quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Nip / Tuck, Segunda Temporada


ATENÇÃO: PARA MELHOR ANÁLISE DA TEMPORADA, ALGUMAS PARTES DO ENREDO SERÃO CONTADAS DURANTE O TEXTO (OS CONHECIDOS SPOILERS). PORTANTO PARA SUA SEGURANÇA, SE NÃO QUISER SABER NADA A RESPEITO, PARE DE LER O TEXTO AGORA. MAS RETORNE APÓS TER ASSISTIDO A TEMPORADA, POR FAVOR.


O vazio e as redenções de uma vida plástica.

Recebendo o aval do público e da crítica, Nip / Tuck retorna em sua segunda temporada com três episódios a mais que a anterior. Como é de se prever na maioria das séries que expandem sua cronologia, novos dramas são introduzidos nessa temporada que não perde seu despudor em chocar.

Mantendo a boa tradição de cada episódio centrar em um paciente em especial – que também leva o nome do episódio, a nova temporada foca-se, inicialmente, no aspecto humano das duas personagens centrais.

Tanto Christian Troy quanto Sean McNamara vivem crises existenciais de meia idade. Será a diferença nítida de suas personalidade – e de seu aspecto moral – que fará com que cada um resolva-a da melhor maneira possível.

Troy aprofunda-se como um denso personagem, dividido entre a casca mulherenga que transpassa e o coração mole e abandonado de alguém que sempre usou as pessoas ao seu redor para conseguir o que queria. Seu embate fundamental se dá em Wilbor, o pequeno garoto que, embora nem seja seu filho, é amado como um por Troy. É através do bebê que a personagem nota sua condição e tenta, quase que desesperadamente, mudar os aspectos de sua vida.

No outro ponto da parceria, Sean continua vivendo o seu falso idílio. Um casamento aparentemente perfeito que não lhe dá nenhum prazer. A situação piora quando um tique manual, resultado de pressão e stress, começa a atrapalha-lo em suas cirurgias.

A série dedica-se não só a ampliar as personagens centrais, como constrói muito bem novos elementos para outras personagens. A esposa de Sean, Julia, contrata uma espécie de terapeuta, chamada de treinadora da vida, que serve como uma amiga e acaba interagindo com seu filho Matt. A trama paralela acrescenta um pouco de tempero a história insossa de Julia e revela segredos obtusos de seu passado.

O destaque dado para a enfermeira Linda é uma importante trama que dá consistência a sua personagem – uma lésbica que deseja ter um filho – e aponta mais humanidade a Christian Troy – que apaixonado pela vontade da moça doa seu esperma para que ela crie seu filho, pois compreendeu a dádiva de ter um, por causa de Wilber.

A segunda temporada é marcada pela redenção de suas personagens. Todo o desarranjo criado no primeiro ano é levado ao extremo e embates definitivos surgem. Sean descobre que Troy é o verdadeiro pai biológico de Matt, gerando uma duas melhores cenas dessa temporada quando Sean entra no consultório e surra Troy e, momentos antes, briga com a esposa em casa dizendo o quanto ela sempre foi fraca, em uma cena densa por mostrar um lado agressivo de uma personagem que sempre tenta manter a calma.

Em meio a todo essa fúria, a dupla de cirurgiões lavam suas almas, abrindo seus corações e escancarando seus pecados. Não que, em seguida, não cometam outros. Basta relembrar da cena em que, na convenção de cirurgiões, ambos fazem sexo com uma prostituta, imaginando que a mesma é Julia, em uma simbologia agressiva e sexual de que, mesmo com as desventuras, as personagens são, ainda, parceiras e, pior, compartilham os mesmos vícios.

Outra boa trama desenvolve-se durante o segundo ano. A história do assassino Retalho, que estupra e agride mulheres e homens bonitos leva ao extremo a máxima de que a beleza é uma maldição. Reflete o oposto do trabalho que os médicos fazem de criar a plasticidade dos seres humanos conforme os seus desejos. O enredo é introduzido aos poucos na trama, ganha papel ativo e serve como gancho para a próxima temporada.

Em contraponto, aliviando um pouco a luxúria da série, o cirurgião Merrill Bobolit entra de novo em cena, agora arruinado, após ter matado um cachorro em uma cirurgia que não deveria realizar. Bobolit é tão patético, que acaba trazendo humor negro a trama com seu Bobotox. Um genérico do Botox feito para o médico que mais causa mal do que embeleza as mulheres. E caberá ao Dr. Troy tentar ajudar Bobolit de sua autodestruição.

A série mantém ainda seu estilo luxurioso e mordaz sobre a plasticidade da beleza. As cenas de cirurgias, realizadas entre diálogos e discussões, ainda causam certo enfado. Bem como algumas personagens que surgem em poucos episódios, mas que levantam o questionamento de até onde a beleza plástica pode ir para fazer alguém feliz e se, de fato, o faz.

Independente das questões mais profundas, o segundo ano da série é ainda melhor que o de sua estréia, é irresistível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário