domingo, 28 de fevereiro de 2010

Lazarilho De Tormes, Anônimo


"Eu tenho por bem que coisas tão assinaladas, e por ventura nunca ouvidas nem vistas, cheguem ao conhecimento de muitos e não se enterrem na sepultura do esquecimento, pois pode ser que alguém que as leis nelas encontre algo que lhe agrade, e àqueles que não se aprofundarem muito, que os deleite. A esse propósito diz Plínio que não há livro, por pior que seja, que não tenha alguma coisa boa."

Anônimo
Editora: 34
224 pag.

Tradução de Heloísa Costa Milton e Antonio R. Esteves






Ainda que o mercado editorial brasileiro coloque mensalmente nas prateleiras uma quantidade razoável de livros, basta um olhar mais apurado para observar diversas lacunas.

Autores consagrados cujas obras estão esgotadas há tempos, outros que possuem apenas sua obra máxima publicada – quando sua vasta literatura é rica – e alguns que demoram anos, anos, para desembarcar no país.

Publicado no século XVI, aproximadamente em 1554, Lazarilho de Tormes é considerada uma das obras fundamentais da literatura universal e um marco na literatura picaresca – o pícaro, figura originada do termo, é um personagem sempre astucioso que consegue se dar bem em diversas situações por conta de seus ardis. Popularmente, seria nossa figura mítica do malandro. Talvez eu nunca teria contato com a obra – ou teria um contato tardio – se não tivesse estudado a literatura espanhola.

Escrita de maneira anônima, em uma época que criticar os costumes e assinar em baixo levava a morte, a narrativa conta a história de um andarilho, que dialoga diretamente com o leitor, em forma de cartas, contando seus infortúnios e adversidades.

O texto relembra a infância da personagem e pontua-se por situações que o narrador acha importante, apresentando, assim, diversas caricaturas da sociedade da época, apontando seus vícios e hipocrisias. Nada é o que parece, criando um panorama de aparências.

Fazendo-se de vítima a maior parte da narrativa, a personagem central exprime seu desejo de subir da vida. Não de maneira normal e honesta, mas sim como uma típica personagem picaresca: seguindo sua malícia e malandragem.

Tratando-se de uma obra proibida em sua época, o que se tem hoje de Lazarillo de Tormes, formando a base da publicação contemporânea, são quatro edições distintas, cuja primeira edição data de 1554. Uma dessas edições, curiosamente, foi encontrada apenas em 1992, escondida entre duas paredes e muito bem conservada.

A edição desta resenha é a melhor publicada no país. O cuidado realizado pela Editora 34 é notável, apresentando a obra original ao lado da tradução. Não bastando isso, há um bom texto introdutório sobre a obra, explicando qual foi o texto utilizado como base para a tradução e, quando há discrepâncias entre o texto seguido e outro original, há inserções feitas no rodapé. E ainda um texto crítico ao final da obra.

Há outras edições publicadas no país, inclusive com preço mais acessível, de bolso. Porém, levando em conta os diversos originais que a obra pode se basear e a complicada tradução do espanhol arcaico, vale a pena investir nessa edição, a altura dessa obra clássica.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Alta Fidelidade: Trabalhando Em Um Sonho


Normalmente, tenho dedicado o espaço dessa coluna, algo que me dá imenso prazer em produzir, a comentários e exposições filosóficas voltadas a cultura em geral. Porém, certas vezes, ao imaginar argumentos para preenchê-la, é impossível não ser invadido por memórias e lembranças.

Um único momento é capaz de ser a fagulha para um longo texto, um despertar de sensações imateriais guardadas na memória. Refletir sobre esse aspecto é arenoso. Descuidar-se momentaneamente transforma um bom texto em bobagem reflexiva com abstração demais e conteúdo de menos.

Assim, é difícil, pela primeira vez, questionar um conceito que todos carregam em si, mas que, muitas vezes, é um fragmento mais frágil que a memória. A idéia dos sonhos. E entendam nessa palavra como a tradução daquilo que desejamos e planejamos durante muito tempo para nós.

A imagem da criança fazendo rabiscos com lápis de cor em um papel em branco, dizendo que tal desenho é o desejo de seu futuro, é bastante comum. Fazemos isso quando crianças e expomos sonhos inocentes. A maneira que crescemos, ou deixamos que os sonhos sejam limados ou jogamos os dados, apostando em uma intuição, aparentemente mais cara, mas que, se realizada, será mais plena.

Lembro-me de uma frase do compositor Paulinho Moska afirmando que “sonhos são como deuses, quando não se acredita neles deixam de existir”. Assim, observo que mesmo aqueles que estão longe de seus sonhos, guardam-nos em uma pequena caixa, com medo de que eles deixem de existir.

Dizem que a impulsividade dos sonhos é inversa a sensação de conforto. Sabemos que, quando expostos a um perigo, nossa reação primordial é se esconder, ficar a margem de um apoio. É assim com a matéria dos sonhos. O preço para realizá-los é alto, nunca é de graça, é necessário um trabalho extenso. Quando realizado, a mais valia é impossível de ser descrita.

Estamos em uma época em que vivemos a margem de caminhos. Opções de escolha não faltam, e isso observo com atenção nas pessoas que me cercam. Muitas vezes, vejo-os optando pelas alternativas mais confortáveis, mesmo que eu saiba que, internamente, as escolhas não seriam essas. Que os tais sonhos estão amassados em algum papel, jogados dentro de alguma gaveta na escrivaninha.

Dentro de minha mochila carrego sempre um amontoado de papéis. Alguns são rabiscos e outros são idéias completas que começo a concretizar. Estou trabalhando em meus sonhos. E a corda bamba que eles podem gerar, sem saber se serão sucesso ou fracasso é deveras assustadora. Mas, se eu os negasse, seria como se parte de mim vivesse sem expressão.

Sei que tais palavras soam bastante banais. Mas só recentemente descobri que, tratando-se da construção de nossos sonhos, somente nós somos capazes de fazê-los. O apoio de outros sempre tem limites.

Quando isso acontecer, tranque-se em seu quarto, pegue folhas em branco e deixe suas idéias te guiarem. Não importa quão impossíveis seus sonhos possam parecer, a construção é que define tudo, no final. Acrescidas daquela sensação indefinível chamada intuição.

O título que completa esse texto foi retirado de um álbum do cantor Bruce Springsteen, lançado ano passado, seu décimo sexto álbum em estúdio, Working On a Dream. Me impressiona que aos cinqüenta anos de idade, com meio século de vida, e uma carreira incrível e estável, o compositor ainda conceda espaço para trabalhar seus sonhos. Que mesmo atingido o que muitos chamam de completude da vida, ainda é inquieto e almeja mais, construções maiores.

Hoje, tenho a consciência de meus desejos e, aos poucos, nascem forças para realizá-los. Como Sprinsteen, estou trabalhando em um sonho. E, quando crescer, quero ser como ele. Alguém que nunca para e sempre encontra mágica no ar mesmo quando ao seu redor não há nenhum rítmo.


Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog que tem trabalhado em seus sonhos como nunca. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana, sobre nossos sonhos.

Semana que vem a coluna cede espaço para a coluna Preliminar, com uma avaliação sobre o que esperar de uma grande estréia cinematográfica.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Semana em Filmes (14 a 20 de Fevereiro)

Dorian Gray (Dorian Gray)

Dir. Oliver Park


Pelo que posso me lembrar mentalmente, sem nenhuma consulta a alguma base de dados cinematográfica, há um filme baseado no romance de Oscar Wilde, de data bem antiga que tenta, de fato, realizar uma adaptação no máximo de sua plenitude.
Já cheguei a ver nas locadoras um filme B, de Terror, com o tema, mas nunca tive coragem de assistir. E fiquei levemente esperançoso quando vi rumores dessa adaptação, que parecia envolver atores sérios e uma idéia concreta sobre o conceito do livro.
Vale ressaltar que O Retrato de Dorian Gray é um dos meus livros preferidos. Assisti-lo em uma adaptação decente seria interessante, porém, infelizmente, mais uma vez não é o caso.
Além da escolha duvidosa do protagonista, Ben Barnes, que tem no currículo o segundo filme de Narnia como o príncipe Caspian, o roteiro da produção ainda que siga boa parte do livro de Wilde, transforma-o radicalmente.
Apenas a ambientação mantêm-se bastante fiel. Tratando-se das personagens, não só a personagem título foi alterada como deturparam sua relação com o Lord Henry Wotton, interpretado pelo sempre competente Collin Firth, mas que nessa produção não deu o tom certo a personagem famosa.
A parte disso, tive a impressão de que a escolha para o envelhecimento do quadro de Dorian Gray fora a mais ridícula possível. Com efeitos mal feitos de envelhecimento e apodrecimento que, toda vez que aparecia em tela, ficava mais envelhecido.
É notável que a produção não funcionou. Já que foi lançado em 2009 e não trouxe nenhum resultado, nem mesmo ganhou estréia no Brasil e, até hoje, nem distribuidora em vídeo possui. Fica aquela esperança de um apaixonado pelo livro de que uma adaptação a altura do original possa ser produzida um dia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Agosto, Rubem Fonseca

O porteiro da noite do edifício Deauville ouviu o ruído dos passos furtivos descendo as escadas. Era uma hora da madrugada e o prédio estava em silêncio.
"Então, Raimundo?"
"Vamos esperar um pouco", respondeu o porteiro.
"Não vai chegar mais ninguém. Já está todo mundo dormindo."
"Mais uma hora."
"Amanhã tenho que acordar cedo."
O porteiro foi até a porta de vidro e olhou a rua vazia e silenciosa.
"Está bem. Mas não posso demorar muito."

Autor: Rubem Fonseca
Editora: Agir
368 páginas





Lançado originalmente em 1990, Agosto, quarto romance do recluso escritor Rubem Fonseca, décimo livro de sua carreira, se transformaria em uma das ficções chave para, não só compreender o autor, como para estudar uma das vertentes que segue a literatura contemporânea brasileira.

O motivo de sua importância não reside, apenas, no fato de que a obra retoma um dos momentos históricos mais intensos e sensíveis do Brasil: o mês de Agosto de 1954 e os trâmites políticos que culminaram no suicídio do presidente Getúlio Vargas. Mas também porque através de um intenso pano de fundo, Fonseca desenvolve sua narrativa peculiar e traz a tona personagens de seu universo e uma trama policial paralela ao acontecimento político.

Tem-se, assim, dois focos narrativos distintos. A história oficial, que pode ser aprofundada em livros específicos sobre a história do Brasil e a mescla ficcional, centrada em um assassinato investigado pelo comissário Mattos, grande personagem do autor, que se desdobra entre os nós de sua vida, seu estômago precário e a crise da política, para tentar solucionar um crime que, aparentemente, não interessa a ninguém.

Fonseca é preciso ao descrever a situação política do país. Situa os leitores através de datas, depoimentos extraídos de jornais e desenvolve o momento histórico, onde se incluem diálogos diretos e narrativa onisciente, com bastante cuidado. Para não trair as figuras históricas.

Porém, boa parte do charme da narrativa nasce na parte ficcional. É nela que o autor cria a ambientação e as personagens que o consagraram. Pessoas comuns, com diversas partículas de miséria e dor, presas por uma teia apodrecida, conceitos habituais de uma narrativa policial.

Seu estilo hiper-mimético, de descrição profunda e brutal da realidade, se reduz nesse romance. Mas não há a perda de sua narrativa de foco cinematográfico, com diversos cortes abruptos de quebra temporal. Narrando apenas aquilo que é estritamente necessário.

Com bom apoio histórico e multi-facetadas figuras ficcionais, que se alternam no decorrer da trama, a fluidez da narrativa é constante. Demonstrando a capacidade narrativa de Fonseca que, além de ser certo divisor em nossa narrativa atual, já possui seguidores.

Descontente com o descaso que a editora Companhia das Letras teve com a divulgação de seus últimos livro, o autor recentemente estreou na Editora Agir com o inédito O Seminarista. A editora também vem relançando seus livros, com um novo – e belo – projeto gráfico. Ao lado de Agosto, já estão disponíveis Os Prisioneiros, A Coleira do Cão e Lucia McCartney, respectivamente os três primeiros do autor.

Se a editora prosseguir com o bom trabalho e mantiver o lançamento cronológico, um dos próximos lançamentos será o incrível O Caso Morel, o romance de Fonseca que mais estimo.

O relançamento de uma obra não só conquista novos leitores, que acompanham a evolução estilística do autor, como reconquista os antigos que, ou completam sua coleção, ou acabam por reinicia-la. Assim, ao invés de se ter uma obra entrecortada por editoras, tem-se um bibliográfica mais sólida, que deixa as amarras de editoras passadas para trás.

Agosto também se transformou em minissérie Global, com Jose Mayer, Vera Fisher e Letícia Sabatella no elenco. A produção está disponível em dvd. Uma oportunidade dupla de ler a obra original e seguir para sua fiel reprodução na televisão.



sábado, 20 de fevereiro de 2010

Alta Fidelidade: Um Homem e Seus Livros


ao prazer da leitura



A relação entre escritores e a vasta literatura dos livros é um elo bastante intrínseco. Há diversas frases famosas e célebres que contemplam essa afirmação. Muitas vezes, deslocadas de seus contextos, tais citações chegam a se tornar censo comum, impresso em revistas e em qualquer local que queira dar a evidente importância a esse artefato tão múltiplo quanto o livro.

Exemplos de palavras belas não faltam. Monteiro Lobato, nosso literato mais conhecido pela faceta juvenil e pela sobrancelha grossa, afirmou que um país se faz com homens e livros. Já o argentino Jorge Luis Borges, que terminou sua vida cego, definiu-os como uma extensão da memória e da imaginação.

É bastante evidente que os livros fazem parte da vida de qualquer pessoa. Aqueles que ainda não aprenderam o alfabeto, os admiram pelas capas ou a procura de figuras. E, conforme somos apresentados as letras, as frases se aumentam, as páginas perdem os desenhos e as palavras ganham complexidade. Ou amamos os livros ou deixamo-os.

Aos que se apaixonam por tal ofício, sempre aberto ao que uma leitura pode proporcionar, é comum, com o tempo, adquirir sua lista pessoal de favoritos. Livros que, muitas vezes, são comprados até em duplicada por causa de uma edição especial ou de uma nova tradução. Histórias que forão lidas e que tocaram de tal forma que geram uma releitura quase que obrigatória. Dando novas visões da mesma idéia e aquela sensação única de levar um soco no estômago.

Não me recordo de quando escolhi uma estante para ser aquela destinada a livros e nem quando de um, se tornaram dez, que viraram cem. Tenho a vaga sensação que a idéia de ler surgiu na mesma época de escrever ficções e rabiscar poemas. Uma ação levou a outra facilmente.

A leitura me manteve mais inspirado e compor narrativas me dava gosto por ler mais. Ainda que eu, durante esse tempo, sempre tenha sido uma ovelha um tanto desgarrada da leitura. Tenho momentos intensos em que devoro livros e outros em que passo meses com poucas linhas.

Porém, nunca estive tão admirado com a força dos livros como estou quanto hoje. Meu campo de leitura é bastante variado. Alterno ficções, biografias, livros técnicos, lidos de maneira diferente mas, normalmente, com o mesmo prazer. Tirando aquela lista de leitura que sempre aumenta por conta de suas andanças pelas livrarias e por indicações de amigos.

O fato é que até hoje embora tenha lido muito livros, nunca fui capaz de reler nenhum. Nunca senti aquela sensação de rever um velho amigo e saber que, mesmo aparentemente igual, ele guardava idéias que eu, ainda, não tinha observado.

Por um lado tal idéia me dá orgulho, mas por outro é bastante besta de minha parte. E causa certa comoção nos amigos que leram milhares de vezes seus livros preferidos – aqueles que figuram na lista de melhores livros que li – e ficam surpresos que nunca reli os meus melhores.

Eis que fiz uma breve reflexão sobre isso e conclui que estou pronto. Pronto para, novamente, encarar aquelas leituras que me deixaram de outra maneira, diferente de quando entrei. Livros que tenho frases guardadas na cabeça, usando-os como citação, filosofia de vida e que chegam a arrepiar quando imaginamos a imensidão da história perante nossa pequeneza.

O impulso da releitura não surgiu a tona. A partir da próxima semana, abro um espaço definitivo para a publicação de análises literárias no blog, espaço que surgia de vez em quando mas que é necessário ser definitivo.

Além de ser argumento válido para sempre estar com um livro na mão, tenho mais uma razão para reler os favoritos, minha lista de melhores. Títulos que agora compartilho com vocês, não por ordem de melhor ou preferência. Mas pela cronologia de leitura, do que posso me lembrar. Aqueles que foram definitivos, guardados com muito carinho. Sendo um marco, tornando-se fragmento de idéias que me moldaram ou dando vazão a sentimentos, impressões e estilos literários.


A Confraria (John Grisham); Rios Vermelhos (Jean-Christophe Grange); Alta Fidelidade (Nick Hornby); O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde); Lolita (Vladimir Nabokov); O Grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald); Dom Casmurro (Machado de Assis); Sonhos do Bunker Hill e Pergunte Ao Pó (John Fante); A Insustentável Leveza Do Ser (Milan Kundera); O Silêncio da Chuva (Luiz Alfredo Garcia-Roza); O Caso Morel (Rubem Fonseca); Dalia Negra (James Ellroy); Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marquez); Hamlet (William Shakespeare); Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão (Hilda Hilst).



Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog cuja pilha de livros a ler aumenta a cada dia. Aqui é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa semana, sobre aqueles livros que se tornam especial para nós.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Lie To Me, Primeira Temporada

Ele enxerga a verdade. Está escrito em nossos rostos.

É definitivo que uma das ramificações das séries televisivas americanas se preocupam em descobrir a verdade. Normalmente com um foco detetivesco, a maneira como a verdade relativa é exposta depende muito do seu criador. As séries C.S.I. trabalham a pesquisa forense como um âmbito geral, Bones da Fox centra-se mais em análises que partem dos ossos de suas vítimas e até mesmo a série médica House M.D. bebe na fonte de um certo desvendar de pistas para solucionar seus casos.

Nascida no mid-season americano, quando muitas séries estão no meio de sua temporada e, normalmente de férias, a premissa de Lie To Me (que no Brasil ganhou em dvd o título de Engana-Me Se Puder) pode parecer comum, mas alem de interessante, sustenta-se nos treze episódios dessa temporada.

Seguindo certo costume do gênero, a base que inspirou o argumento é real, e foca-se nos estudos do psicólogo Paul Ekman (na série Cal Lightman), um pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais.

Como papel principal está Tim Roth, um excepcional ator que tem pouco apelo nos cinemas, e que, como diversos outros atores, encontra seu destaque na televisão. A personagem do psicólogo especialista em micro expressões faciais cai perfeitamente para um ator que sempre trabalha minuciosamente suas interpretações.

A série se desenvolve nas bases do gênero. Cal Lightman é dono da empresa The Lightman Group, e sempre é procurado por especialistas de todo o tipo para ajudar em casos onde há poucos suspeitos e uma avaliação mais criteriosa do mesmo é necessária. Por possuir uma equipe ao seu redor, normalmente a ação se divide em duas, uma trama central, apresentada antes da abertura, e uma paralela, desenvolvida pelos seus parceiros.

Pelo estudo das expressões faciais serem específicos, os primeiros episódios da série são bem didáticos, acostumando o público com o conceito básico do estudo, para que nos outros episódios não seja apontado sempre o que ocorre nas cenas. Assim, a dinâmica dos episódios flui bem e, quando parece desengatar, surge um gancho que acrescenta mais estilo ao grupo de Lightman.

Uma interessante série que mesmo utilizando o paradigmas do gênero, desenvolve bem a máxima de que é possível encontrar a verdade quando há olhares atentos, ainda mais envolvendo micro-expressões faciais que, normalmente, são difíceis de serem dominadas pelos mentirosos.

A série ganhou uma segunda temporada e dessa vez completa. Está atualmente sendo exibida, mas, como outras séries, está em recesso. No Brasil a série está no canal Fox e sua primeira temporada passou com oito meses de atraso. Não é necessário enfatizar o descaso das televisões a cabo brasileiras que quase incentivam o público a procurarem por downloads antes da exibição oficial da série.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Desperate Housewives, Primeira Temporada

A perfeição da família americana

Quem julga um livro pela capa pode imaginar que Desesperate Housewives seja uma história voltada ao público feminino, sobre donas de casa histéricas, repleto de melodrama sem profundidade.

Porém, basta assistir ao episódio piloto da série para notar que tal história é não só profunda, como bastante coesa, trabalhando com diversas narrativas. Tanto as explicitas, dividas entre as personagens, como as implícitas que são feitas para que o público reflita e que funciona para corroer a idéia de um bairro perfeito.

A história se passa em Wisteria Lane, na ficcional Fairview, narrada pela onipresente Mary Alice Young. Uma dona de casa aparentemente comum que se suicida, abalando não só a comunidade como suas quatro amigas Bree Van De Kamp, Lynette Scavo, Gabrielle Solis e Susan Mayer.

Esse é o ponto de partida para a série criada por Marc Foster mostrar a imagem da sociedade americana e de sua aparente sensação de perfeição que, como narrada pela dona de casa suicida, não é tão perfeita assim.

A concepção do enredo, de acordo com o próprio autor, teve inspiração em sua mãe. Assistindo uma reportagem policial sobre uma mãe que assinara seus filhos, ambos questionaram até que ponto a maternidade pesa em uma pessoa e o quão desesperado pode uma mulher ficar. Tal acontecimento foi o ponto de inicio para Foster produzir a série.

A produção do roteiro é altamente elaborada. Sua história baseia-se em quatro personagens principais, tendo a necessidade de desenvolver sempre quatro tramas distintas, além de outras narrativas que surgem em e concluem-se em poucos episódios.

Muitas vezes, nas palavras dos próprios atores, cenas eram mudadas no dia das gravações. Ensaios e filmagem oficial eram feitos no mesmo dia. Tal problemática não se percebe no decorrer dos episódios, que são bem amarrados e personagens e histórias bem delineadas.

As personagens principais tem a intenção de representar tipos suburbanos comuns. A esposa que oprime o resto da família à procura da perfeição aparente, a mãe dedicada que abdicou de sua carreira para criar os filhos, a recém casada que usufrui de boa vida pelo dinheiro do marido e a mãe solteira que não foi capaz de superar o divórcio com o ex-marido.

Tais personagens são fantásticas dentro do universo da série que não tem medo de criar rupturas para desenvolver tensões dramáticas. Sabendo equilibrar bem os momentos em que a ironia cômica e corrosiva predomina e cenas em que a tensão dramática é o fio condutor.

A série é transmitida desde 2004 e está em sua sexta temporada. Teve 15 indicações para o Emmy Awards em 2005, ganhando 6 delas. Em 2006, obteve indicações principalmente nas categorias técnicas.

Também ganhou versões na Argentina e até mesmo uma malfadada versão brasileira.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

[Download] House, Sexta Temporada, 5 to 9 - 06x14

Mais um episódio inédito em seqüencia.

Devido ao meu atraso na postagem desse, já segue o link com o episódio legendado e, para aqueles que preferem baixar em torrent, o torrent em .avi.

Lembrando a todos que as resenhas dos episódios são postadas as sextas-feira, é o tempo para ver o episódio e analisar. Portanto, não deixe de passar novamente na sexta por aqui.




5 to 9 - 6x14
Exibido em 08/02/2010

[RMVB] Legendado
[Torrent] - Sem Legenda


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Semana Em Filmes: (31 de Janeiro a 06 de Fevereiro)

Michael Jackson: This is It - Ed. Especial [Duplo] (Michael Jackson´s This Is It)

Dir. Kenny Ortega


Por conta da resenha feita recentemente sobre o documentário logo em seu lançamento, achei importante destacar, nessa segunda análise, as características extras do dvd da produção.
Porém, ainda é necessário dizer que, mesmo em uma segunda assistida, os ensaios daquilo que seria o maior show de Michael Jackson não perdem seu charme e sua força. Continuam sendo um bom material de despedida de um grande astro.
Como anunciado pelo seu diretor, Kenny Ortega, o dvd da produção é recheado com extras. Há duas edições no Brasil em Dvd: simples e dupla. O melhor conteúdo extra se concentra no próprio dvd do filme, traz depoimentos filmados com a banda após a morte do astro e com diversos outros produtores, que não apareceram no longa, explicando como seria o show.
Dessa maneira, é possível observar melhor como os vídeos se integrariam as apresentações ao vivo e também conhecer partes outrora desconhecidas, como a apresentação de todos os figurinos já prontos. Tudo leva a apenas uma afirmação: foi, de fato, uma pena que tal show não tenha sido realizado, conforme assistimos os featurettes das produções percebemos o quanto tudo estava quase pronto.
No segundo disco, temos apenas três extras, que somam 50 minutos. Um sobre os músicos, outro sobre os dançarinos e outro sobre os cantores. Neles diretor, produtor musical, e afins, discorrem rapidamente sobre o talento de cada um que participou dessa jornada.
De fato, o sumo dos extras concentra-se no primeiro disco, portanto se você está na dúvida em qual das duas versões comprar, fica a dica, o tal segundo disco tais apenas os três featurettes acima que totalizam 50 minutos. Se você é fã suficiente para assistir tudo que foi produzido para esse longa, compre sem dúvida. Mas se quer economizar um pouco, opte pelo dvd simples que não estará perdendo muito.




O Fim da Escuridão (Edge Of Darkness)

Dir. Martin Campbell


Tempos longe da frente das câmeras, dirigindo filmes polêmicos, o bom Mel Gibson está de voltas as telas. Se o ator não tivesse dedicado seus últimos anos a sua produções e a declarações polêmicas, é provável que ele ainda seria um astro de grande calibre na industria. Seu carisma e sua competência como ator são altas e seus filmes sempre geraram boas bilheterias.
O Fim da Escuridão, baseado em uma série da BBC de 1995, é, em um breve resumo, um filme sobre vingança. Algo comum na carreira cinematográfica do ator. Pai policial vê o assassinato da filha e busca justiça com as próprias mãos. Porém, conforme investiga a vida de sua garota, começa a descobrir verdades desconhecidas e são esses argumentos que acabam por deixar a trama morna e parada.
Com o intuito de trazer uma justificativa para a morte, além de uma simples vingança ou traição, o longa passa boa parte de seu tempo criando tensões dramáticas que terminam sem solução. A ação – o velho Mel Gibson mostrando que ainda mete medo dando golpes e com uma arma na mão – só acontece no meio da produção, quando a história já está frouxa.
Faltou uma escolha dos roteiristas entre fechar o filme com um foco devidamente dramático ou como uma história policial mais centrada na ação. A dosagem estabelecida pelo filme, não lhe foi favorável. Nem mesmo a direção do competente Martin Campbell, que recriou a franquia 007 em 007 – Cassino Royale produz algum efeito.
Sim, é bom ter Mel Gibson de volta. Mas fica a expectativa que ele esteja em melhores produções no futuro.




Premonição 4 (The Final Destination)

Dir. David R. Elllis


Talvez depois da franquia Jogos Mortais, Premonição seja o único outro filme de terror que tenha feito sucesso ao ponto de gerar continuações. Aparentemente, essa é a última, a começar pelo título americano The Final Destination (que pelo The insinua-se como A última premonição) e pela fórmula desgastada.
O único aditivo nessa continuação é o uso da tecnologia em terceira dimensão para dar algo de novo ao público.
Mas por se tratar de uma produção de terror, todos os efeitos mal definidos são propositais. Assim, quando um personagem abre uma garrafa de champanhe, sua rolha pula na tela, bem como algumas mortes são mais explicitas por conta desse efeito especial.
Quem não se lembra do mote da franquia, a história se resume em um grupo de amigos em que alguém tem uma visão premonitória de um grande acidente aonde estão. Quando tal grupo foge, ao lado de outros que se desesperam para salvar suas vidas de um possível atentado, a morte começa a matá-los um a um nas mortes mais inusitadas.
Se em seus outros filmes ainda havia o raciocínio das personagens em compreenderem como funcionava a mecânica das premonições, a perseguição da morte seguindo a ordem de quem morreria, aqui eles recorrem ao bom e velho Google para compreender o que vêem ocorrendo.
E todas as personagens estão lá, o descolado que desde o início não acredita, a garota que apóia o namorado, a amiga da garota que em certo momento que viver a vida sem ficar presa a isso.
Para alguns pode até ser o primeiro filme 3D visto nos cinemas e acabe marcando por isso. De resto, mais uma continuação sem valor.

Pecado Original (Original Sin)

Dir. Michael Cristofer


Recentemente, revisei três filmes de Angelina Jolie que assisti há tempos. De certa maneira, tentei compreender de onde viria o sucesso astronômico da atriz se suas produções, muitas vezes, nem possuem um nível bom na qualidade.
Ao menos aqui a atriz possui competência em seu papel. Apesar do intenso melodrama de Pecado Original, ao lado de Antonio Bandeira, a atriz transforma a história em algo verossímil em suas devidas proporções.
A trama se passa em Cuba, a ambientação que dá o aval para que a história torne-se mais turbulenta, que a paixão vivida pelo casal central seja violenta, repleto desse frisson amoroso que possuem não só os espanhóis como diversos países da língua (ainda que no filme se fale em inglês).
O sumido Antonio Bandeiras é Antonio Vargas, um rico comerciante de café que resolve se casar com uma moça que conhece apenas por cartas. Logo após a chegada de sua futura esposa, descobre que ela é uma impostora e, além do embate carnal que explica o título, fica obcecado e apaixonado pela moça de qualquer maneira.
Ainda que, como dito, a história seja repleta de uma veia melodramática, e isso tem que ser entendido para não achar a trama piegas, sua história flui bem. A dupla central de atores possui bastante carisma o que resulta em uma produção interessante, ainda que bastante ingênua e simples.
A produção é uma regravação de Sereia do Mississipi, filme de Truffaut com Catherine Deneuve. Embora ainda não tenha visto tal filme, é de se imaginar pelo diretor e pela atriz principal que é superior a esse.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Metallica, World Magnetic Tour, 30 de Janeiro, Morumbi - São Paulo

O texto em questão refere-se a apresentação de 30 de Janeiro, as 21h30, no estádio do Morumbi em São Paulo.



Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
The Four Horsemen
Harvester Of Sorrow
Fade To Black
That Was Just Your Life
The End Of The Line
The Day That Never Comes
Sad But True
Broken, Beat and Scarred
One
Master Of Puppets
Blackened
Nothing Else Matters
Enter Sandman
- - - - - - - -
Stone Cold Crazy
Motorbreath
Seek and Destroy






Quando, por fim, as luzes do estádio do Morumbi se apagaram, eram poucos os minutos de atraso em relação a hora oficial do show. Clint Eastwood aparecia nos telões colocados ao lado do grande palco, ainda jovem, em sua fase western que marcou seu estrelado. Guiados apenas pela música e pelas imagens do telão, o público entoava o coro de the Ecstasy Of Gold, canção composta pelo grande Ennio Morricone, como parte da trilha do filme Três Homens em Conflito de Sergio Leone.

Tal canção abre o disco ao vivo S&M do grupo. Mesmo que muitos desconheçam a origem da homenagem realizada pela banda, o requinte da abertura é inegável. É o primeiro ato da primeira noite histórica do Metallica no Morumbi.

Após uma turnê cancelada do conturbado disco St. Anger, não realizada por nítidos problemas da banda, pela primeira vez a nova formação do Metallica desembarca ao Brasil e apresenta a turnê World Magnetic com três shows. Um deles em Porto Alegre e dois na cidade de São Paulo.

A expectativa em torno dos shows fora bastante carregada. Ao começar pelo álbum que a originou, Death Magnetic, responsável por trazer a sonoridade perdida da banda e reaproximar fãs que estavam afastados do grupo devido a diversos problemas. Desde aqueles que reclamaram de uma sonoridade mais suave nos últimos álbuns, aos que não gostaram na luta contra os próprios fãs e os downloads ilegais que culminou em um álbum que refletia toda a desarmonia interna do grupo.

Como promete a cartilha de shows internacionais realizados no país, centavos não foram poupados para apresentar um show único. Desejo da própria banda que, nas palavras de James Hetfield, tinha como objetivo, naquela noite, trazer diversão e deixar o público melhor do que quando entraram.

O som é testado em exagero pela produção antes de sua realização, e tal esmero é refletido na hora do espetáculo. Parte das luzes, que iluminam os músicos diretamente, são comandadas manualmente por especialistas que permancem o show todo presos no alto. E o palco ganha um estilo a mais com microfones não usuais, que imitam os microfones da era do rádio. Além de diversos efeitos como fogos de artifício, explosões e efeitos sonoros que contribuem para que o preço salgado do ingresso – comentado na coluna Alta Fidelidade no texto Vale Quanto Pesa – compense a noite.

Em recente entrevista, o grupo afirmou que hoje são melhores músicos que anteriormente. Por ser meu primeiro show ao vivo da banda, não tenho nada a reclamar. O quarteto mantém sua magnitude musical e seu carisma perante ao gigantesco público presente.

O show da tunê World Magnetic é pautado nos melhores momentos do Metallica. Canções mais recentes foram deixadas de lado, provavelmente para evitar atrito com fãs mais severos, dando atenção para os clássicos e o disco novo. O set list da primeira noite, exposto acima, resgatou canções antigas, apresentou as novas do ótimo novo álbum, e foram, sem exceção, bem acompanhada pelo público.

No palco a banda é exemplar. A sonoridade é rica, dando o peso certo para as canções e demonstrando que os músicos ainda estão em forma, apesar de serem quarentões ou mais. James Hetfield mantém a todo tempo a interação com o público. Pede sua energia, arrisca palavras em português – em um forte sotaque diz “Estão prontos?” – e faz perguntas sobre o gosto do público sobre o novo cd e sobre o andamento do show.

Nesse ponto, até mesmo aquele fã que prefira os discos mais antigos não pode negar sua empolgação quando, após Nothing Else Matters, Hetfield deixa ecoar o som da guitarra e, de costas para o público, executa as primeiras notas de Enter Sandman, a última faixa antes do bis, que leva o estádio a loucura.

Quem acompanhou as notícias sobre a crise da banda, e ainda viu o excelente documentário Some Kind Od Monster, sabe que o quarteto teve momentos bastante turbulentos. Não só a perda de um integrante da banda, como brigas internas e embates contra os próprios vícios.

Em um determinado momento, Hetfield amplia seu discurso. Agradece a presença de todos, explicita a intenção da banda de deixar todos, no final da noite, bem mais animados do que quando chegaram, e agradece todos os fãs que, mesmo nesses anos anteriores, de grande turbulência, estavam presentes dando o apoio necessário para o grupo. Apoio que hoje reflete-se em um momento bastante positivo. Mostrando que o público é uma grande força a uma banda.

E ali, em meio a 68 mil pessoas, por alguns minutos realiza-se uma terapia em grupo, apoiada por gritos, urros e aplausos ao coro de “Metallica” vindo dos fãs. E, assim, nascem os próximos acordes das guitarras de Hetfield, Kirk Hammett, do baixo de Robert Trujillo e da bateira de Lars Ulrich.




Registro

A turne World Magnetic vem sendo registrada oficialmente em aúdio e vendida no site da banda e os três shows do Brasil já estão disponíveis em mp3 para compra. Evidente que a essa altura, já há por ai sites que disponibilizam de maneira gratuíta o album. Nenhum link ficará disponível aqui, mas eis o aviso.


Fotos

As fotos que estão nesse texto, bem como as do album linkado, foram tiradas pelo autor do blog com todos diretos reservado. Qualquer um que queira copiá-las para publicá-las em outros sites, por favor, apenas avise o autor. Obrigado.