segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Semana em Filmes (12 a 18 de Dezembro)

Shrek (Shrek)

Dir. Andrew Adamson, Vicky Jenson


Durante um extenso tempo as animações do estúdio Disney, ainda anterior ao recurso da computação gráfica, reinaram de maneira soberana. Suas produções continham um detalhamento e um bom roteiro que as tornavam supremas, sendo raras, quase nulas, as ocasiões em que outros estúdios foram capazes de gerarem histórias que ao menos se equiparavam com sua qualidade.
Com a queda da animação tradicional, em 2D, tentando dar próprios passos sozinhos, sem a ajuda da Pixar, a Disney perdeu o espaço ascendente para outros estúdios que produziram uma boa quantidade de longas no novo recurso. Ainda que a lista seja farta, apenas uma delas merece reverência.
Primeira animação a concorrer à Palma de Ouro desde 1974, Shrek abriu precedente para a paródia do gênero infantil e dos contos de fadas, elementos que seriam copiados depois em outras produções. Sua premissa ainda remete-se ao estilo narrativo consagrado, mas transforma a história as avessas apresentando um personagem a margem de tais histórias.
O ogro verde, mal humorado e porcalhão foi capaz de conquistar grande parcela do público por aproveitar-se tanto de piadas infantis – como arrotos e outros barulhos corporais – como eleva-las a um público adulto capaz de compreender as inferências e um humor corrosivo. A ele, agrega-se a figura amigável do burro falante, interpretada de maneira exemplar por Eddie Murphy, brilhantemente dublada por Mario Jorge de Andrade, que defende a voz de Murphy no Brasil em diversas produções, uma princesa que precisa ser resgatada – na voz original, Cameron Diaz, em seu melhor papel depois de O Máskara – e um rei baixote que pretende resgatar tal princesa e casar com ela mas, muito medroso, manda o ogro em seu lugar.
A dublagem original do monstro verde ficou a cargo do bom Mike Myers que, após gravar todas suas falas, decide fazê-la com sotaque escocês, gerando um gasto duplicado na produção mas uma performance bem mais engraçada. No Brasil, por conta de uma estranha jogada de marketing, a dublagem ficou a cargo do humorista Bussunda, uma evidente aproximação pelo biotipo do que por talento, sendo que Mauro Ramos – de longo currículo e que seria seu dublador no terceiro filme – já havia gravado as falas. Há críticas que observam a leve desarticulação do humorista no trabalho, porém a produção possui tantas piadas funcionais, que tal elemento não a estraga.
Shrek é uma verdadeira destruição da moral e dos bons costumes presentes nas histórias infantis. Não bastando a força da sátira, a trama ainda incorpora canções contemporâneas em sua trama, o que se tornou marca registrada na produção e foi repetida em diversas outras em que personagens cantam e dançam canções inusitadas que, por tal motivo, se tornam ainda mais engraçadas.
Exibido a exaustão em todas as mídias, é difícil encontrar quem não tenha afeição pela história, um das poucas animações que foi capaz de eclipsar momentaneamente a supremacia do estúdio do camundongo que depois firmaria parceria incrível com a luminária da Pixar.




Shrek 2 (Shrek 2)

Dir. Andrew Adamson, Kelly Asbury, Conrad Vernon


Após o retumbante sucesso da primeira produção, uma sequencia da história do ogro foi necessária. A desconstrução das histórias infantis ganha continuidade em um filme que mais mantem-se pelas boas piadas e pela inserção de um personagem cativante do que pelo seu todo.
Shrek 2 consolida a relação da personagem com a princesa Fiona, apresentando as responsabilidades do casamento. Fazendo com que o casal visite os pais da esposa, no reino Muito Muito Distante, e que ainda não tem conhecimento que o encanto se quebrou e a filha não só se tornou uma ogra em tempo integral, como não casou com o príncipe que era pretendente.
A ação envolvendo uma Road trip assemelha-se com o primeiro enredo e, como tradição nas continuações, se apresenta de maneira mais escandalosa. O tom principal da história se dá pelo humor, principalmente pela cativante personagem do Burro. Há uma pequena queda de qualidade no argumento que, repleto de tantas piadas, passa desapercebido em uma primeira exibição. Porém, conhecendo o filme diversas vezes é notável que Shrek tem mais coesão que sua segunda trama.
Fundamenta-se aqui outra incrível personagem da história, dublada no original por Antonio Bandeiras. Seu gato de botas não só ajuda na construção cômica como se tornou famoso pelo olhar pidão em uma boa cena reformulada diversas vezes em montagens mundo a fora.
Além da presença do gato, os coadjuvantes que cercam a trama, todos oriundos de clássicas histórias infantis, são um caso a parte de boa sustentação. O Pinóquio com tendências homossexuais, o biscoito da sorte psicótico, o Lobo que tem gosto em vestir-se como vovó são participações minimas que explicitam o tom zombeiro da concepção do ogro.




Shrek Terceiro (Shrek The Third)

Dir. Chris Miller


É inevitável que desdobramentos de uma trama necessitem de ampliações. Há uma espectativa do público em assistir novos conflitos, bem como conhecer novas personagens. Shrek Terceiro marca o terceiro filme da saga que, supostamente, seria o último e apresenta sua intenção desde o título. Com o pai de Fiona falecido cabe ao ogro ser o rei de Tão Tão Distante ou buscar outro sucessor mais próximo.
Calcado naquilo que mais rendeu sucesso nas tramas anteriores, o ogro e sua trupe novamente se aventuram em uma Road trip a procura de Arthur, o mais próximo da linhagem do reino a assumir o trono. A trama apresenta contornos mais familiares ao anunciar que a família do ogro se expandirá, com Fiona grávida. Embora tenha cenas interessantes da relação entre ambos, explicitando que até ogros amam, nem mesmo as piadas sustentam a trama que requenta demais aquilo que fez sucesso nas anteriores.
Novos personagens são apresentados como o Arthur referido, o mago Merlin e outros coadjuvantes mas nenhum possui o carisma dos anteriores consagrados, como Burro e Gato de Botas. Algumas cenas são boas – como a morte do pai de Fiona ao som de Live and Let Die de Paul McCartney – mas faltou esforço e balanço entre humor e a procura de finalizar a trama a altura de seu início, de certa forma, revolucionário em sua medida.




Shrek Para Sempre - O Capitulo Final (Shrek Forever After)

Dir. Mike Mitchell


Trilogias concebidas no cinema atual, sem sombra de dúvida, apresentam-se em um pacote extra de quatro produções. Encerrar uma saga em três movimentos não parece o bastante, ainda mais quando retomar tais personagens é uma faixa de lucro certo, possuindo uma margem de público cativa.
Sem ter um conflito para avançar na história de Shrek, coube aos roteiristas uma divertida produção que intenta retomar as virtudes iniciais do sucesso. Casado, com três filhos e entediado de uma vida pacata, onde não é mais o temível ogro do pântano, ,o ogro assina um contrato mágico com Rumpelstiltiskin que o transforma, novamente, na personagem assustadora mas anula toda sua história, realizando uma espécie de "o que aconteceria se...".
Como a história de Shrek é mudada desde o inicio, seus amigos o desconhecem e há a necessidade de reconquistar Fiona, agora a líder dos ogros contra a opressão de Rumpelstitiskin.
A produção mais vale-se da memória do público por uma personagem já cativada do que exercita seu dom em apresentar bom humor ou uma história muito interessante. A prerrogativa da trama funciona pelo saudosismo em relação ao primeiro grande filme. Embora seja melhor que Shrek Terceiro, tem muito menos piadas, destacando, como de costume, a estupidez cômica do burro e um desenlace evidente ao expectador.
Esperava-se que a bilheteria da produção fosse alta, mas terminou com um saldo modesto. Um evidente sinal de que a saga do ogro, embora interessante, diferenciada e tendo seu destaque na história cinematográfica, necessita de finalização para não se manchada com sequencias que nada adicionam as boas personagens. Resta saber se essa quarta história será mesmo o capítulo final.

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