sábado, 9 de janeiro de 2010

Alta Fidelidade: A Diferença Entre o Crítico e o Idiota



O crítico musical Mauro Ferreira, que considero um dos melhores críticos do ramo - por sempre ser cuidadoso ao analisar os discos em suas críticas - tem no perfil de seu blog uma frase que condensa a definição do que é ser apaixonado por alguma das artes e tentar escrever ao seu respeito: “acredita no ofício de escrever racionalmente sobre a mais emocional das formas de arte”.

A citação do crítico, não só é bastante pontual, como ganha minhas palavras de aprovação. Sou apaixonado por diversos tipos de arte: escuto com muito prazer diversos gêneros musicais. Raramente vou ao teatro, mas quando vou tenho um choque súbito. E quanto aos meus talentos, como muitos, toco algumas canções no violão, um dos meus sonhos quando mais novo. E, recentemente, comecei a ter aulas de piano, talvez contagiado pela idéia de um de meus ídolos maiores, como Paul McCartney, um multi talentoso músico e compositor.

Talvez nada seja mais subjetivo do que composições clássicas e ritmos e canções contemporâneas que formam sua música apenas com instrumentos, sem voz nenhuma. Meu professor de piano, que se apresenta pelo interior de São Paulo, por mais de uma vez, me disse que a função do músico é executar bem a peça. Conhece-la intimamente ao ponto de imprimir, também, sua marca, seu estilo na composição. De outra forma, ela fica sem expressão, mecânica. Cabendo ao público interpretá-la.

Porém, é impossível prever a reação da platéia que, atenta, escuta a execução da obra. Já que cada um daqueles indivíduos tiveram um dia diferente. Um espectador pode estar, naquele momento, relaxado, após um dia de stress. Outro chegando atrasado, impulsivamente, tentando fugir da tristeza de sua vida. E um casal pode estar de mãos dadas e feliz. A percepção que a música criará em cada um deles será diferente, mas, de certa forma, será impossível que ela não os toque de alguma maneira.

Há um ano exerço o papel de crítico nesse espaço e esse trabalho difere-se razoavelmente de um simples gesto como gostar de uma produção e assim enchê-la de elogios e notas. É necessário parcimônia, racionalizar sobre essa arte também emocional para assim expressar bem sua opinião.

Um filme pode me trazer um punhado de emoções, ao mesmo tempo em que, com um olho técnico e racional, percebo que existem clichês mal amarrados, uma direção não muito precisa. Por isso, mais de uma vez, afirmei, em minhas críticas, que certos filmes são adorados por mim mas que, por questões óbvias, merecem uma nota pequena. É necessário separar o gosto do olhar crítico.

Misturá-lo gera uma espécie de fanatismo comum na era da internet. Conquista adeptos pela opinião levemente inflamada, cria-se pessoas que se auto denominam críticos, mas sem a capacidade, de fato, de analisar uma obra de arte. Dizer que tal produção é uma porcaria, não me diz absolutamente nada, exceto que você é um péssimo observador.

É necessário atenção e bons argumentos para compor seu texto e convencer seu leitor de que essa ou aquela produção, do seu humilde ponto de vista, é boa, ruim ou beira a genialidade. Isso não se conquista com advérbios agressivos e expressões populares - lê-se palavrões. Mas com paixão em admirar as obras e, sim, raciocínio para saber colher o que há de bom e o que há de mal. Mesmo que tal diretor seja o seu preferido. Se não, você é apenas um fanático endoidecido. Não um crítico que tenta apreciar a arte e conquistar outros apaixonados com suas palavras, dando boas ou más indicações.

É necessário lembrar que, ainda, tudo parte de sua opinião. Mas, ao menos se alguém subjulgar suas opiniões, ela estarão embasadas em bom argumentos que podem até gerar discordâncias, mas que, sem dúvida, serão respeitados.

De fato, não há formula nenhuma e nenhum manual para críticas cinematográficas, mas há uma boa frase de Tarantino que complementa e encerra bem essa discussão: “Quando as pessoas perguntam-me se andei numa escola de cinema, respondo-lhes que não. Digo-lhes que fui ao cinema.”. É eis a chave de tudo.

Alta Fidelidade, a coluna semanal do criador desse blog onde é possível falar abertamente sobre alguns temas sem que exija uma resenha para tal. Aqui pretende-se abordar todo o tipo de assunto cultural, seja ele sobre livros, filmes, dvds, cds e, nessa estréia, sobre a crítica. Fiquem ligados, todos os sábados uma nova coluna, exceto no primeiro sábado em que esse espaço é cedido para a coluna Preliminar que analisa filmes esperados pelo público.

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