domingo, 28 de fevereiro de 2010

Lazarilho De Tormes, Anônimo


"Eu tenho por bem que coisas tão assinaladas, e por ventura nunca ouvidas nem vistas, cheguem ao conhecimento de muitos e não se enterrem na sepultura do esquecimento, pois pode ser que alguém que as leis nelas encontre algo que lhe agrade, e àqueles que não se aprofundarem muito, que os deleite. A esse propósito diz Plínio que não há livro, por pior que seja, que não tenha alguma coisa boa."

Anônimo
Editora: 34
224 pag.

Tradução de Heloísa Costa Milton e Antonio R. Esteves






Ainda que o mercado editorial brasileiro coloque mensalmente nas prateleiras uma quantidade razoável de livros, basta um olhar mais apurado para observar diversas lacunas.

Autores consagrados cujas obras estão esgotadas há tempos, outros que possuem apenas sua obra máxima publicada – quando sua vasta literatura é rica – e alguns que demoram anos, anos, para desembarcar no país.

Publicado no século XVI, aproximadamente em 1554, Lazarilho de Tormes é considerada uma das obras fundamentais da literatura universal e um marco na literatura picaresca – o pícaro, figura originada do termo, é um personagem sempre astucioso que consegue se dar bem em diversas situações por conta de seus ardis. Popularmente, seria nossa figura mítica do malandro. Talvez eu nunca teria contato com a obra – ou teria um contato tardio – se não tivesse estudado a literatura espanhola.

Escrita de maneira anônima, em uma época que criticar os costumes e assinar em baixo levava a morte, a narrativa conta a história de um andarilho, que dialoga diretamente com o leitor, em forma de cartas, contando seus infortúnios e adversidades.

O texto relembra a infância da personagem e pontua-se por situações que o narrador acha importante, apresentando, assim, diversas caricaturas da sociedade da época, apontando seus vícios e hipocrisias. Nada é o que parece, criando um panorama de aparências.

Fazendo-se de vítima a maior parte da narrativa, a personagem central exprime seu desejo de subir da vida. Não de maneira normal e honesta, mas sim como uma típica personagem picaresca: seguindo sua malícia e malandragem.

Tratando-se de uma obra proibida em sua época, o que se tem hoje de Lazarillo de Tormes, formando a base da publicação contemporânea, são quatro edições distintas, cuja primeira edição data de 1554. Uma dessas edições, curiosamente, foi encontrada apenas em 1992, escondida entre duas paredes e muito bem conservada.

A edição desta resenha é a melhor publicada no país. O cuidado realizado pela Editora 34 é notável, apresentando a obra original ao lado da tradução. Não bastando isso, há um bom texto introdutório sobre a obra, explicando qual foi o texto utilizado como base para a tradução e, quando há discrepâncias entre o texto seguido e outro original, há inserções feitas no rodapé. E ainda um texto crítico ao final da obra.

Há outras edições publicadas no país, inclusive com preço mais acessível, de bolso. Porém, levando em conta os diversos originais que a obra pode se basear e a complicada tradução do espanhol arcaico, vale a pena investir nessa edição, a altura dessa obra clássica.

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