Uma frase atribuída a Antônio Conselheiro - líder espiritual da Guerra de Canudos - dizia que "um dia o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão". Uma profecia sertaneja que, na verdade, é anterior a figura histórica do conselheiro.
A lei da conversão de massas do químico Lavosier foi capaz de comprovar que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
E nessa força estática transformadora do mar - imenso e calmo ou sufocante a outros - em sertão - que não deixo de imaginar como potência aterradora de dor, sofrimento e cansaço - que foco minha reflexão.
O tempo, no qual não faltam palavras para representá-lo. "O tempo que transforma o amor em quase nada" (Detalhes, Roberto Carlos). Ou em futuros amantes que para Chico Buarque se "amarão com o amor que um dia eu deixei pra você" (Futuros Amantes, Chico Buarque).
Heráclito, filósofo pré-socrático, diz que tudo flui, nada permanece o mesmo e não podemos entrar duas vezes na mesma corrente de um rio. E as palavras desses sábios me arrebatam de tal forma, que me silencio para compreende-las. Entender sua violência, na busca pelo motivo de tais palavras me trazerem angústia.
Na imagem composta pela profecia sertaneja, vejo os mares que outrora naveguei. Saboreando na memória o apreço de nadar em mares desconhecidos, com a sensação invisível aos olhos de que ele secava-se pouco a pouco. Sei que um dia outro homem atravessará esse caminho e encontrará um solo duro, cravejado pelo sol. Ou ainda arrisco-me a dizer que sentirá nos pés, nas ranhuras do solo, um leve fio d´agua perene.
Somos incapazes de ver a transformação temporal por estarmos com os pés fixos na terra. Nunca afastados de nós mesmos - visto a impossibilidade de tal ato - para nos observarmos com atenção. E cabe aqui repetir palavras de poetas melhores, Bob Dylan já se perguntou o mesmo certa vez. Afinal, quantas estradas um homem deve percorrer antes que você o chame de homem?
E se esse homem decide percorrer o mundo e, ao voltar ao seu país, não mais o encontra. E se vê apenas em um deserto que sopra um triste som aos seus ouvidos, lembrando-se do rio que outrora lhe banhou. Não havendo mais frutos proibidos para serem seu alimento.
A nós cabe apenas o antes e o depois do disparar do gatilho, nunca o instante, invisível as nossas percepções. Um ato cruel, sei disso.
Estariamos demasiado perto de tantas coisas ao ponto de não vê-las? Dizem que certas obras tem de ser apreciadas a distância, compreendidas não só em seus detalhes, mas em seu todo. E nós, como fazemos para nos vermos sem precisar de um reflexo?
Sem nos vermos com sangue nas mãos, sem saber o que fizemos. Não por falta de lucidez, mas pelo fato inevitável de que nunca podemos ver o moldar dessas transformações. E quando podemos notar, aconteceram.
A lei da conversão de massas do químico Lavosier foi capaz de comprovar que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
E nessa força estática transformadora do mar - imenso e calmo ou sufocante a outros - em sertão - que não deixo de imaginar como potência aterradora de dor, sofrimento e cansaço - que foco minha reflexão.
O tempo, no qual não faltam palavras para representá-lo. "O tempo que transforma o amor em quase nada" (Detalhes, Roberto Carlos). Ou em futuros amantes que para Chico Buarque se "amarão com o amor que um dia eu deixei pra você" (Futuros Amantes, Chico Buarque).
Heráclito, filósofo pré-socrático, diz que tudo flui, nada permanece o mesmo e não podemos entrar duas vezes na mesma corrente de um rio. E as palavras desses sábios me arrebatam de tal forma, que me silencio para compreende-las. Entender sua violência, na busca pelo motivo de tais palavras me trazerem angústia.
Na imagem composta pela profecia sertaneja, vejo os mares que outrora naveguei. Saboreando na memória o apreço de nadar em mares desconhecidos, com a sensação invisível aos olhos de que ele secava-se pouco a pouco. Sei que um dia outro homem atravessará esse caminho e encontrará um solo duro, cravejado pelo sol. Ou ainda arrisco-me a dizer que sentirá nos pés, nas ranhuras do solo, um leve fio d´agua perene.
Somos incapazes de ver a transformação temporal por estarmos com os pés fixos na terra. Nunca afastados de nós mesmos - visto a impossibilidade de tal ato - para nos observarmos com atenção. E cabe aqui repetir palavras de poetas melhores, Bob Dylan já se perguntou o mesmo certa vez. Afinal, quantas estradas um homem deve percorrer antes que você o chame de homem?
E se esse homem decide percorrer o mundo e, ao voltar ao seu país, não mais o encontra. E se vê apenas em um deserto que sopra um triste som aos seus ouvidos, lembrando-se do rio que outrora lhe banhou. Não havendo mais frutos proibidos para serem seu alimento.
A nós cabe apenas o antes e o depois do disparar do gatilho, nunca o instante, invisível as nossas percepções. Um ato cruel, sei disso.
Estariamos demasiado perto de tantas coisas ao ponto de não vê-las? Dizem que certas obras tem de ser apreciadas a distância, compreendidas não só em seus detalhes, mas em seu todo. E nós, como fazemos para nos vermos sem precisar de um reflexo?
Sem nos vermos com sangue nas mãos, sem saber o que fizemos. Não por falta de lucidez, mas pelo fato inevitável de que nunca podemos ver o moldar dessas transformações. E quando podemos notar, aconteceram.
Sábado, 15 de Setembro de 2007