refrão. Para mim, no entanto, a surpresa mais agradável da noite foi a versão acústica e ainda mais lenta de Layla, um dos maiores clássicos do mestre Clapton, seguida por Badge e pela balada Wonderful Tonight.

A reta final ficou por conta de Before You Accuse Me, do inesquecível Bo Didley, Little Queen of Spades de Robert Johnson e é claro, Eric Clapton não sairia vivo do Morumbi se não fechasse com o estádio inteiro em uníssono gritando a plenos pulmões o refrão de Cocaine.

O bis foi curto, talvez minha única crítica honesta ao show. Podia ter colocado mais duas músicas depois de tocar Crossroads, também de Robert Johnson. Mesmo assim foi muito bom, e nessa saideira com o blues da encruzilhada, Gary Clark Jr. Voltou ao palco para tocar com Slowhanded Clapton. Na totalidade, o show foi um dos pontos altos da cena brasileira de shows internacionais em 2011, e deixou muitas lembranças muito boas.


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