Sob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate)
Dir. Jonathan Demme
Não é tão surpreendente que, na política, um candidado nunca seja apenas a soma do caráter e boa vontade de um homem. Há toda a força dos partidos exercendo seu apelo através do candidado e, também não tão raro assim, há momentos que os mesmos se vêem envoltos em escândalos, ou são obrigados a, por pressão, seguirem conselhos que, normalmente, não seguiriam.
Baseado livro de Richard Condon, Sob o Domínio Do Mal, segunda versão do romance que vai as telas, leva ao máximo a premissa de um candidado formatado para ser o bom moço eleito pelo povo.
A boa direção de Jonathan Demme cria um eficiente thriller político, que se escora na conspiração política americana para contar a história de um grupo de soltados do Golfo que, ao serem seqüestrados pelos inimigos, sofrem uma lavagem cerebral que, anos depois, ajudara a criar a imagem de bom candidado de Raymond Shaw – Liev Screiber - o herói que salvou a tropa na situação.
Aos poucos, Ben Marco, personagem de Denzel Washigton – interpretando sempre o mesmo papel, mas sem cansar – tenta desvendar o que de fato aconteceu na ocasião e se recorda de um sonho que contraria a verdade criada pelo governo.
O tema da produção vem de um argumento bastante rico. Devidos aos embates políticos e a dúvida daquilo que é real ou não, é necessário prestar atenção a narrativa. Além da boa direção e da competência dos atores principais, a produção conta ainda com Meryl Streep como Eleanor Shaw, a mãe do candidado do título original e, como sempre, perfeita em cena.
Alice No País Das Maravilhas (Alice In Wonderland)
Dir. Tim Burton
Em diversas críticas sobre Alice No País das Maravilhas, inevitavelmente, muitos estão circulando um vídeo do site de humor americano Comedy Central que satiriza de maneira bastante precisa o estilo Tim Burton de se produzir um filme: uma visão nova de um conceito já existente, com Johnny Depp e Helena Bohan Carter no elenco e músicas de Danny Elfman que ajudaram a invocar o estilo gótico do diretor.
É notável que tal vídeo seja um retrato bastante fiel do que se tornou o outrora bom diretor Tim Burton: um pálido talento caricatural de si mesmo.
Mesmo que alguns permanacem em sua defesa, alegando que, o espaço que o estúdio lhe dá para um filme autoral, o diretor tem que pagar com um filme mais comercial, é revoltante que tais obras tenham certo vigor visual mas nenhum apelo sensível.
Há muito pouco de Alice do autor Lewis Caroll, nessa adaptação produzida pela Disney, voltada para um apelo infantil. O título que remete-se a primeira obra do autor a usar sua personagem famosa, poderia, muito bem, ter sido recriado. Já que poucos elementos originais foram mantidos e outros muito reinventados em uma triste licença poética.
A história original, da garota de nove anos que cai em um buraco ao seguir um coelho, foi modificada diversos anos. É provável que isso tenha ocorrido por medo que se lembrem que seu autor original compôs seus dois livros para uma pequena garotinha que foi apaixonado.
Assim, a trama abre espaço para a era vitoriana e uma Alice adolescente prestes a se casar que retorna a terra das Maravilhas e repete quase a mesma viagem que, na infância, realizou. Porém, tal decisão é patética.
Basta uma leitura do livro de Caroll que nota-se que a garota Alice não parece ter a idade que é mencionada pelo autor. Mesmo criança, sua fala é como uma adulta. Dessa forma adaptar Alice No País Das Maravilhas sem mudanças seria funcional, mesmo que a atriz principal Mia Wasikowska parecesse mais velha – ainda assim a atriz aparenta ser mais nova do que sua idade real.
Há diversos sinais de desconfiança quando o grande chamariz da trama não é a personagem principal, e sim Johnny Depp, em mais uma caracterização bizarra como Chapeleiro Maluco. Não só sua interpretação, bem como toda sua caracterização é bastante equivocada. Depp traja vestes que se assemelham com o Willie Wonka de Gene Wilder, faz caras de seu Edward Mãos de Tesoura, mantém sua afetação de Capitão Jack Sparrow, tem olhos aumentados por computador para maior expressividade – que lembram olhos de mangá - e, com cabelos alaranjados artificiais, parece mais um personagem travestido do que um maluco.
É também nesse ponto que a produção extrapola. Entregando um visual que explode em efeitos especiais para esconder o vazio do roteiro. A rainha Vermelha interpretada por Bonham Carter bem que tenta tirar alguns risos da platéia com sua raiva a flor da pele. Mas a idéia de deixá-la cabeçuda reflete nitidamente como não realista, parecendo um personagem de plástico. O mesmo equivale para sua irmã, a Rainha Branca, vivida por Anne Hathaway, tão pacífica que não gera nem simpatia.
As personagens criadas por computador tem até seu charme, como o lagarto dublado por Alan Rickman e o gato que sorri na voz de Stephen Fry. Mas nenhum deles são tão carismáticos – e malucos – quanto as mesmas personagens do desenho da Disney.
Plástico, sem fluidez narrativa e carisma, a produção só não se tornou um desastre de bilheteria pois atrai muitas crianças aos cinemas e os curiosos para ver uma produção que gerou muita expectativa. Além daqueles que vão para assistir sua versão em 3D que não acrescenta nada ao filme, nem ao menos trabalha com as texturas como faz, muito bem, Avatar.
É lamentável que um diretor bem característico como Burton tenha se tornado uma piada industrial. Mas para os executivos, a bilheteria gorda do filme é sinal de sucesso, o que significa novas adaptações com Johnny Depp, Helena Bonham Carter a música cativante de Danny Elfman.
Homem de Ferro 2 (Iron Man 2)
Dir. Jon Favreau
Toda continuação, se imagina, que trará consigo, se não um arsenal, ao menos diversas novidades, não só em seu enredo, mas como em sua maneira de ser conduzida as telas. Tratando-se de quadrinhos, as continuações “dois” que surgem a mente como exemplares são Homem Aranha 2, X-Men 2 e Batman – O Cavaleiro das Trevas e, mesmo que não querendo, espera-se uma seqüência a altura dessas.
A primeira aventura do Homem de Ferro foi um grande sucesso de bilheterias e agradou tanto o público comum quanto seus fãs.
Era uma excelente introdução ao personagem e a interpretação de Robert Downey Jr. Incorporava o jeito falastrão e mulherengo de Tony Stark. Os diversos pontos positivos dessa trama, não apagaram a idéia de que ela era carente de um vilão de peso.
Eis que sua continuação prometia preencher essa lacuna. Seu roteiro traria um vilão direto dos gibis do enlatado e mais ação. De fato, a produção não nega nada daquilo que prometia. Porém repete em excesso tudo que o primeiro roteiro trouxe.
A continuação inicia-se imediatamente após o término do primeiro, para introduzir o novo vilão, Chicote Negro (Whiplash, no original), um russo interpretado pelo lutador Mickey Rourke . Boa parte de seu início é apenas a megalomania envolvendo Tony Stark, servindo de grande palco para que Downey Jr. retire muitos risos da platéia. O argumento surge aos poucos,quando um concorrente das indústrias Stark, demonstra sua intenções de fazer tudo para derrubar O Homem de Ferro e o homem por trás da armadura.
O que seria o grande vilão dessa trama, ainda que forte na figura de Rourke, se torna coadjuvante, aparecendo, não só pouco, como tendo um desfecho estranho.
Como costume em uma continuação, há o pecado de criar tramas demais, acompanhem: Há o fato de Stark estar se consumindo e seus amigos se afastarem dele, o surgimento do novo vilão em paralelo com o concorrente das Industrias Stark e ainda mais um passo rumo aos filmes dos Vingadores, colocando Nick Fury e a S.H.I.E.L.D., abrindo mais um linha narrativa.
Gerando a impressão de que entre um e outro não há uma evolução significativa (o que justifica a nota igual desse para o primeiro). Estão presente os mesmos atrativos, mas as lacunas anteriores não foram reparadas com tanto sucesso. O que produz a sensação de um longo filme dividido em duas parte do que uma continuação melhorada.
Particularmente, como leitor de quadrinhos, minha expectiva em torno da produção era que entregassem algo a mais do que a primeira produção. Porém, saí dos cinemas - vendo os créditos até o final, pois possui uma ótima cena no fim - com a mesma sensação de dois anos atrás. Que entre as diversas cenas cômicas, os produtores e roteiristas estão escondendo do público sua falta de talento nato.
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