segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A Semana em filmes (15 a 21 de Fevereiro)

Se Eu Fosse Você (dir. Daniel Filho)

Não é a história que surpreende em Se Eu Fosse Você. A troca de corpos em filmes de comédia não é assunto tão raro e já gerou bons filmes do gênero.
O fator inédito é que um filme desse tenha sido produzido no Brasil, com Glória Pires e Tony Ramos nos papéis principais, garantindo a boa performance nas atuações.
Porém, como todo filme de Daniel Filho, tem lá suas imperfeições. Ainda, infelizmente, é notável o desejo em ser americano no roteiro. Quando tudo está ocorrendo bem, as personagens soltam falas sobre viagens a Aspen, estudos na Europa, diálogos que não funcionam aqui e são, obviamente, importados de filmes americanos.
Mas a idéia da troca de casal funcionou de forma tão perfeita que o filme gerou uma continuação que estourou nas bilheterias e ainda está em cartaz e parece que já há indícios de que uma terceira parte esta a caminho.
É bom saber que filmes-pipoca também podem ser produzidos por aqui. Tirando um pouco a atenção dos cineastas por essa fixação em mostrar as desgraças e mazelas do país.




Os Desafinados (dir. Walter Lima Jr.)

Tentando realizar uma homenagem aos anos da Bossa Nova, Os Desafinados conta a história de um grupo fictício que embarca para Nova York, ao lado de um amigo cineasta, em busca do sucesso nas terras gringas.
Estrelado por um grande elenco, é uma pena confirmar que o filme não decola em momento algum. Sua duração é longa demais, seu enredo se subdivide em diversos dramas fazendo com que um bom filme sobre um grupo musical se torne uma desarranjada desarmonia.
Embora seja válida a procura brasileira em se produzir filmes com temáticas diversas, é uma pena quando algumas idéias - a maioria delas - são mal executadas, o que torna a produção um grande desperdício quando temos na tela dois ótimos atores de sua geração, Selton Mello e Rodrigo Santoro.
Faltou mesmo um pouco mais de ritmo e afinação para a trama.





Encarnação do Demônio (dir. José Mojica Marins)

Nem todos teriam a paciência que José Mojica Marins teve ao esperar quarenta anos para terminar sua história sobre sua criação máxima, o coveiro Zé do Caixão.
Era quase inacreditável quando notícias confirmavam que a produção tinha engrenado e que em breve um trailer seria divulgado. A espera, finalmente, valeria a pena. E sem sombra de dúvida Mojica nos trouxe um final espetacular para sua saga.
Quarenta anos depois de encarcerado, Zé do Caixão está solto, de volta as ruas. Anacrônico com os tempos atuais, nitidamente desolado com os rumos da sociedade, mas ainda obcecado em criar seu filho perfeito, para manter a continuidade de seu sangue.
E para encontrar a mulher superior, é necessário que ela não tenha medo. Um óbvio pretexto para Mojica apresentar o que sabe de melhor, engenhosas cenas de terror que considero muito mais macabras do que as de filmes americanos. Chega a impressionar o terror elevado de Mojica em cena.
Mostrando que esse hiato de quarenta anos não destruiu sua criatividade - muito menos sua maneira de produzir filmes - Encarnação do Demônio fecha da melhor maneira possível a saga de uma personagem icônica do Brasil.
O filme também possui grandes estrelas do cinema brasileiro, todas a favor de Mojica para que ele pudesse, finalmente, terminar de contar sua incrível história.





Última Parada 174 (dir. Bruno Barreto)

Bruno Barreto e Bráulio Mantovani, respectivamente diretor e roteirista de Última Parada 174, não entenderam a história do garoto Sandro, que terminou em um final trágico a bordo do ônibus 174 no Rio de Janeiro.
Ao espectador que assistiu ao espetacular documentário de José Padilha, focado na mesma história, Ônibus 174, tem-se a impressão de que a produção do filme não só transformou a história em uma narrativa superficial como, para manter a dramaticidade, mudou diversos fatos da própria vida do garoto.
Talvez o documentário seja tão denso que a comparação com filme seja até desleal. Mas é impossível não notar que no filme as personagens chegam quase a ficar caricatas, apenas dizendo palavrões e gírias populares quase o tempo todo, sem que sua narrativa explique o porque das ações que motivaram as personagens a tomarem rumos definitivos em suas vidas.
Além da idéia equivocada de contar a história de Sandro desde seu nascimento, fazendo com que a cena final, no ônibus, seja, não só curta, como sem impacto e completamente empalidecida.
Ao contrario do documentário de Padilha, onde compreendemos todo o drama vivido pelo garoto, Última Parada 174 não desperta nenhum tipo de emoção.
Talvez, palpite apenas, se o filme focasse sua ação apenas no ônibus, reproduzindo o que aconteceu naquelas horas agonizantes, geraria não só mais impacto como maior aproximação do público. Porém, do jeito que ficou, o filme é apenas mais um daqueles que escancaram a pobreza do Brasil de forma equivocada. Honestamente, prefiram o excelente documentário de José Padilha.




Força Policial (dir. Gavin O´Connor)

Alguns filmes policiais caem tão perfeitamente no senso comum que sua sinopse poderia muito bem ser um daqueles jogos de preencher lacunas, onde apenas adivinharíamos o nome das personagens.
Afinal, aonde já não vimos policias corruptos que cometem um crime até que um policial desligado da força volta à ativa para investigar o ocorrido e descobre que a sujeira é tão grande que chega, até mesmo, em seus familiares. Pois em um filme policial, sempre a família está envolvida e também trabalham para um esquadrão policial.
Do mesmo roteirista de Narc, Força Policial não possui nenhum atrativo especial. Nem mesmo a sempre competente participação de Edward Norton fazendo o papel do policial do bem, com sua voz baixa e arrastada e um passado traumático que quer esquecer, ajuda.
Embora seja notável uma melhora nos trinta minutos finais do filme, não seria esse final que salvaria uma trama sem graça.
É questionável quando um filme com dois atores famosos, como Norton e Collin Farrell, já está, até mesmo, lançando em dvd nos Estados Unidos e aqui ainda seja aguardado sua estréia no cinema. Definitivamente, um sinal de que algo está errado.




Amigos, Amigos, Mulheres a Parte (dir. Howard Deutch)

A profissão de Tank (Dave Cook) se assemelha com a de Will Smith no filme Hitch - Conselheiro amoroso mas de maneira oposta. Enquanto no filme de Smith, sua personagem dava conselhos para melhorar o relacionamento de um casal ou realizar a conquista de alguém, nesse filme, Tank é contratado por ex-namorados magoados, que ainda querem seu amor de volta, para dar o pior encontro da vida de suas ex-namoradas e assim fazê-las, por comparação, a repensar que não deviam ter deixado o bom e gentil homem dispensado de suas vidas.
Esse personagem bruto e interessante é o único frescor que Amigos, Amigos, Mulheres à Parte pode nos apresentar. Na trama, o casal interpretado por Jason Biggs e Kate Hudson se separam - pois a mocinha não se sente pronta para o compromisso, e Biggs, desesperado, contrata os serviços de homem rude do amigo Tank, que acaba se apaixonando pela mulher do melhor amigo.
É uma pena que uma boa atriz como Kate Hudson tenha se entregado, há muito tempo, as comédias românticas descartáveis. Repetindo sempre o mesmo papel após uma maravilhosa atuação no filme Quase Famosos de Cameron Crowe.
O ator Jason Biggs, para variar, além de aparecer pouco na trama, repete, também, o papel do homem bobão e inseguro de si que tenta fazer o melhor que pode, mas não consegue direito nem ser a si mesmo.
Em palavras tão rudes como a personagem de Tank, o filme é descartável e desnecessário.




O Vizinho (dir. Nei Labute)

O ator Samuel L. Jackson é um dos ícones que representam os atores bacanas de Hollywood. Possuidor de um grande carisma – e de uma expressão sempre irritada – suas produções alcançam o primeiro lugar na estréias nos Estados Unidos, permanecem na lista dos filmes mais vistos, pouco importando se o filme é uma boa produção.
Revisando a carreira de Jackson, contam-se nas mãos o filmes excepcionais estrelados pelo ator. Mas sua figura icônica é sempre lembrada pela fala característica, a ótima presença de cena mas que, infelizmente, concede seu tempo a diversos filmes duvidosos.
Em mais uma dessas produções, em O Vizinho, Jackson interpreta um policial preconceituoso com o novo casal que acaba de se mudar para seu condomínio. Começando a criar uma verdadeira guerra particular para que o casal sinta-se incomodado e mude-se do local.
A história mergulhada na bobagem do senso comum, com uma narrativa ruim, faz com que o filme não vá a lugar nenhum. Some a isso a direção de Neil Labute, responsável também pelo horrível Sacrifício de 2006, que temos mais uma ótima produção de Samuel L. Jackson que deve ser esquecida até que o mesmo estrele outro filme.




Segredos do Poder (dir. Mike Nichols)

O senador de cabelos grisalhos, bonachão e mulherengo interpretado por John Travolta não é mera coincidência. Baseado em um livro escrito anonimamente, Segredos do Poder relata os bastidores da campanha desse senador, que nada se assemelha ao ex-presidente Bill Clinton, rumo à Casa Branca.
Dirigido pelo excepcional Mike Nichols, e ainda indicado ao Oscar em duas categorias – pela atuação de Kathy Bates e melhor roteiro adaptado – a produção é um competente filme sobre política e os diversos meios escusos que estão ao redor dela.
Na produção, acompanhamos todo o jogo que envolve eleger um presidente, desde os elementos mais comuns, como visitas em escolas, como os mais perigosos. Esconder a verdade para que o candidato saia-se bem nas pesquisas e não saia no jornal devido a escândalos. Mais uma prova evidente de que esse ótimo filme de ficção passou bem perto da realidade.





Diário Dos Mortos (dir. George Romero)

O universo zumbi, com mortos-vivos urrando, caminhando lentamente a procura de carne humana, geram boas produção. O tema inesgotável, construindo uma alegoria dos tempos atuais, em que boa parte da sociedade é, na verdade, um subproduto descartável e não pensante, não só é visualmente aterrorizador como abre espaço para reflexões.
Visualmente narrado em primeira pessoa, com as personagens filmando e produzindo um documentário em tempo real, Diário dos Mortos conta o outro lado da mesma história. O relado daqueles que tentam desesperadamente sobreviver aos ataques da crescente população de zumbis.
O destaque curioso nesta produção é que assistimos um filme dentro de um filme. Logo no inicio, em uma narração em off, somos avisados de que os acontecimentos foram filmados, editados e efeitos e som especiais foram inseridos para causar medo ao telespectador. Portanto o que se encontra não é um relato cru da verdade, como visto em Cloverfield, mas um documentário diário autêntico editado por uma das personagens do próprio filme.
Algumas críticas apontaram o novo filme de Romero como um filme menor em relação aos outros de sua saga de mortos vivos. Relevante essa informação ou não, Diário dos Mortos continua sendo um excelente filme, melhor que alguns filmes do gênero e um George Romero autêntico. Repleto de cinismo, com uma linha de pensamento por trás da narrativa e o pessimismo já característico do lendário diretor.





Na Mira do Chefe (dir. Martin McDonagh)

Me expliquem a frase do cartaz nacional do filme, dizendo que Na Mira do Chefe é "uma comédia de matar, engraçada e muito original", pois, como algumas piadas, não consegui tirar nenhum riso dessa produção.
O que me leva a acreditar que a busca de motivos para dar atenção a filmes filmados fora dos Estados Unidos é tanta, que os holofotes acabam por iluminar filmes que não precisam de tanto destaque assim.
Muitos críticos gostaram de Na Mira do Chefe. Mas, confesso, não vi nada demais na história de dois assassinos que após um serviço vão para a pequena e tediosa cidade de Bruges, na Bélgica, para aguardarem novas ordens do chefe. Na falta do que fazer, as personagens trocam bons diálogos verborrágicos, nada além.
Mas o elenco merece destaque neste filme, principalmente Collin Farell que há muito amargava péssimas atuações e, finalmente, entrega um bom personagem, que concorreu e venceu ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical – ainda que o comédia indicado seja duvidoso.

2 comentários:

  1. Concordo com sua resenha de "Se eu fosse você 2" Algumas partes são descartáveis, como estudos na Europa. Mas, achpo que atores comp Tony Ramos roubam a cena por serem incríveis. Ele realmente é fenominal, pena ser reprimido a um personagem tão sem sal como em "Caminho das Índias" novela Global Clone do sucesso "O Clone".
    Tirando esse ADD, eu gostaria de mais uma vez te parabenizar pelas resenhas. Estão de um ótimo valor.

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  2. Observação: Me deu muita vontade de assistir "Diálogo dos Mortos", sua resenha realmente inspiram as pessoas a assistirem filmes interessantes e, de na maioria das vezes, creio eu, não se arrependem.
    Parabéns novamente.

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