Se eu dissesse ser fato às vezes citado, eu mentiria. A verdade é que tenho muito apreço por descrever o que entendo como literatura. Primeiro porque é mais seguro ter seu próprio manual, mostrar aos leitores seu ponto de vista sobre a produção literária. Segundo que também é mais fácil, já que assim sua teoria da composição corrobora com sua literatura.
O fato é que minha inspiração ainda é limitada. Tenho arroubos de idéias geniais e chego a executá-las de modo razoável, mas muito do que escrevo é também uma versão fictícia da minha vida, ou uma versão literária de um acontecimento banal que presenciei.
Às vezes lendo os escritores famosos me pergunto da onde surgiu motivo para tamanha inspiração. Contos fantásticos, contos urbanos partindo de um ponto simples de um homem comum em meio à metrópole. Rara às vezes sou assim.
Estou cansado de escrever como um todo. O ato diário de ser perceptivo ao mundo que nos cerca, mesmo que automaticamente, e prever uma história, também gera um desgaste. Por isso quero deixar as prosas de lado, apenas escrevendo pelo exercício.
Também tenho refletido a respeito disso, de um diário com minhas memórias e meus pensamentos. Tenho um amigo que mantém um diário há anos mas chego a me questionar, até que ponto devemos confiar nossas idéias a uma junção de narrativas pessoais? Nossas palavras não ficam com o tempo íntimas demais para serem catalogadas em um diário? Não há também certo medo de que algumas daquelas linhas possam ser lidas, sem querer, por alguém além do próprio autor?
Nunca gostei de exposição, embora nesses textos autorais, tudo que faço é simplificar ainda mais minha própria alma. Eu e meu eu lírico literário e seus desdobramentos. Nesse contexto questiono porque tamanha exposição? Qual é a valia de expor seus próprios pensamentos ao mundo, porque não fazer isso de forma reclusa em um diário oculto escrito a mão?
A vontade febril de um escritor em ser lido acaba por distorcer uma imagem reclusa. O que me lembra, por bobagens, a idéia do fuzilamento como sentença de morte. Normalmente quando há mais de um atirador, um deles usa - ou ao menos deveria - uma bala de festim. Possibilitando assim a dúvida em saber quem foi o autor dos tiros que matou a vítima. Esse benefício da dúvida é o que também me faz escrever em um lugar amplo.
Sei que minhas palavras são para ninguém, que prego em uma rua vazia de leitores. Mas a possibilidade de alguém, acidentalmente, talvez, ler minhas palavras me faz continuar a escrevê-las aqui. Assim, de alguma forma, sou também um homem dentro de uma caixa de vidro no centro da cidade, convidando quem quiser a assistir meu espetáculo comum de viver.
A poeta Hilda Hilst, que tenho conhecimento recente e grande apreço, disse em uma entrevista que não considera a profissão de escritor um ofício comum. O questionamento literário é sempre constante e concordando com a afirmação da poeta, não é curioso se perguntar que benefícios teriam minhas palavras em um mundo iletrado? Quantas pessoas não escrevem preciosidades expostas em paredes de concreto onde ninguém passará perto para lê-las?
O que mantém vários escritores de minha geração - creio que a maioria dos escritores em geral - é a gana de querer ser lido. Deixar sua mensagem em um livro que será devorado por quem queira, sem se tornar mais um livro em uma livraria cujos preços são exorbitantes. Mas nos tempos atuais não se diferencia mais o ato de escrever como forma literária do ato banal de apenas escrever, gerando anomalias bizarras como prostitutas que escrevem livros com a nítida idéia de ser literatura.
Hoje eu já desconfio de minha profissão, mas, vejam a ironia, é o único ofício que sei fazer. Não sei carpir, construir prédios, muito menos tirar xerox na esquina, e também não tenho desejos de aprender. Quero apenas prosseguir com o que sou capaz, e a literatura me satisfaz muitas vezes.
Assim prossigo com a via crucis literária, aguardando também novas idéias, produzindo exercícios aos poucos, um pouco distanciado de qualquer grande ou pequeno público. O exercício é também um grande material para novas idéias, novas formas de produzir sua literatura singular.
O que move um escritor como eu, é saber que a estabilidade da minha escrita nos tempos de hoje, pode ser a base de um futuro realmente sólido. Por isso continuo a escrever.
O fato é que minha inspiração ainda é limitada. Tenho arroubos de idéias geniais e chego a executá-las de modo razoável, mas muito do que escrevo é também uma versão fictícia da minha vida, ou uma versão literária de um acontecimento banal que presenciei.
Às vezes lendo os escritores famosos me pergunto da onde surgiu motivo para tamanha inspiração. Contos fantásticos, contos urbanos partindo de um ponto simples de um homem comum em meio à metrópole. Rara às vezes sou assim.
Estou cansado de escrever como um todo. O ato diário de ser perceptivo ao mundo que nos cerca, mesmo que automaticamente, e prever uma história, também gera um desgaste. Por isso quero deixar as prosas de lado, apenas escrevendo pelo exercício.
Também tenho refletido a respeito disso, de um diário com minhas memórias e meus pensamentos. Tenho um amigo que mantém um diário há anos mas chego a me questionar, até que ponto devemos confiar nossas idéias a uma junção de narrativas pessoais? Nossas palavras não ficam com o tempo íntimas demais para serem catalogadas em um diário? Não há também certo medo de que algumas daquelas linhas possam ser lidas, sem querer, por alguém além do próprio autor?
Nunca gostei de exposição, embora nesses textos autorais, tudo que faço é simplificar ainda mais minha própria alma. Eu e meu eu lírico literário e seus desdobramentos. Nesse contexto questiono porque tamanha exposição? Qual é a valia de expor seus próprios pensamentos ao mundo, porque não fazer isso de forma reclusa em um diário oculto escrito a mão?
A vontade febril de um escritor em ser lido acaba por distorcer uma imagem reclusa. O que me lembra, por bobagens, a idéia do fuzilamento como sentença de morte. Normalmente quando há mais de um atirador, um deles usa - ou ao menos deveria - uma bala de festim. Possibilitando assim a dúvida em saber quem foi o autor dos tiros que matou a vítima. Esse benefício da dúvida é o que também me faz escrever em um lugar amplo.
Sei que minhas palavras são para ninguém, que prego em uma rua vazia de leitores. Mas a possibilidade de alguém, acidentalmente, talvez, ler minhas palavras me faz continuar a escrevê-las aqui. Assim, de alguma forma, sou também um homem dentro de uma caixa de vidro no centro da cidade, convidando quem quiser a assistir meu espetáculo comum de viver.
A poeta Hilda Hilst, que tenho conhecimento recente e grande apreço, disse em uma entrevista que não considera a profissão de escritor um ofício comum. O questionamento literário é sempre constante e concordando com a afirmação da poeta, não é curioso se perguntar que benefícios teriam minhas palavras em um mundo iletrado? Quantas pessoas não escrevem preciosidades expostas em paredes de concreto onde ninguém passará perto para lê-las?
O que mantém vários escritores de minha geração - creio que a maioria dos escritores em geral - é a gana de querer ser lido. Deixar sua mensagem em um livro que será devorado por quem queira, sem se tornar mais um livro em uma livraria cujos preços são exorbitantes. Mas nos tempos atuais não se diferencia mais o ato de escrever como forma literária do ato banal de apenas escrever, gerando anomalias bizarras como prostitutas que escrevem livros com a nítida idéia de ser literatura.
Hoje eu já desconfio de minha profissão, mas, vejam a ironia, é o único ofício que sei fazer. Não sei carpir, construir prédios, muito menos tirar xerox na esquina, e também não tenho desejos de aprender. Quero apenas prosseguir com o que sou capaz, e a literatura me satisfaz muitas vezes.
Assim prossigo com a via crucis literária, aguardando também novas idéias, produzindo exercícios aos poucos, um pouco distanciado de qualquer grande ou pequeno público. O exercício é também um grande material para novas idéias, novas formas de produzir sua literatura singular.
O que move um escritor como eu, é saber que a estabilidade da minha escrita nos tempos de hoje, pode ser a base de um futuro realmente sólido. Por isso continuo a escrever.
Bauru, Sábado, 5 de Janeiro de 2008.