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A sombra de sua própria mitologia
Quando uma estrutura fundamental de um objeto é abalada, é natural que seu todo sinta reflexo desse problema. E dessa maneira aconteceu com Arquivo X.
O astro da série David Duchovny apresentava cansaço em relação à série, não só pela perda de qualidade dos episódios como diversas brigas e processos que o ator teve com a produtora Fox. E o drama desse imbróglio pode ser sentido do outro lado da tela, na sétima temporada da série e última que o ator participaria integralmente.
Mesmo os eficientes episódios mitológicos, estrutura mais sólida da série, se desdobram de maneira ineficaz. Como se faltasse planejamento a longo prazo, sem que pensassem o que tais acontecimentos significariam para a série como um todo.
Boa parte da mística de seu enredo ganha conclusão no final da e ínicio da sétima temporada. Como prosseguir com o andamento da série sem sua base?
A escolha foi, novamente, exagerar em tramas de efeito criativo que fogem da linha temporal da série. Temas são repetidos em mais de um episódio, como a sorte, mágica e a questão religiosa. Tratando-se desta questão, é notório a mudança da Agente Scully, que perde sua aura de personagem devota, para lidar com os casos como se não se importasse mais com a religião que tanto seguiu. Dando mais a impressão de apatia, do que descrença.
Poucos episódios mantém-se em bom vigor, não conseguindo deixar o sétimo ano da série em um patamar aceitável.
O episódio Faminto e O Cigarro da Morte são os que mais se aproximam com a tradição da série, com uma investigação clássica. Os outros destaques da temporada valem-se de outros atributos como o excelente Medo, filmado no estilo da série Americana Cops, e três episódios digiridos e escritos respectivamente por William B. Davis (O Canceroso), Gillian Anderson e David Duchovny, para merecido destaque.
Nessas três jornadas pessoais, Davis apresenta em A Salvação da Humanidade sua personagem como um homem a beira da morte, buscando redenção. Anderson dá mais profundidade a Scully em Todas as Coisas, ao mostrar seu passado antes dos Arquivo X, quando teve um relacionamento com um de seus professores. Já Duchovny brinca com a história da série e realiza uma paródia bem humorada, de produtores adaptando os Arquivo X para o cinema em Hollywood A.D. com direito a sua esposa na vida real, Tea Leoni, interpretando o papel de Scully.
Sem dúvida, ainda assim, o momento mais inesquecível para os fãs será o episódio Millenium, marcado pelo primeiro beijo do casal e considerado o final derradeiro da outra série de Chris Carter.
Em meio a uma temporada oscilante, a mitologia retorna estável, onde tudo começou. Sete anos após a investigação inicial da dupla, vista no episódio piloto, Mulder e Scully estão de volta para ajudar Billy Miles que suspeita que um OVNI esteja abduzindo novamente a população.
É com esse desfecho favorável que os produtores encontram a resposta para tirar Duchovny temporariamente da série, abduzindo-o. Se a trama tem um grande apelo perante ao público, chegando até a conquistar, ela irá exigir que os mesmos aceitem certas criatividades no roteiro, com a lógica de prosseguir com a série no próximo ano. É assim que, nas cenas finais, Dana Scully – que desde sua abdução descobriu que teve os ovários retirados e não pode mais ter filhos- descobre estar grávida.
Arquivo X começa a transformar-se na sombra do que foi outrora, sendo nítido que seu desfecho final deveria ter acontecido há dois anos atrás.
Dá pra notar mesmo a maneira tediosa com que Duchovny interpreta Mulder. Ele mesmo afirmou em um entrevista que já estava cansado de fazer a mesma coisa e que estava na 7a temporada só pela grana. No mais, pra mim, só se salvam os epis Millenium, não só pelo beijo, mas pela trama horripilante de zumbis e magia negra, o duplo Sexta Extinção e o final Requiem. A solução que deram pro mistério Samantha foi de doer.
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